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sábado, 15 de junho de 2013

Em Floresta-PE: Neco de Pautilia, um dos últimos combatentes de Lampião


Manoel Cavalcanti de Souza, sertanejo de Floresta, com 100 anos em 21 de dezembro. Casado com Maria Ribeiro dos Anjos; ao lado dos 14 filhos (tiveram 15), 52 netos, 44 bisnetos e um tataraneto, festejou com tudo a que tem direito: bolo, guaraná e muita alegria. A história de vida de Manoel poderia ser igual a tantas outras de nordestinos de sua geração, se não fosse um diferencial: Neco de Pautília é ex-combatente de Lampião e permanece lúcido para contar histórias desse tempo que ele não quer esquecer.
Neco costuma dizer de maneira paradoxal que, se o tempo retroagisse, ele não teria ingressado nas volantes, a polícia da época. “Afinal, Lampião nunca me fez mal. Era um homem bom. Ruim era a polícia que açoitava os coiteiros.” Antes de ingressar nas volantes, foi almocreve (espécie de vendedor ambulante) no Sertão, para esquecer um amor que as famílias não queriam.


Veio então a Revolução de 30 (movimento armado que facilitou a chegada de Getúlio Vargas ao poder) e os nazarenos (moradores do distrito de Nazaré, Floresta) não participaram. Neco resolveu juntar-se ao grupo de conterrâneos para formar uma das frentes de combate a Virgolino Ferreira, estimuladas pelo governo.

O grupo seguiu em direção ao Raso da Catarina (Bahia). Cada um levava no bornal farinha, sal e rapadura. Nas mãos, um rifle como se fosse o “sentimento do mundo.” Entretanto, o objetivo maior era ganhar dinheiro. O então jovem Neco, aos 19 anos, partiu para o desconhecido fascinante e ao mesmo tempo perigoso. Foram três dias de caminhada comendo mal, sem dormir e o pior era a expectativa de a qualquer momento deparar-se com o bando de cangaceiros. E foi o que aconteceu. Veio então o temido tiroteio, que resultou em vários feridos de ambos os lados. Não dava para recuar.

A partir daí, Neco enfrentou mais quatro combates, viu companheiros e cangaceiros morrerem de sucesso (morrer em combate), entre Pernambuco e Bahia. Conheceu Virgolino e não teve medo.
Mas aquela vida de incertezas, enfrentando chuva, sol, sede, calor e frio nas caatingas, não era a que Neco pediu. Resolveu abandonar as volantes e sem receber o dinheiro prometido, 2 contos. Levou apenas 500 mil réis mais a passagem de volta.

Deixando a vida militar e de volta ao aconchego, Neco foi barbeiro, alfaiate, sapateiro, até tornar-se funcionário público da Suvale, hoje Codevasf.

Aposentado, hoje leva a vida remoendo o passado ao lado de sua grande paixão: Mariquinha, que conheceu aos 13 anos de idade numa escola da zona rural de Floresta. Antes do primeiro encontro, Neco leu o nome dela escrito no quadro de uma sala de aula – Maria Ribeiro dos Anjos. Achou bonito aquele nome e escreveu por cima o seu com uma bala de rifle. Pronto! Os destinos estavam selados. Casou com Mariquinha um ano depois. Hoje o casal é só alegria diante da prole invejável de 110 descendentes. Como nos contos de fadas, Neco e Mariquinha são felizes há 75 anos.

Blog: O Povo com a Notícia
Fonte: JC