Antes de qualquer coisa, um
aviso: esse comentário contém linguagem rasteira. Convém tirar as crianças da
sala. Duas das mais altas autoridades de Brasília — o ministro Gilmar Mendes, do
Supremo Tribunal Federal, e o procurador-geral da República Rodrigo Janot —
decidiram se engalfinhar em público. Gilmar usou uma notícia de jornal para
acusar procuradores de vazar deliberadamente para a imprensa nomes de
encrencados na lista da Odebrecht. O vazamento, disse ele, é crime previsto no Código Penal. Janot negou a
notícia. E atribuiu as declarações de Gilmar à “decrepitude moral” do ministro,
que sofre, segundo ele, de “disenteria verbal.”
Se essa troca de ataques evidencia alguma coisa é que Janot e
Gilmar consideram-se um ao outro sujeitos desprezíveis. Um, responsável por
processar a bandidagem engravatada, não conseguiria enxergar o crime de
“violação de segredo funcional” praticado ao seu redor. Outro, responsável por
julgar os delinquentes do poder, “corteja desavergonhadamente” os acusados,
disse Janot, mantendo com eles uma “relação promíscua”.
Nesse ritmo, Janot e Gilmar vão acabar se despachando
mutuamente para lugares desagradáveis. Um pode enviar o contendor ao
excremento. Outro talvez mande o rival à presença da pessoa que, tendo lhe dado
à luz e exercendo a profissão de prostituta, não sabe dizer ao certo quem é seu
pai. Atônita, a plateia se pergunta: não seria melhor se autoridades como Janot
e Gilmar se unissem para honrar o salário que recebem do contribuinte, punindo
os corruptos? O ruim de duas autoridades se ofenderem em público é o pessoal
que passa achar que ambas têm razão.
Blog: O Povo com a Notícia