Tucanos e peemedebistas fingem
desconhecer Sérgio Cabral. Mas o destino do presidiário não lhes é estranho.
Num instante em que os gênios do PSDB renovam o acordo de cumplicidade com o
PMDB para preservar o mandato de Michel Temer, o primeiro presidente da
história a ser denunciado por corrupção em pleno exercício do cargo, vale a
pena atrasar o relógio para iluminar a trajetória de Cabral. O presidiário
começou a enriquecer no PSDB. E consolidou sua fortuna no PMDB.
Condenado nesta terça-feira pelo xará Sergio Moro a 14
anos e 2 meses de cana, Sérgio Cabral despontou para a política na década de
90. Chegou à presidência da Assembleia Legislativa do Rio como um cavaleiro da
ética. Nessa época, era um jóquei do PSDB. Gente como FHC e José Serra levava a
cara à propaganda eleitoral do Rio para recomendar o menino de ouro do tucanato
ao eleitorado.
Cabral agigantou-se tanto que, em 1998, começou a fazer sombra ao seu
principal aliado, o então governador fluminense Marcello Alencar, cacique do
PSDB. Incomodado, Allencar atirou para dentro do ninho, montando um dossiê
contra Cabral. Revelou que o paladino da moralidade acumulava uma fortuna
imoral. Tornara-se dono de uma casa no condomínio Portobelo, em Mangaratiba,
incompatível com sua renda.
Há 19 anos, quando a encrenca veio à luz, a avaliação de mercado da casa
de Mangaratiba era R$ 1 milhão. Cabral dizia ter desembolsado R$ 200 mil.
Atribuía o preço camarada ao fato de ter fechado negócio “com um amigo de 15
anos”, o empresário Carlos Borges. Abespinhado, Cabral trocou o PSDB pelo PMDB,
fez uma paçoca política da liderança de Marcello Alencar e foi colecionar
amizade$ empresariais na poltrona de governador. O mimo de Mangaratiba virou
troco.
Nos seus dois mandatos como governador, Cabral levou o Rio à breca. O
Estado piorou muito. Mas seu governador melhorou extraordinariamente.
Impulsionado pelas verbas federais envidas por Lula e Dilma, Cabral semeou
obras e colheu propinas. Hoje, é o maior colecionador de processos da Operação
Lava Jato. Responde a uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove,
dez ações penais. A sentença de Sergio Moro foi a primeira. Restam nove.
Sérgio Cabral não é um bom exemplo para ninguém. Mas tornou-se um fabuloso
aviso para tucanos e peemedebistas alcançados pela ferrugem política. A coisa
funciona com a simplicidade de um sinal de trânsito. Na fração de segundo em
que o sinal muda de verde para amarelo, a decisão de parar ou avançar pode
significar a redenção ou a cadeia. (Via: Blog do Josias de Souza)
Blog: O Povo com a Notícia