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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

EMPRESÁRIA MORRE APÓS CIRURGIA DE REDUÇÃO DE ESTÔMAGO

A busca por um padrão de beleza levou Fernanda Nóbrega, 26 anos, a uma mesa de cirurgia. Uma complicação no pós-operatório tirou-lhe a vida. Empresária, mãe de duas crianças, de 3 e 4 anos, casada, Fernanda decidiu ser magra há cerca de dois meses, na mesma época em que lançou uma marca de roupas e abriu uma loja. Os negócios na área de moda, pensou, jamais dariam certo se comandados por uma pessoa como ela, considerada acima do peso. Diante dos 80 quilos distribuídos em 1,62 m, Fernanda não optou pelo regime. Muito pelo contrário. Em 60 dias, ganhou mais dez quilos e partiu para o caminho que entendeu ser mais rápido: a cirurgia de redução de estômago. Faleceu no sábado. No último domingo, foi sepultada. Após sua morte, a família fala em uma “indústria da cirurgia bariátrica no Recife”.

Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) apontam que de cada 100 pacientes operados no mundo, 13 sofrem algum tipo de complicação, inclusive com óbito. Os familiares de Fernanda bem que tentaram mudar a decisão dela. Achavam que a operação seria uma intervenção radical e desnecessária, já que ela não tinha obesidade mórbida ou outras doenças ligadas ao sobrepeso. “Minha irmã era muito vaidosa, era linda. Sempre foi um pouco gordinha e a gente até chamava ela de fofinha. 

Depois dos filhos, ganhou mais peso, mas com a abertura da loja, passou a achar que estava com o corpo fora dos padrões. De dois meses para cá, começou a comer demais. Disse que era para ganhar peso para fazer a cirurgia. Achamos que ela foi induzida pelo médico a engordar”, comentou Andréa Nóbrega, única irmã de Fernanda. A pedido da família, o nome do médico e do hospital serão mantidos em sigilo. Os parentes pretendem procurar a Justiça.

Com um Índice de Massa Corpórea (IMC) em torno de 30 kg/m e sem problemas de saúde relacionados à obesidade, como garante a família, Fernanda jamais poderia fazer a cirurgia. Por isso teria engordado. Esse é o nó que os parentes pretendem desatar. “Ela procurou especialistas sérios exigidos pelo plano para conseguir laudos que possibilitassem a cirurgia, mas todos disseram não a ela, pois achavam que ela poderia perder peso de outra forma. Só que depois ela conseguiu os laudos que precisava com um médico indicado pelo cirurgião”, disse o marido de Fernanda, Higor Cayo dos Anjos, 19. Um dos laudos seria de um endocrinologista e apontava uma tentativa de regime sem sucesso por dois longos anos, sendo mentira.

Fernanda foi operada no último dia 29 e depois de dois dias recebeu alta. Ao longo da madrugada, passou mal, vomitando muito em casa, e voltou para o hospital, onde precisou ser novamente operada. Segundo a família, teria sido diagnosticada com obstrução no intestino. Dois dias depois da segunda intervenção, morreu. Queixava-se de falta de ar. “O médico chegou a dizer que iria chamar o psicólogo porque ela estava ansiosa”, disse o marido. O atestado de óbito  apontou como causa da morte embolia pulmonar. O laudo do IML não ficou pronto.

Entrevista >>  Álvaro Ferraz, cirurgião
“É cedo para dizer se houve erro”
O médico cirurgião Álvaro Ferraz é um dos especialistas em Pernambuco que tem o nome listado no site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. Para estar nos quadros da entidade, é preciso ter, no mínimo, 100 cirurgias do tipo, com comprovação de bons resultados. Segundo Ferraz, ainda é cedo para apontar se houve falha médica no procedimento que terminou com a morte de Fernanda Nóbrega. Ele explica que, como qualquer outra cirurgia, a de redução de estômago também tem riscos, principalmente de trombose, sangramento e infecção.

O senhor não conheceu a paciente, mas, a partir do peso e da altura dela, é possível dizer se Fernanda poderia ser submetida à intervenção?
As indicações para essa cirurgia são claras. O paciente deve ter IMC igual ou acima de 35 kg/m aliado a comorbidades ou IMC igual ou maior que 40 kg/m independentemente de haver comorbidades. Isso acontece porque estatisticamente está comprovado que após os 35 kg/m as chances de perder quilos e manter a forma com exercícios, remédio ou regime são de apenas 1%. Além disso, as comorbidades vão aparecer, inclusive algumas que os planos de saúde não reconhecem, como problemas no joelho, coluna e gordura no fígado.

Segundo a família da paciente, o cirurgião teria incentivado ela a ganhar quilos para fazer a cirurgia. Isso realmente acontece?
Não posso afirmar isso. É difícil para o cirurgião perceber se a pessoa engordou com essa intenção quando ela chega ao consultório. Todos dizem que lutam contra a balança há muito tempo. Por isso pedimos os exames ao cardiologista e ao endocrinologista, por exemplo. Trata-se de uma cirurgia de grande porte que não podemos subestimar. Além disso, os planos colocam auditoria para investigar se está tudo dentro dos trâmites legais. Não acredito em esquema. O que existe são equipes de especialistas que trabalham com o cirurgião, que tem um lado bom, pois são pessoas de nossa confiança. Mas eles não atendem todos os planos e por isso as pessoas não são obrigadas a se consultar com eles.

O senhor acredita que Fernanda pode ter sido vítima de erro médico durante o procedimento cirúrgico?
Se ela passou por uma segunda cirurgia, acredito que houve um problema cirúrgico, mas isso não significa dizer que houve erro médico. Pode ter havido complicação ligada à própria paciente.

Como o paciente pode saber se está nas mãos de um médico eficiente?
Além de observar se ele é ligado à Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, é importante comparar os preços praticados. Há profissionais que praticam preços abaixo do mercado. 

Blog: O Povo com a Notícia
Fonte: Marcionila Teixeira - Diário de Pernambuco