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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

2013: Um ano para a música Pernambucana esquecer


Arlindo dos 8 baixos, Dominguinhos, Sanae Shibata, Carlos Fernando, João Silva, Duda da Passira e Reginaldo Rossi são alguns dos nomes que partiram em um ano acometido por tantos infortúnios

A música pernambucana como um todo ficou substancialmente mais pobre ao longo do ano de 2013. Ela perdeu nomes que contribuíram de modo bastante efetivo nas últimas décadas para elevar o nome e a cultura do estado para o patamar que hoje é possível observá-la nos mais diversos gêneros que a constitui. No entanto, um gênero em especial, foi o que mais sentiu a perda de nomes emblemáticos em seu segmento: o forró.

Partiram nomes como Julio Nunes Pereira, ou melhor Duda da Passira. Natural de Passira, no Agreste de Pernambuco, o instrumentista começou a carreira tocando forró pé-de-serra. Com seis discos e mais de dez CDs gravados, em 1991 foi indicado ao Grammy internacional na categoria música regional e veio a sucumbir devido a uma hemorragia digestiva que talvez tenha se agravado devido a diabetes a qual o músico também sofria; Outro que também partiu ao longo deste ano foi o cantor e compositor João Silva. Autor de mais de 2000 composições e inúmeros clássicos interpretados por nomes como Luiz Gonzaga e quase todos os cantores e intérpretes do gênero, João deixa-nos como legado canções como ‘Nem se despediu de mim’, ‘Pagode Russo’, ‘Deixa a tanga voar’ entre tantas outras com os parceiros mais diversos tais quais João do Vale, Onildo Almeida, Rosil Cavalcante, Severino Ramos, Bastinho Calixto, Pedro Maranguape e Pedro Cruz. Nascido em Arcoverde, a 259 quilômetros do Recife, João Leocádio da Silva, o João Silva, foi também um dos responsáveis direto do primeiro disco de ouro de Luiz Gonzaga, o álbum ‘Danado de bom’, que vendeu cerca de 1,6 milhão de cópias vendidas.

Outras lacunas deixadas ao longo deste ano foram ocasionadas pela partida de dois ases da sanfona. De um lado Arlindo dos oito baixos, considerado Patrimônio Vivo de Pernambuco. Nascido em Sirinhaém, Arlindo morou até a adolescência no Engenho Trapiche. Saiu da cana-de-açúcar para cortar cabelos no Cabo de Santo Agostinho. Foi lá que começou a tocar sanfona em bailes, instrumento que aprendeu vendo o pai tocar os Oito Baixos. Foi em um show no Parque de Exposição do Cordeiro que Arlindo conheceu Luiz Gonzaga. Passou 22 anos tocando com o Rei do Baião. “Ele que me fez voltar aos oito baixos. Disse que já tinha sanfoneiro demais, mas ninguém tocava oito baixos. Gravei e na hora de assinar os créditos ele pediu pra trocar Arlindo do Acordeom por Arlindo dos 8 Baixos”, lembrou, em entrevista pouco antes de morrer. Em mais de 50 anos de carreira, Arlindo gravou mais de 200 músicas, a maioria instrumental.

O outro expressivo nome foi Dominguinhos, parceiro e discípulo do maior nome do gênero ao qual tão bravamente defendeu: Luiz Gonzaga. Dominguinhos foi um dos responsáveis não só pela urbanização do forró mais também por manter viva a chama do ritmo em todo o país depois da morte do Rei do Baião. Dominguinhos partiu aos 72 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo depois de lutar por cerca de seis anos contra um câncer de pulmão. Nascido em Garanhuns, no agreste de Pernambuco, o sanfoneiro conheceu Luiz Gonzaga com 8 anos. Aos 13 anos, morando no Rio, ganhou a primeira sanfona do Rei do Baião, que três anos mais tarde o consagrou como herdeiro artístico. “Gonzaga estava divulgando para a imprensa o disco ‘Forró no Escuro’ quando ele me apresentou como seu herdeiro artístico aos repórteres”, lembrava Dominguinhos sempre que questionado sobre o assunto. Instrumentista, cantor e compositor, o artista ganhou em 2002 o Grammy Latino com o “CD Chegando de Mansinho”. Ao longo da carreira, fez parcerias de sucesso com músicos como Gilberto Gil, Chico Buarque, Anastácia, Nando Cordel, Fausto Nilo e Djavan.

Já o frevo perdeu Carlos Fernando vítima de complicações causadas por um câncer de próstata. Natural de Caruaru, o pernambucano foi um dos responsáveis pela renovação do frevo não só em Pernambuco, mas em todo o país através do projeto “Asas da América” e a série de discos lançados até meados da década de 1990. Ainda na mesma década foi responsável pela série Recife Frevoé e nos anos de 2000 foi o produto do álbum “100 Anos de frevo – É de perder o sapato”, em homenagem ao centenário do ritmo. Carlos, ao lado de outros artistas pernambucanos, também participou do Movimento de Cultura Popular de Pernambuco – um dos focos da resistência ao governo militar no estado – ainda na década de 60 e foi autor, entre diversas composições, de “Banho de Cheiro“, eternizada na voz de Elba Ramalho; “Canta Coração“, eternizada por seu parceiro e amigo Geraldo Azevedo. No currículo, o pernambucano deixa como legado centenas de canções (boa parte com Geraldo Azevedo) e intérpretes como Caetano Veloso, Djavan, Chico Buarque, Jackson do Pandeiro e Gilberto Gil.

Não poderia também deixar em branco o infortúnio que vitimou de modo precoce a produtora japonesa Sanae Shibata, de 31 anos. Sanae, que morava no Recife há 10 anos e trabalhava como produtora musical, com trabalhos diversos ligados à valorização da música pernambucana, foi vítima de um atropelamento de moto.

Nascida em Tóquio, e formada em Comunicação Social pela Universidade em Tóquio, estudou cultura nordestina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde também participou do Programa de Pós-Graduação em Antropologia. “Desde 2004 trabalho como produtora cultural, na acessoria entre produtores japoneses e artistas nordestinas”, dizia seu perfil no portal Nação Cultural. A produtora fazia a ponte entre Pernambuco e Japão, levando discos do Estado para a Terra dos “olhos puxados” e desde 2007, Shibata trabalhava com patrimônio imaterial, como pesquisadora de campo para levantamentos pelo Iphan, explorando “Formas de expressão de Pernambuco e Cocos do Nordeste”. A produtora aprendeu a tocar e fabricar a rabeca, instrumento típico do Cavalo Marinho nordestino, na escola de luthieria em Ferreiros, na Zona da Mata Pernambucana.

Por fim, a menos de uma semana, perdemos um dos maiores expoentes do ritmo “brega” que foi Reginaldo Rossi. Com quase 50 anos de carreira Rossi soube como poucos expor as dores e lamentos dos traídos nos 31 discos que lançou. Deixa como legado a irreverência e a imagem peculiar acompanhado por sua cabeleira e seus óculos.

Se de um lado as coisas são desfavoráveis, por outro este ano foram lançados, até agora, entre CDs, DVDs, LPs e EPs, mais de 180 títulos de artistas pernambucanos e a Passa Disco, trincheira de resistência da cultura do estado, chegou a uma década de existência valorizando de modo cada vez mais constante a cultura de Pernambuco. Com informações de PROSÓDIA MUSICAL - Bruno Negromonte/Jornal Besta Fubana.

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