O ex-deputado Pedro Corrêa (ex-PP) revelou, em delação
premiada, homologada pelo relator da Lava Jato, Edson Fachin,
pelo menos duas tratativas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre
propinas para o Partido Progressista, ao qual foi filiado à época em que
exercia cargo no Congresso. Em uma delas, o petista teria ligado para o
ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa para conferir se
as propinas ao Partido Progressista estariam sendo pagas “direitinho” aos
políticos da legenda.
A homologação põe fim a um longo processo de negociação. A delação de
Corrêa foi assinada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) em março de
2016. Em setembro, o então relator da Lava Jato, ministro Teori Zavascki, havia
pedido novas diligências e cobrou uma redução na quantidade de assuntos
tratados no acordo, em especial, os anexos com revelações genéricas, sem
apontamento de fato específico, e o robustecimento de provas apresentadas. Só
depois, o termo deveria ser reapresentado para análise de homologação, agora
realizada pelo relator Edson Fachin.
O ex-parlamentar, condenado a 20
anos e 7 meses de prisão, na Operação Lava Jato, já havia prestado um
depoimento antes de ter sua delação homologada como testemunha de acusação de
Lula no processo envolvendo propinas da Odebrecht ao petista, entre elas, a
compra do terreno onde supostamente seria sediado o Instituto Lula.
Naquele depoimento, prestado em junho à Justiça Federal do Paraná, o
parlamentar cassado no mensalão e condenado na Lava jato afirmou ao magistrado
que não é “um desconhecido” de Lula, assim “como ele afirmou”, em depoimento no
processo sobre o triplex no Condomínio Solaris, no Guarujá, no qual o petista
foi sentenciado a 9 anos e 6 meses de prisão por Moro. Ele ainda exibiu fotos
em eventos ao lado do ex-presidente e de seus ministros.
A reportagem apurou, que em
delação premiada, Pedro Corrêa afirmou que, logo após a primeira eleição de
Lula, em 2002, teria pedido para que seu partido ocupasse os ministérios para
que pudessem tocar obras que seriam executadas pelas empreiteiras que, depois,
teriam integrado o cartel que assolou a Petrobras.
Segundo o ex-parlamentar, em delação, Lula teria negado, em troca,
ofereceu ao partido vantagens indevidas oriundas da Petrobras.
Em um período posterior, em que
já haveria um esquema de corrupção instaurado na estatal e também um suposto
acordo para que o Partido Progressista tivesse uma porcentagem de participação
nas propinas, o deputado diz ter procurado o ex-presidente para reclamar de que
o então diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa não estaria
cumprindo com sua parte de abastecer os políticos da legenda.
Segundo Pedro Corrêa, Lula teria ligado para o então executivo da estatal
e retornado com a seguinte resposta: “Falei com o Paulinho e ele me disse que
está atendendo tudo certinho”.
Durante o depoimento que já prestou a Moro, antes da homologação de sua
delação, Pedro Corrêa ainda disse “confirmar” que o Partido Progressista
negociou junto ao governo Lula a nomeação de Paulo Roberto Costa à Diretoria de
Abastecimento da Petrobras.
Na ação em que foi condenado na
Lava Jato, Pedro Corrêa é apontado como o articulador para a nomeação de Paulo
Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento da Petrobras – foco de corrupção e
propinas na estatal petrolífera entre 2004 e 2014.
Segundo a sentença de Moro, ele continuou recebendo propinas mesmo após
ter sido condenado no processo do mensalão, até outubro de 2012.
O parlamentar também é alvo da primeira ação de improbidade movida contra
um partido, no caso, o PP, pela força-tarefa da Lava Jato. Além dele, outros 9
políticos e assessores são acusados neste processo. A força-tarefa cobra o
ressarcimento de R$ 2,3 bilhões dos supostos envolvidos.
Defesa: Em nota, Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula, afirmou: “As
referências do ex-deputado Pedro Correa ao ex-Presidente Lula são mentirosas e
devem ser compreendidas em um contexto em que os delatores estão sendo
obrigados a falar algo sobre o ex-Presidente para poder deixar a prisão ou
receber outros benefícios da Força Tarefa da Lava Jato.
Paulo Roberto Costa já prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro em
23/11/2016 e afirmou, sob o compromisso de dizer a verdade: ‘nunca tive intimidade
com o presidente da república, o presidente Lula’; ‘eu nunca tive nenhuma
reunião só eu e o presidente Lula’; e, ainda, ‘eu não tinha intimidade com o
presidente Lula’.
Pedro Correa também já prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro na mesma
data e reconheceu que foi chamado pelos Procuradores da Lava Jato para ‘refazer
alguns anexos’ para permitir que fosse formulada uma acusação sem provas contra
Lula”. (Via: Estadão)
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