O segredo para quem deseja
acompanhar o noticiário político é manter sempre à mão, como um comprimido de
Isordil, uma dose de ceticismo. Ninguém está livre do risco de sofrer um
infarto. Ou de sentir as dores da decepção de descobrir que apoiou o Lula sem saber
que estava apoiando os afilhados de Fernando Collor na Petrobras e os negócios
do consultor José Dirceu. Um cético jamais se deixará surpreender pelo absurdo.
Como a notícia de que o petismo deseja fazer de Lula um ministro de Dilma.
Alega-se
que, em tempos de guerra contra o impeachment, Lula na Esplanada seria a
garantia de que não faltará comando à infantaria do governo. Lorota. Além de
realçar o raquitismo político de Dilma, o argumento ofende a inteligência do
brasileiro. Ninguém ignora que Lula já é o poder de fato em Brasília. Em
verdade, deseja-se retirá-lo do raio de ação do doutor Sérgio Moro. Ministro,
Lula passaria a dispor de foro privilegiado. E o juiz da Lava Jato não poderia
mandar prendê-lo.
A
esse ponto chegou o PT: sitiado por delatores, o partido vive a neurose do que
está por vir. E teme que seu grande líder, estalando de autoridade moral, vá
fazer companhia atrás das grades ao “dinheirista” José Dirceu e ao “pixuleco”
João Vaccari Neto. Deve-se o pânico às interrogações que boiam na atmosfera.
Que revelações fará Renato Duque em sua delação? Marcelo Odebrecht abrirá o
bico? O silêncio de Leo ‘OAS’ Pinheiro resistirá à primeira sentença
condenatória?
No
final de fevereiro, Lula estrelou um ato “em defesa da Petrobras”, no Rio de
Janeiro. Ao discursar (veja trechos no vídeo veiculado no rodapé), insinuou que
a estatal petroleira virou escândalo pelas mãos de uma “elite que não se
conforma com a ascensão dos mais pobres.” Pintou-se para o confronto: “Eu quero
paz e democracia, mas se eles querem guerra, eu sei lutar também.''
Nesse
dia, Lula prometera cruzar o país em defesa da Petrobras. Mas não tem viajado.
O programa de milhagem da Air Odebrecht micou. Ele aconselhara Dilma a
“levantar a cabeça”. Chegara mesmo a apresentar-se como exemplo: “Sou filho de
uma mulher analfabeta, de um pai analfabeto. E o mais importante legado que
minha mãe deixou foi o direito de eu andar de cabeça erguida. E ninguém vai
fazer eu baixar a cabeça neste país. Honestidade não é mérito, é obrigação.”
É
sempre reconfortante saber que Lula, avalista das nomeações dos petrogatunosque
pilharam a Petrobras, continua sendo a pessoa mais honesta que ele conhece.
Nessa condição, não precisa se esconder do juiz Moro numa trincheira
ministerial. Sua nomeação para o ministério corresponderia ao lançamento de um
prorama novo: o ‘Bolsa Habeas Corpus’. Coisa nunca antes vista na história
desse país. Seria quase tão humilhante quanto o xilindró. (Via: Josias de Souza)
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