A cúpula do PT se prepara para o
que chama de "guerrilha jurídica" para tentar garantir a candidatura
de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2018, mas a marcação do
julgamento do recurso que deverá impedi-lo de concorrer fez "cair a ficha"
no partido.
Segundo a Folha apurou, a expressão foi usada por diversos líderes
petistas em conversas desde a tarde de segunda, quando ficou público que o
Tribunal Regional Federal da 4ª Região julgará a apelação de Lula contra a
condenação a 9 anos e 6 meses por corrupção e lavagem de dinheiro no dia 24 de
janeiro.
Dentro da sigla, o tempo recorde do andamento do processo é visto como a
justificativa perfeita para a narrativa de que Lula é um perseguido judicial.
Sua defesa está levantando dados comparativos do andamento de recursos de
processos no âmbito da Operação Lava Jato.
O plano A segue sendo tentar levar Lula até o fim da disputa, mas a
sobriedade tem pautado as conversas internas no partido. Nelas, a alta
probabilidade de Lula ser impedido de concorrer por estar condenado por um
colegiado antes do prazo inicialmente previsto é vista também como uma janela
de oportunidade.
Naturalmente, nenhum líder petista dirá isso em público, mas o fato é que
a sigla ganha tempo para fazer costura de alianças estaduais vitais para sua
pretensão nacional. Essa era a visão predominante até há alguns meses, mas
parecer jurídico indicando chance de sucesso em recursos mudou a tática visível
do PT.
O foco é o PSB, partido que está rachado e sob assédio de siglas como PMDB
e DEM, pelo maior ativo que possui: a candidatura ao governo de São Paulo.
O vice-governador Márcio França é do partido e irá assumir a cadeira de
Geraldo Alckmin quando o tucano se desincompatibilizar para disputar o
Planalto. Ele diz que vai buscar a reeleição, e o PT está disposto a abrir mão
da candidatura de Luiz Marinho se a costura se viabilizar em Estados como o
Ceará e Pernambuco, além obviamente da aliança nacional.
Resta saber como França, que se diz leal a Alckmin, procederia num acerto
desses. O PT aposta que ele não terá muita opção, já que o PSDB terá candidato
próprio ao Palácio dos Bandeirantes.
Tudo isso é central para que o PT consiga construir uma candidatura a
partir da ruína da postulação de Lula. Os nomes mais citados, do ex-governador
Jaques Wagner (BA) e do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad estão longe de
serem conhecidos nacionalmente, o que não precisa ser um problema já que a taxa
de rejeição ao PT vem caindo neste ano em pesquisas eleitorais. Mas a
transferência de votos não é um processo automático, como indicou pesquisa do
Datafolha.
O partido inclusive pode discutir apoio a um nome de fora da sigla, embora
hoje essas possibilidade seja remota. Não menos por falta de opção: o candidato
mais encorpado no campo da esquerda, Ciro Gomes (PDT), queimou as pontes com o
PT após seguidas críticas à postulação de Lula. O resto da tropa é formada por
nanicos.
Por essas e outras o discurso oficial será o de tentar levar Lula até o
fim, mas, como dizem os dirigentes, a ficha caiu. (Em tempo, para quem não é da
época em que se usavam fichas telefônicas em orelhões, a expressão indica que
uma ideia foi assimilada: quando a ligação era completada, a ficha caía dentro
do aparelho.)
Blog: O Povo com a Notícia