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sexta-feira, 19 de abril de 2013

O Velho Chico está morrendo e Chesf anuncia redução da vasão de 1.300m³ para 1.100m³ por segundo


É gravíssima a situação em que se encontra o rio São Francisco, conhecido carinhosamente pelos moradores ribeirinhos como “Velho Chico”. O “rio da integração nacional”, como também é conhecido, ao longo dos anos vem sendo agredido barbaramente pelo homem civilizado, porém quem é considerado o inimigo mortal mais impiedoso é a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF). A construção de barragens para garantir a geração de energia elétrica para milhares de municípios é a principal causa do grande desastre ambiental sofrido pelo rio que banha os estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.

Por motivo desta ambição mercantilista, uma área drenada de aproximadamente 641.000 km² está ameaçada de desaparecer nas próximas três décadas, segundo pesquisadores. São exatamente cinco usinas hidrelétricas construídas ao longo do rio: Três Marias (Minas Gerais), Sobradinho (Bahia), Itaparica (Pernambuco), Paulo Afonso (Bahia), Xingó (Alagoas/Sergipe) e ainda existe a pretensão de a CHESF construir no município de Pão de Açúcar, no estado de Alagoas, a tão polêmica Barragem Traíras, o que será o tiro de misericórdia no agonizante e combalido rio que um dia, devido a sua imensidão e vigor, chegou a ser comparado ao mar pelos índios que habitavam às margens do Opara (tão grande quanto o mar). A devastadora agressão ambiental é tão impiedosa que em menos de 200 anos já foram destruídas 96% das matas ciliares, isto é, só restam agora 4% da vegetação que existia, segundo os pesquisadores.

O rio São Francisco possui dois estirões navegáveis: o médio, com cerca de 1.371 quilômetros de extensão, entre Pirapora (MG) e Juazeiro (BA) e Petrolina(PE) e o baixo, com 208 quilômetros, entre Piranhas (AL) e a foz, no Oceano Atlântico, porém nos próximos anos estes trechos navegáveis podem ser considerados coisa do passado  porque atualmente o grande assoreamento está impedindo as embarcações de  fazerem trajetos hidroviários que antes eram realizados facilmente. Um exemplo dessa preocupante situação são as balsas que fazem as travessias Pão de Açúcar/Niterói e vice-versa.  Para as embarcações não ficarem encalhada nos bancos de areia ao longo do rio, elas tiveram que mudar o trajeto, gastando agora mais tempo para perfazerem suas viagens.


Caminhões que transportam botijões de gás butano e outras cargas pesadas estão  enfrentando dificuldades para atravessarem na balsa Niterói/Pão de Açúcar, em razão de o rio estar com o leito muito raso. Se os caminhões deixarem de atravessar na balsa e tiverem que atravessar pela ponte Propriá/Colégio, não tenho dúvida que o preço do botijão de gás ficará mais caro, pois o consumo de combustível será bem maior em razão de ficar também maior a quilometragem percorrida para chegar a Pão de Açúcar”, disse o empresário Marcos André.

E para agravar mais o problema, no último dia 11, a Superintendência de Operação e Contrato de Transmissão de Energia (SOC), enviou para as prefeituras ribeirinhas e outros órgãos interessados, o FAX-SOC-009/2013, assinado pelo assessor Nivaldo Nogueira Burgos, informando que em caráter emergencial haverá redução da vazão em todo o vale à jasante das barragens de Sobradinho e Xingó.

Segundo, ainda, este documento, o armazenamento atual do Reservatório de Sobradinho é de 40,09%, isto é, a quantidade atual de água é menos da metade da sua capacidade, o que representa uma ameaça de colapso na produção de energia elétrica, obrigando a CHESF fazer a complementação da geração hidráulica através da transferência de energia de outras regiões e o acionamento de usinas térmicas situadas no Nordeste, para atender às necessidades de energia elétrica da região e requisitos de usos múltiplos da água na Bacia do rio São Francisco ao longo de 2013. A falta de chuva é um dos motivos principais para esta tomada de decisão da CHESF.

A redução da defluência mínima de Sobradinho e Xingó de 1.300m³/s para 1.100m³/s foi decidida em reunião realizada no dia 21 de março deste ano, da qual participaram órgãos importantes como a ANA, MME, ANEEL, ONS, CHESF, IBAMA, ANTAQ, CBHSF, dentre outros órgãos e entidades. E no último dia 1º de abril, o IBAMA concedeu a Autorização Especial nº 01/2013, autorizando a redução da vazão, cuja decisão foi apoiada pela Agência Nacional de Águas (ANA) por meio da Resolução nº 443/2013.

A vida do rio está cada vez mais ameaçada e para os moradores ribeirinhos a grande culpada é a Companhia Hidrelétrica do São Francisco. Na opinião do engenheiro civil e pecuarista ribeirinho José Antonio Gonçalves, é um crime o que a CHESF vem fazendo com o rio São Francisco. “Sei que para eles água é sinônimo de energia, pois esquecem que as pessoas que moram às margens do rio também precisam e dependem da água do Velho Chico”, disse o pecuarista.

Segundo, ainda, o engenheiro José Antonio Gonçalves, com a construção dessas barragens a CHESF causou um prejuízo incalculável ao Velho Chico e às populações ribeirinhas, pois foi a partir dessas construções que a grande produção de arroz desapareceu, surgiu o assoreamento do rio e as espécies de peixes desapareceram. “antigamente quando o rio enchia, tinha peixe em abundância, a plantação de arroz era garantida e o desassoreamento natural do leito do Velho Chico acontecia em razão das fortes correntezas. Hoje só estamos vendo um grande rastro de destruição causado pela CHESF. Esta Companhia tem uma dívida enorme para com as populações que margeiam o rio, pois deixou muita gente trabalhadora passando necessidade”, finalizou o engenheiro.

Três grandes sinais anunciam a morte inexorável do Velho Chico. Seguindo o curso natural do rio, destacamos: a proliferação de algas no fundo do rio, em Pão de Açúcar, aumentando, assim, a quantidade carbono e a diminuição de oxigênio na água, fator crucial para as poucas espécies ainda existentes. O segundo sinal são os bancos de areia emergidos sob a ponte da integração Propriá/Porto Real do Colégio, suficientes para uma pessoa atravessar a pés enxutos de uma cidade para a outra.

Quando foi inaugurada, em dezembro de 1972, pelo então Ministro dos Transportes, Mário Andreazza, toda a estrutura desta ponte encontrava-se submersa numa profundidade bastante considerável, onde jamais se imaginava o quadro atual. E o terceiro é o desaparecimento do Povoado Cabeço, no município de Brejo Grande, estado de Sergipe.  O povoado chegou a ter 400 moradores e por causa da erosão marinha eles tiveram que ser transferidos, sendo que as últimas famílias há quatorze anos foram levadas para um assentamento. Na foz as marés empurram suas águas rio acima porque o Velho Chico perdeu a sua força. E por causa da invasão das marés muitas espécies antes só existentes no mar agora são encontradas na águas do rio, principalmente na região do Baixo São Francisco, como é o caso do siri, agulhinha, anchova, mexilhão e outras.   

Quem ama o rio São Francisco e dele tirou durante muito tempo o seu sustento não esconde a emoção ao falar da grande fartura que o rio representava. O sentimento sanfranciscano é tão forte que chega a provocar lágrimas de tristeza e de saudade de um tempo que ficou para trás e que jamais será resgatado. Um exemplo de amor pelo Velho Chico é a anciã Valda dos Santos, hoje com 80 anos de idade, ex-plantadeira de arroz e ex-lavadeira de roupa. Ao dar um depoimento sobre os extintos batalhões de lagoa, ela chora copiosamente com o mesmo sentimento de quem perdeu um ente querido pertencente a sua família. “Sinto muita saudade dos tempos das enchentes do rio e das lagoas cheias de peixe e de arroz. Nesse tempo os pobres não passavam fome”, disse a anciã.Por Helio Fialho/Minuto Sertão

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