Fenômeno de audiência há quatro
anos, a novela “Avenida Brasil”, da Rede Globo, apresentava alguns de seus
melhores momentos quando Suelen, personagem da atriz Isis Valverde, entrava em
cena com leggings e tops coloridos seduzindo os homens do Divino ao som de
“Correndo atrás de mim”.
A repetição dos versos-chiclete “Eu quero ver você
correndo atrás de mim/ Eu quero ver você correndo atrás de mim/ Quando eu te
procurei você nem ligou pra mim/ Agora eu quero ver você correndo atrás de mim”
algumas vezes por semana no horário nobre da tevê transformou o grupo Aviões do
Forró, que já tinha uma carreira de 10 anos no Nordeste, em sucesso nacional.
Emendando um hit no outro, Solange Almeida e Xand Avião, vocalistas da banda,
acumularam fortuna cantando desilusões amorosas em ritmo de “forró-pop”, numa
contribuição questionável à cultura popular. Agora, uma investigação da Polícia
Federal (PF) batizada de For All questiona também a contribuição do grupo para
a Receita. Os policiais suspeitam que, ao lado de outras bandas ligadas à A3
Entretenimento, eles tenham sonegado cerca de R$ 500 milhões em impostos entre
2012 e 2014.
BLOQUEIO DE BENS: A operação deflagrada na terça-feira 18 apura ainda suspeitas
de omissão de rendimentos e lavagem de dinheiro. Além do Aviões, outros três
conjuntos de forró são acusados de realizar shows declarando apenas 20% do
valor dos contratos. Ao todo, foram bloqueados 163 imóveis e 38 veículos, como
Mercedes-Benz, BMWs e Land Rovers, e 32 pessoas foram conduzidas para prestar
esclarecimentos, inclusive Xand e Solange, que foram ouvidos e liberados.
Procurados pela ISTOÉ, eles informaram, em nota, que estão “à disposição da
Justiça”. Se mantiver a agenda, como divulgado, a banda embarca nesta semana
para os Estados Unidos, onde tem shows marcados em Nova York, Boston e Miami. “Assim como o forró é para todos, os tributos são propriedade do povo
brasileiro”, diz o auditor fiscal João Batista Barros, superintendente regional
da Receita Federal. “Analisamos os aspectos exteriores de riqueza, como
imóveis, atividades e consumo, e a compatibilidade com o apresentado nas
declarações.”
VIDA DE LUXO: Vaidosos, “Solanja”, como é chamada pelos fãs, e Xand adoram
as redes sociais, onde publicam fotos com o “look do dia”, em viagens e compras
(ela vive nas lojas de grife do Shopping Iguatemi de Fortaleza). A cantora
também se orgulha com as cantadas e elogios que recebe por causa do corpo 50
quilos mais magro, conquistado graças a uma cirurgia bariátrica feita há oito
anos. Xand, que também é sócio de uma churrascaria, é apaixonado por carros
esportivos – no ano passado, comprou em Recife um Porsche Cayman S, avaliado em
R$ 399 mil. Dono de uma concessionária de automóveis em Fortaleza e amigo de
Xand, um empresário que pediu para não ser identificado, disse que todos os
carros do cantor são financiados e que ele nunca fez nenhuma transação com
dinheiro em espécie. “O Xand é a pessoa mais idônea que pode existir”, afirma.
“Não é ele que administra a banda, ele só canta.”
A delegada Doralucia Oliveira de Souza, que conduziu as
investigações, discorda. “Os artistas são sócios, não são só empregados”, diz.
“É muito complicado pensarmos que eles não tivessem consciência do que estava
acontecendo ali.” No papel, os vocalistas dividem a propriedade do grupo com os
empresários Carlos Aristides, Zequinha Aristides, Isaías Duarte e Claudio Melo.
Recentemente, depois que Solange ameaçou seguir carreira solo, a cantora
aumentou sua participação de 10% para 25% nos lucros, igualando o percentual de
Xand, e os empresários ficaram com o restante.
O esquema descoberto pela PF funcionava através de contratos
subfaturados de shows, eventos e vendas de CDs e DVDs. Os suspeitos combinavam
o valor com o contratante, mas apenas de 20% a 50% do preço era pago pelas vias
oficiais e declarado ao Fisco. O restante, de acordo com a investigação, era
entregue em dinheiro vivo, pouco antes das apresentações. No caso do Aviões do
Forró, os valores ficavam na casa dos R$ 160 mil – entre os demais grupos, como
o Solteirões do Forró, o cachê começava em R$ 50 mil. Cada uma das bandas faz,
em média, 200 shows por ano. Isso significa que só o Aviões faturava R$ 32
milhões anuais em shows. Como até 80% do valor era escamoteado, a sonegação
pode ter ultrapassado os R$ 25 milhões. A polícia também suspeita que os
envolvidos lavavam dinheiro comprando imóveis e declarando valores menores do
que os reais, para depois revendê-los pelo preço de mercado. Além disso,
promoviam intensa confusão patrimonial entre pessoas físicas e jurídicas para
driblar a fiscalização. Se depender da “For All”, a farra acabou.
JUSTIÇA PARA TODOS: Saldo da Operação “For All”, que mirou estrelas da música.
R$ 500 MILHÕES em impostos teriam sido
sonegados
4 BANDAS investigadas, incluindo a Aviões do
Forró
32 PESSOAS ouvidas, entre elas os vocalistas Xand e
Solange (da Aviões do Forró)
26 EMPRESAS suspeitas de crimes como lavagem de dinheiro
44 MANDADOS de busca e apreensão no Ceará e na Paraíba
163 IMÓVEIS interditados em três cidades diferentes
38 VEÍCULOS bloqueados, como Mercedes, BMWs e Land
Rovers
ATÉ 80% dos valores dos shows eram escamoteados
ATÉ R$ 160 MIL custava cada uma das apresentações
Blog: O Povo com a Notícia
Via: ISTOÉ