Num instante em que Dilma
Rousseff começa a levar seus pertences do Alvorada para o apartamento de Porto
Alegre, Lula já não fala em “correr o país” para denunciar o “golpe”. Hoje, a
mais aguda preocupação do pajé do PT, seu mais exasperante problema é Sérgio
Moro. Lula vive esperando que o juiz da Lava Jato o lace e o recolha à
“República de Curitiba”.
A
morofobia de Lula levou sua defesa a encenar uma esperteza. Atravessou no
caminho do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, uma
liminar tóxica. Pedia-se na peça que o Supremo retirasse novamente das mãos de
Moro os grampos telefônicos que desnudaram conversas vadias de Lula com
políticos e autoridades de Brasília. A Corte está em férias. Cabe a Lewandowski
responder aos pedidos de Liminar durante o plantão. Nesta segunda-feira (18),
ele decidiu não decidir.
O
ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo, já havia despachado
sobre o tema antes do início das férias. Em março, Teori determinara a Moro que
enviasse para o STF toda a investigação envolvendo Lula. Mais tarde, em 13 de
junho, Teori anulou o grampo que captara uma conversa de Lula com Dilma numa
hora em que o próprio Moro já havia determinado o fim das interceptações. No
mesmo despacho, Teori devolveu para Curitiba os outros áudios e os processos.
Na
petição submetida ao crivo de Lewandowski, os defensores de Lula questionaram novamente
o fato de Moro ter divulgado diálogos telefônicos de Lula com autoridades que
tinham foro privilegiado na época dos grampos. Alega-se que só o Supremo
poderia levantar o sigilo dessas conversas. Nesse diapasão, Moro teria usurpado
a competência da Suprema Corte. O que resultaria na anulação dos grampos.
Na
prática, o que Lula desejava era fugir da caneta de Moro: “Mostra-se de rigor a
concessão da medida liminar para que este Supremo Tribunal Federal avoque,
novamente, todos os procedimentos conexos suspendendo-se, por consequência, o
curso de tais procedimentos relacionados, bem como de quaisquer outros munidos
com o conteúdo das interceptações em tela'', anota a petição.
Lewandowski
decidiu: 1) devem ser
separados de outras gravações os grampos com conversas entre Lula e autoridades
com foro especial, que só podem ser investigadas com autorização do STF. 2) as gravações
permanecem sob os cuidados de Sérgio Moro. 3) a petição de Lula será remetida ao gabinete de
Teori Zavascki, a quem caberá deliberar depois que o Supremo voltar das férias,
em agosto.
Não
é nada, não é nada, essa decisão de Lewandowski não é nada mesmo. Chamado a se
manifestar, o próprio Moro informara ao STF, na semana passada, que só seriam
aproveitados os grampos que tivessem pertinência com as investigações. Ciente
das suas limitações, o juiz da Lava Jato acrescentara: “Jamais serão eles
utilizados em relação às autoridades com foro por prerrogativa de função, já
que quanto a estas, mesmo se os diálogos tiverem eventualmente relevância
criminal para elas, caberá eventual decisão ao eminente Ministro Teori
Zavascki, ao qual a questão já foi submetida.”
Ao
acionar Lewandowski no plantão, Lula e seus advogados foram deselegantes com o
presidente do STF. Agiram como pessoas de fabulosa pontaria. E deixaram o
ministro em situação vexatória: se concedesse a liminar, Lewandowski açanharia
as línguas maledicentes, que diriam que Lula bateu às portas do Supremo em
pleno recesso porque já conhecia o resultado do julgamento.
Com
sua decisão inócua, Lewandowski saltou do alçapão. Já lhe basta a má
repercussão de encontro que manteve com Dilma num hotel em Portugal. Até
segunda ordem, os grampos permanecem com Moro. E Lula, ainda na alça de mira da
força-tarefa de Curitiba, tem abundantes razões para tremer. Com ou sem
grampos, será enviado à grelha. Lula acabará percebendo que uma das graças da
democracia é o poder nivelador do medo da Justiça.
Sob
o risco de acabar num xilindró, o pobre-diabo e o ex-soberano da República
soltam a mesma baba. O caso de Lula diz muito sobre o novo momento que o Brasil
atravessa. A consciência de Lula virou uma espécie de latifúndio improdutivo
que o medo de Sérgio Moro invadiu. (Via: Josias de Souza)
Blog: O Povo com a Notícia