O
grande problema do Brasil é a distância entre o crime e a Justiça. O crime é
perto. E a Justiça mora muito longe. Ao encurtar a distância entre a condenação de Lula à pena de
nove anos e meio de cadeia e o julgamento do recurso do ex-presidente contra a
sentença de Sergio Moro, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região presta à
sociedade brasileira o inestimável serviço de depurar o processo eleitoral de
2018.
Lula frequenta as pesquisas como líder. De
acordo com o Datafolha, ele oscila entre 34% e 37%, dependendo do cenário. Está
bem à frente do segundo colocado, Jair Bolsonaro, que trafega na faixa entre
17% e 19%. A despeito da aparente consolidação de uma disputa entre extremos
opostos, a situação penal de Lula transforma o eleitor em coadjuvante. Ao
proferir o veredicto, em 24 de janeiro, o TRF-4 abdicará do papel de
protagonista, devolvendo o eleitor ao centro do palco.
Se condenarem Lula, os desembargadores farão
do favorito do PT um corrupto inelegível, sujeito a tornar-se hóspede do
sistema carcerário. Se o líder petista for absolvido, o pedaço do eleitorado
que gosta dele poderá pressionar o número 13 na urna eletrônica sem ser
assaltado (ops!) pela incômoda sensação de votar num ficha-suja.
De antemão, o PT avisa que recorrerá a
instâncias superiores em caso de condenação. No Supremo Tribunal Federal,
alegará cerceamento de defesa e perseguição política. No Tribunal Superior
Eleitoral, guerreará pela manutenção da candidatura em pé. Ao marcar para
janeiro o seu julgamento, o TRF-4 oferece aos outros tribunais tempo de sobra
para que se juntem ao esforço para higienizar o processo eleitoral.
A defesa de Lula reclama da eficiência do tribunal federal. É como se os
advogados não confiassem na inocência do cliente. Prefeririam uma Justiça que,
além de cega, tivesse a balança desregulada e a espada sem fio. Em verdade, o
TRF-4 faz com Lula o que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de
Justiça deveriam fazer com as duas centenas de políticos que aguardam na fila
por um veredicto.
São tantos os investigados, denunciados e réus
que não restará ao eleitor senão praguejar ao pé da urna: “Livrai-me da
Justiça, que dos corruptos me livro eu.”
Blog: O Povo com a Notícia
Por Josias de Souza