O senador Aécio Neves foi afastado do Senado depois que o empresário
Joesley Batista – um dos donos do frigorífico JBS –, entregou uma gravação de
30 minutos na qual o senador e ex-presidente nacional do PSDB pede R$ 2 milhões
para, supostamente, pagar a defesa dele na Lava Jato. A delação do empresário
revelada pelo jornal "O Globo" foi homologada pelo ministro Luiz
Edson Fachin.
Nesta segunda-feira (22),em sua última publicação como colunista da
Folha, Aécio afirma que teve a vida virada pelo avesso. “Tornei-me alvo de um
turbilhão de acusações, fui afastado do cargo para o qual fui eleito por mais
de 7 milhões de mineiros e vi minha irmã ser detida pela polícia sem
absolutamente nada que justificasse tamanha arbitrariedade. Tenho sentimentos,
sou de carne e osso, e esses acontecimentos -o que é pior, originados de
delações de criminosos confessos, a partir de falsos flagrantes meticulosamente
forjados- me trouxeram enorme tristeza. Também, por certo, alimentaram decepção
naqueles que confiaram em mim ao longo de minha vida pública. É principalmente
a estes que ora me dirijo”, diz o tucano em trecho da coluna.
Em outra parte da publicação, o senador afastado diz que neste último
ano empenhou-se em ajudar o presidente Michel Temer para reerguer o país. “Tudo
isso sofreu um abalo sísmico, na semana passada, com a divulgação de gravações
covardemente feitas pelo réu confesso Joesley Batista de conversas com o
presidente da República e de outras que manteve comigo. Nestas, ele tenta
conduzir o diálogo para criar-me todo tipo de constrangimento. Lamento
sinceramente minha ingenuidade -a que ponto chegamos, ter de lamentar a boa-fé!
Não sabia que na minha frente estava um criminoso sem escrúpulos, sem interesse
na verdade, querendo apenas forjar citações que o ajudassem nos benefícios de
sua delação”, relata.
Ainda em sua defesa, Aécio lembra que usou “um vocabulário que não
costumo usar, e me penitencio por isso, ao me referir a autoridades públicas
com as quais já me desculpei pessoalmente. Mas reafirmo: não cometi nenhum
crime”.
O senador também explicou o fato envolvendo um apartamento da família e
um dos donos do Grupo JBS. A empresária Andrea Neves, irmã do tucano,
pediu R$ 40 milhões a Joesley Batista, para a compra de um imóvel no Rio de
Janeiro. Ele disse que condicionou o pagamento à nomeação de um indicado seu
para o comando da Vale, mas que a operação não se concretizou.
“Foi do delator a sugestão de fazer um empréstimo com recursos lícitos,
que ele chamava "das suas lojinhas", e que seria naturalmente
regularizado por meio de contrato de mútuo, até para que os advogados pudessem
ser pagos. O contrato apenas não foi celebrado porque a intenção do delator não
era esta, mas sim criar artificialmente um fato que gerasse suspeição e
contribuísse para sua delação”.
E continua: “daí por diante, fomos vítimas de uma criminosa armação
feita por elementos que não se constrangeram em criar falsas situações para
receber em troca os extraordinários benefícios de sua delação, inclusive
ganhando dinheiro especulando contra o Brasil e contra os brasileiros, em razão
da crise provocada pela divulgação das gravações. Para eles, o crime e a
calúnia certamente compensam”.
Por fim, ele diz que vai provar sua inocência. “Errei ao procurar quem
não deveria. Errei mais ainda, e isso me corrói as vísceras, em pedir que minha
irmã se encontrasse com esse cidadão, que em processo de delação arquitetou um
macabro e criminoso plano para obter certamente ainda mais vantagens em seu
acordo. A partir de agora, dedicarei cada instante de minha vida a provar minha
inocência e a de meus familiares, a mostrar que honrei os mandatos e a
confiança que os eleitores de Minas e de todo o país me delegaram em mais de 30
anos de vida pública”.
Veja texto na íntegra:
O crime da calúnia
Nos últimos dias, minha vida foi virada pelo avesso. Tornei-me alvo de
um turbilhão de acusações, fui afastado do cargo para o qual fui eleito por
mais de 7 milhões de mineiros e vi minha irmã ser detida pela polícia sem
absolutamente nada que justificasse tamanha arbitrariedade.
Tenho sentimentos, sou de carne e osso, e esses acontecimentos -o que é
pior, originados de delações de criminosos confessos, a partir de falsos
flagrantes meticulosamente forjados- me trouxeram enorme tristeza. Também, por
certo, alimentaram decepção naqueles que confiaram em mim ao longo de minha
vida pública. É principalmente a estes que ora me dirijo.
Tenho me dedicado a tentar construir um país melhor. Neste último ano
empenhei-me em ajudar o presidente Michel Temer no árduo trabalho de reerguer o
país, o que, avalio, vem sendo bem-sucedido. Há, porém, muitos insatisfeitos e
contrariados com as mudanças em marcha.
Tudo isso sofreu um abalo sísmico, na semana passada, com a divulgação
de gravações covardemente feitas pelo réu confesso Joesley Batista de conversas
com o presidente da República e de outras que manteve comigo. Nestas, ele tenta
conduzir o diálogo para criar-me todo tipo de constrangimento.
Lamento sinceramente minha ingenuidade -a que ponto chegamos, ter de
lamentar a boa-fé! Não sabia que na minha frente estava um criminoso sem
escrúpulos, sem interesse na verdade, querendo apenas forjar citações que o
ajudassem nos benefícios de sua delação.
Além do mais, usei um vocabulário que não costumo usar, e me penitencio
por isso, ao me referir a autoridades públicas com as quais já me desculpei
pessoalmente.
Mas reafirmo: não cometi nenhum crime!
Setores da imprensa vêm destacando uma acusação do delator de que, em
2014, eu teria recebido R$ 60 milhões em "propina". Mas muito poucos
tiveram a curiosidade de pesquisar e constatar que isso se refere exatamente
aos R$ 60 milhões que a JBS doou legalmente a campanhas do PSDB naquele ano.
E foram raros também os que se interessaram em registrar afirmações dos
próprios delatores sobre mim -"nunca nos ajudou em nada" e
"nunca fez nada por nós", disseram a meu respeito. Então pergunto:
onde está o crime? Aliás, de qual crime acusam a mim e a meus familiares?
Em março deste ano, solicitei a minha irmã e minha amiga, Andrea, que
procurasse o senhor Joesley, a quem ela não conhecia, e oferecesse o que já
havíamos feito sem sucesso com outros empresários brasileiros: a compra do
apartamento em que minha mãe mora, herança do seu falecido marido, e que já
estava à venda. Parte desse valor nos ajudaria a arcar com os custos de minha
defesa.
Foi do delator a sugestão de fazer um empréstimo com recursos lícitos,
que ele chamava "das suas lojinhas", e que seria naturalmente
regularizado por meio de contrato de mútuo, até para que os advogados pudessem
ser pagos.
O contrato apenas não foi celebrado porque a intenção do delator não era
esta, mas sim criar artificialmente um fato que gerasse suspeição e
contribuísse para sua delação.
Daí por diante, fomos vítimas de uma criminosa armação feita por
elementos que não se constrangeram em criar falsas situações para receber em
troca os extraordinários benefícios de sua delação, inclusive ganhando dinheiro
especulando contra o Brasil e contra os brasileiros, em razão da crise
provocada pela divulgação das gravações. Para eles, o crime e a calúnia
certamente compensam.
São, portanto, evidentes o comprometimento de meus acusadores e a
inconsistência do teor das acusações dirigidas contra mim e minha família. Fui
vítima de criminosa armação. Mas isso não significa que não tenha errado.
Errei ao procurar quem não deveria. Errei mais ainda, e isso me corrói
as vísceras, em pedir que minha irmã se encontrasse com esse cidadão, que em
processo de delação arquitetou um macabro e criminoso plano para obter
certamente ainda mais vantagens em seu acordo.
Vale aqui registro em relação aos motivos usados para a suspensão de meu
mandato parlamentar, iniciativa para a qual não há precedentes.
Nenhum de meus atos legislativos e políticos demonstram qualquer
intenção de obstruir a Lava Jato ou qualquer outra investigação, tampouco
interferir em instituições encarregadas de apurar os fatos. Ao contrário,
minhas posições sempre foram claras e legitimadas pelo exercício de meu
mandato.
A partir de agora, dedicarei cada instante de minha vida a provar minha
inocência e a de meus familiares, a mostrar que honrei os mandatos e a
confiança que os eleitores de Minas e de todo o país me delegaram em mais de 30
anos de vida pública.
Usarei como armas a lei e a verdade para que esta injustificável
violência contra Andrea e contra Frederico seja rapidamente revertida.
Acredito na força da nossa democracia, confio na Justiça e na
integridade das nossas instituições. Estou convicto de que, ao cabo do devido
processo legal e do desenrolar das investigações, a verdade prevalecerá e a
correção de meus atos e de meus familiares restará provada.
Diante da necessidade de dedicar-me integralmente à minha defesa, deixo
de ocupar nesta Folha o espaço que, durante quase seis anos, ocupei
semanalmente, buscando contribuir para aprofundar a discussão sobre os
problemas do país.
Aos leitores da Folha que me acompanham nesta jornada, de alegrias e
tristezas, deixo meu sincero agradecimento. Aos brasileiros, reafirmo a minha
determinação de enfrentar este momento de incompreensões, com a coragem e a
altivez que jamais me faltaram ao longo de toda a minha caminhada. A verdade
prevalecerá! (Via: Agência Senado)
Blog: O Povo com a Notícia