Desde março de 2014, quando a Operação Lava Jato deu os seus primeiros
passos e atingiu em cheio a classe política, a problemática da corrupção voltou
a ganhar forte relevância nos debates sobre os rumos do País. Após quase três
anos de denúncias, prisões e forte desgaste das instituições públicas, o Brasil
registrou, nesta semana, mais um índice preocupante: é o mais citado por
empresas globais investigadas sob suspeita de pagar propina no exterior, de
acordo com o ranking elaborado nos Estados Unidos. Esta condição, portanto,
atesta que a cultura das práticas ilícitas, enraizada na constituição da
própria identidade nacional, extrapola as fronteiras geográficas e impede a resolução
de problemas crônicos, tanto no campo social quanto econômico.
O ranking é feito por um site especializado nessa legislação, chamada de
"Foreign Corruption Practices Act", algo como Lei Anticorrupção no
Exterior. O Brasil é mencionado 19 vezes como o País em que empresas que operam
globalmente pagaram propina no ranking, divulgado na última quinta-feira. A
China, segunda colocada na tabela, aparece com 17 menções, enquanto o Iraque
está em terceiro lugar, com oito citações. Desde 2015, o número de menções ao
Brasil praticamente dobrou, de 10 para 19.
Os dados foram extraídos de investigações do Departamento de Justiça dos
Estados Unidos, equivalente ao Ministério da Justiça brasileiro, e da
Securities and Exchange Commission (SEC), o órgão que regula o mercado de
capitais naquele País. "Nós estamos nessa lista porque a corrupção
brasileira já afeta o investidor americano", diz Paulo Goldschmidt,
professor da Fundação Getúlio Vargas, onde dirige um grupo de estudos
anticorrupção.
Análise: Na opinião do cientista
político Guilherme Reis, da Unirio, o combate à corrupção deve passar pela
extinção da ideia de que a prática é exclusiva da classe política. Segundo ele,
quanto mais o interesse econômico influencia na política e na sociedade, a tendência
é que haja corrupção. “A corrupção ocorre, também, na troca de interesses do
mundo público com o privado”, diz.
Blog: O Povo com a Notícia