De todas as definições sobre
política, a que mais se aplica ao cenário atual é uma de Jânio Quadros.
“Política é como fotografia, se mexe muito não sai”, dizia Jânio. Nas últimas
duas semanas, caciques do Congresso se mexeram freneticamente à procura de um
substituto para o presidente da República. E o nome não saiu. Em consequência,
Temer foi ficando. Mesmo crivado de suspeições, ele se tornou o presidente mais
conveniente para os atores que se imaginam em condições de participar da
disputa presidencial de 2018 em contraposição ao PT e seus satélites.
Principal escora do Palácio do Planalto no Legislativo ao lado do PMDB, o
PSDB aproximaria Temer da porta de saída se abandonasse o governo à própria
sorte. Mas o tucanato, um agrupamento de amigos 100% feito de inimigos, não
consegue se entender nem consigo mesmo. O senador Tasso Jereissati adoraria
sentar-se na poltrona de Temer. Já se deu conta, porém, de que não se elegeria
porteiro do Congresso numa eleição indireta. Tasso nem precisa de inimigos. Seu
maior adversário é o amigo Geraldo Alckmin.
Imaginando-se menos ferido na Lava Jato do que os correligionários Aécio
Neves e José Serra, o governador tucano de São Paulo reivindica o primeiro
lugar na fila de presidenciáveis do PSDB. E Alckmin concluiu que, se fosse
acomodado no lugar de Temer, Tasso não desocuparia o assento em 2018. Agora,
todos dizem estar preocupados com o país, não com a reeleição. Mas Alckmin não
ignora que, em política, a suprema ambição é não tê-la.
Estimulado por outros governadores e por apologistas do seu projeto
presidencial, Alckmin pensou em disputar, ele próprio, o cargo de presidente
pela via indireta. Desistiu depois de constatar que entraria na disputa como
candidato favorito a fazer do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) o próximo
presidente da República.
No comando da Câmara, Rodrigo Maia assumiria o Planalto em caso de queda
de Temer, para convocar a eleição indireta em 30 dias. Assim determina a
Constituição. Com a caneta de presidente e o Diário Oficial à disposição, Maia
compraria a simpatia dos colegas para esticar sua permanência no Planalto. E
sua prioridade, para desassossego de Alckmin, passaria a ser a reeleição.
A desunião entre PSDB e DEM retarda a formação de um complô parlamentar
capaz de abreviar o mandato de Temer. Parte da infantaria do tucanato ameaça
tomar distância do governo na próxima semana. Mas não há, por ora, sinais de
que a cúpula da legenda se associará a uma hipotética insurreição. E mesmo os
deputados sublevados informam que um eventual rompimento não significará o
abandono da pauta de reformas econômicas. Quer dizer: para Temer, o jogo pode
terminar em zero a zero.
O Congresso Nacional abdicou da prerrogativa de governar a crise. Prefere
ser governado por ela. Só deve agir se Temer for cassado pelo Tribunal Superior
Eleitoral — uma hipótese que parece preocupar cada vez menos o Planalto. O procurador-geral da República
Rodrigo Janot assa no forno da Lava Jato uma denúncia contra Temer, a ser
protocolada no Supremo Tribunal Federal nos próximos dias. Entretanto, essa
denúncia só irá adiante se a Câmara autorizar. E Temer começa a oferecer aos
deputados milhões de razões para enterrar a iniciativa.
No mais, como Temer não se dispõe a repetir Jânio Quadros, que entrou na
história pela porta da renúncia, o grande risco à estabilidade de sua
Presidência é a ação de amigos como o ex-assessor Rodrigo Rocha ‘Imponderável’
Loures. O homem da mala de R$ 500 mil frequenta a crise como uma delação
premiada esperando na fila para acontecer. Dependendo do que disser, Loures
pode revolucionar a condição penal de Temer. De primeiro presidente da história
a ser investigado por corrupção, organização criminosa e obstrução de justiça,
Temer passaria à condição de denunciado e candidato a réu em pleno exercício do
cargo. (Via: Blog do Josias de Souza)
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