Após o pior momento de sua relação com o governo de Michel Temer, o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse à Folha que, se quisesse,
poderia ter dificultado a vida do presidente da República na votação da
denúncia de corrupção passiva feita pela PGR (Procuradoria-Geral da República).
"Não cabia à minha pessoa fazer nenhum movimento que me beneficiasse
pessoalmente. Isso mancharia minha biografia", disse o deputado, que nega
almejar uma candidatura à Presidência por não ter "apoio popular necessário".
Temer barrou a primeira denúncia com votos de 51% da Câmara, 53% dos
presentes. Está longe dos 308 votos para aprovar qualquer PEC. Sobre isso, Maia
afirma que "olhando para a necessidade das reformas, precisa reconstruir
parte da base para que se possa ter 308 votos necessários para aprovar
principalmente a da Previdência. Mas, olhando para trás, para o momento de mais
tensão do presidente nesta crise, foi um bom resultado. Não, porque é uma
votação atípica. Agora que vai ser mais delicado. O governo vai ter de esquecer
o passado recente e construir uma base incluindo aqueles que votaram contra o
presidente. Tem que ter muita tranquilidade, conversa".
Sobre reconquistar o PSDB, Maia ressalta que "se estiver em cima da
agenda de reformas, que também é a agenda do PSDB, tenho certeza de que o
governo tem condição de reconstruir a maioria do PSDB apoiando as matérias do
governo".
O centrão acha inadmissível o PSDB continuar com o mesmo espaço. A
disputa dificulta o relacionamento com o PSDB?, questionou a Folha. "Não
adianta exigir do governo um posicionamento que pode inviabilizar a votação de
projetos que podem gerar um resultado nos indicadores econômicos e,
principalmente, na redução do desemprego", afirmou o presidente da Câmara.
Veja abaixo trechos da entrevista:
Folha: oSeus aliados diziam que o sr. avaliava a segunda denúncia como
mais complicada para o presidente. Com a base que ele tem hoje,
sobrevive?
Maia: Nunca disse. Ouvi isso de muita gente. A cada dez deputados, oito
avaliavam dessa forma. As poucas vezes que falei foi para deixar claro que não
ia me movimentar contra o presidente. Infelizmente, especularam movimentos meus
que não existiram.
Folha :Qual a sua opinião? Ele sobrevive a uma próxima denúncia?
Maia :Ela não existe ainda. Se haverá ou não segunda denúncia é uma
questão que não está sob meu comando.
Folha: Hoje há possibilidade de se derrubar o presidente?
Maia: Ele venceu a primeira denúncia. Não posso falar de hipótese que
não conheço.
Folha: Quando a crise se agravou, seu entorno começou mobilização para
eventual governo seu. clima mudou. Dizem que o sr. se recolheu porque seria
alvo de delação. Por que esse discurso esfriou?
Maia: Porque vocês apuram mal. Se vocês apurassem bem, você ia ver que
eu nunca me mexi para governo Maia algum.
Folha: Por que o sr. nunca desmentiu?
Maia: Sempre desmenti isso. Mas muitos preferem a matéria do que a
verdade. Infelizmente é assim. E os resultados das dez votações provam isso.
Folha: O sr. também nega que seu entorno tenha se movimentado?
Maia: Eu não tenho entorno. Não tenho patota. Sou presidente da Câmara
porque não tenho patota. Entendeu?
Ninguém ouviu da minha boca que eu ia ficar contra o presidente da
República.
Folha: Em algum momento o sr. pensou que, se quisesse, teria condições
de derrubar o presidente?
Maia: Eu teria condições de gerar uma votação muito difícil para o
presidente na última quarta-feira e não o fiz. O resultado é prova disso.
Folha: Por que o sr. não fez?
Maia: Acredito que não cabia à minha pessoa fazer nenhum movimento que
me beneficiasse pessoalmente. Isso mancharia minha biografia. Sou de um partido
da base do governo, que apoia o presidente. Não cabia este movimento.
Folha: O sr. pretende disputar a Presidência da República?
Maia: Pretendo ser deputado. Sou candidato à reeleição.
Folha: Por que não a Presidência?
Maia: Eleição presidencial não se constrói da noite para o dia nem eu
tenho a projeção necessária, o apoio popular necessário para estar pensando
nisso neste momento. Não é a presidência da Câmara que gera as condições para
você ser candidato nem a governador nem a presidente da República. Acho que não
tenho votos majoritários no Rio e muito menos a nível nacional para ter a
pretensão de me colocar candidato a presidente.
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