O problema do governo tem nome e
sobrenome. Alguns aliados do Planalto o chamam de Aloizio Mercadante. Outros o
tratam por Pepe Vargas. Se estivessem certos, a solução seria simples.
Bastariam dois golpes de esferográfica. Mas estão enganados. Chama-se Dilma
Rousseff o problema do governo. Nunca um governante começara sua gestão tão por
baixo. E as pessoas se perguntam sobre o que está havendo, afinal, com a Dilma,
que não reage.
Hoje,
a estratégia de Dilma é clara como a gema. Resume-se a três lances: 1) para não
potencializar seu isolamento político, engole todos os sapos que Renan
Calheiros e Eduardo Cunha conseguem lhe servir. 2) para evitar
o aprofundamento da crise econômica que herdou de si mesma, tolera Joaquim
Levy, o ministro da Fazenda que as circunstâncias lhe enfiaram goela abaixo. 3) para
disfarçar seu déficit de iniciativa, reúne-se regularmente com Lula, o
ventríloquo que regula as doses de cinismo que lhe escorrem pelos lábios.
Dilma
esteve com Lula na noite de terça-feira, em Brasília. Ouviu basicamente três
conselhos: faça política, faça política e faça política. Em vez de ceder às
pressões pela entrega do escalpo dos “articuladores'' Aloizio Mercadante (Casa
Civil) e Pepe Vargas (Relações Institucionais), Dilma optou por adicionar mais
três cabeças ao seu núcleo de (des)coordenação política: os ministros Gilberto
Kassab (Cidades) Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia) e Eliseu Padilha (Aviação
Civil).
Com
esses ajustes, a coordenação política do governo Dilma ficará muito parecida
com a das gestões de Lula. Com uma diferença: hoje, há um excesso de cabeças e
carência de miolos. Ontem, havia a mesma carência, mas com uma cabeça só.
Nas
últimas 48 horas, para livrar-se da humilhação de ver derrubado no Congresso o
veto que apôs à proposta de reajustar em 6,5% a tabela do Imposto de Renda,
Dilma deu ouvidos a Lula. Primeiro, peemedebizou-se, redescobrindo o vice
Michel Temer, que vinha tratando como versa. Com a ajuda de Temer, Dilma
promoveu uma engenharia política.
Abre
parágrafo: no Brasil de hoje, “engenharia política” é enfemismo para acerto com
o Renan. Fecha parênteses. Ainda assim, entregando os aneis para perder poucos
dedos, o Planalto prevaleceu raspando na trave. O veto presidencial foi mantido com uma diferença de escassos 18 votos.
Doravante,
será sempre assim: para aprovar o que deseja no Legislativo, essa Dilma
debilitada terá de ajoelhar no milho. Ela já prepara os meniscos para a tortura
que será a negociação das medidas provisórias que restringem o acesso dos
trabalhadores a benefícios trabalhistas e previdenciários.
Se
depender dos seus aliados, bastará a Dilma permanecer ajoelhada para ser
considerada uma gestora de grande altivez. E o segundo governo da
ex-supergerente, nunca é demasiado recordar, tem apenas 71 dias de vida. (Por Josias de Souza)
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