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quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Número de católicos despenca para 52% no Brasil, aponta pesquisa


Com 300 anos de adoração celebrados nesta quinta-feira (12), Nossa Senhora Aparecida é reconhecida como padroeira de um Brasil cada vez menos devoto a santos.

No país, 38% cultuam uma ou mais dessas figuras tidas como sacras para o catolicismo, segundo novo levantamento do Datafolha. Há dez anos, quando o instituto abordou o assunto pela primeira vez, metade dos brasileiros (49%) afirmava ter um "santinho" para chamar de seu.

Quando Getúlio Vargas oficializou, em 1931, Aparecida como patrona nacional, era difícil esbarrar com um brasileiro que não se dissesse católico –no Censo que o IBGE fez nove anos depois, foi a religião declarada por 95% do povo.

O santo já não é tão forte no Brasil de 2017, onde o número de católicos despencou para 52%, conforme Datafolha realizado em 27 e 28 de setembro, com 2.772 entrevistados de 194 cidades. Na contramão vêm os os evangélicos, que galgaram de 2,6% no levantamento de 1940 para os atuais 32%.

E evangélicos, via de regra, não creem em santos nem nas suas imagens, por levarem ao pé da letra o mandamento atribuído a Deus pela Bíblia "não farás para ti ídolo de escultura".

Exemplo deu o apóstolo Agenor Duque (Igreja Plenitude do Trono de Deus), que em culto recente usou uma Coca-Cola para zombar da adoração a santos –citando um salmo bíblico que critica "ídolos" feitos pelas "mãos dos homens", deu a entender que a garrafa PET simbolizava uma santa ("a boca dela não fala, o ouvido dela não ouve") que jamais se equivaleria a Jesus Cristo, "o Senhor e salvador".

A escalada evangélica não basta para explicar por que santos já não são tão populares no Brasil. É preciso levar em conta o "desengajamento religioso admitido por parte da população", diz o professor de sociologia da USP Ricardo Mariano.

Ele não se refere necessariamente a quem não crê em Deus – e 98% dos brasileiros dizem acreditar, segundo o Datafolha. "Não quer dizer que esse grupo seja descrente, só que não tem filiação religiosa" (caso de 8% da população, contra 0,46% no Censo de 1940).

Para o sociólogo Francisco Borba Ribeiro Neto, do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, mais do que a "ameaça" evangélica, católicos deveriam ver na pesquisa uma amostra do "processo de secularização da nossa sociedade" e também de "fragmentação do cristianismo". Antes, "todo mundo se dizia católico por falta de opção". Agora, não: o menu cristão se ampliou, diz Borba.

E perde terreno também o "catolicismo popular", experiência típica do sincretismo religioso e nem sempre alinhada às diretrizes do Vaticano, diz Mariano –imagine a senhorinha que vai à Igreja Universal, consulta uma mãe de santo e paga promessa à Nossa Senhora Aparecida.

"Nas últimas décadas, o pentencostalismo começa a ganhar um espaço tradicionalmente ocupado" por esse catolicismo à brasileira.

O Datafolha revela que a proporção católica cresce entre os mais velhos (64%), nordestinos (62%) e em municípios com até 50 mil habitantes (61%). Pequenos centros urbanos são mais devotos: neles, 44% têm um santo de preferência, e em grandes cidades, 33%.

APARECIDA É POP

Uma coisa não mudou de 2007 para cá: Aparecida é pop.

Entre os que adoram santos, a padroeira do Brasil é disparado a preferida, citada espontaneamente por 19% dos entrevistados. Num distante segundo lugar empatam São Jorge e Santo Antônio, com 2% de menções para cada. Em 2007, Aparecida detinha popularidade similar (18%).

Para o padre João Batista de Almeida, reitor do Santuário Nacional de Aparecida, o papel da "santinha" num Brasil aperreado por crises de ordem política, econômica e moral, continua central. "Pela figura materna que ela simboliza. O povo tem carência de alguém que dê colo neste mundo doido onde a gente vive."

Em 2007, a Igreja Católica lançou o "Documento de Aparecida", que fala num "contexto mutante" em que "a aceleração das transformações sociais [...] nos induz a pensar que toda tentativa de resposta já é uma ação caduca", diz o livro "Nossa Senhora Aparecida e o Papa Francisco" (Planeta), coassinado por dom Raymundo Damasceno e dom Cláudio Hummes.

Bispo emérito de Aparecida (SP), dom Damasceno afirma à Folha que a Igreja deve reagir aos "novos desafios" inovando também em seus "métodos e linguagens". Em 2012, Bento 16 virou o primeiro papa tuiteiro. (Via: Folhapress)

Blog: O Povo com a Notícia