Em conversas que entraram pela
madrugada desta terça-feira (07), o PMDB revelou-se dividido em relação à
sondagem de Dilma Rousseff para que o partido assuma a pasta das Relações
Institucionais, que cuida da coordenação política do governo. Ficou claro que a
eventual transferência do peemedebista Eliseu Padilha do Ministério da Aviação
Civil para o coração do Palácio do Planalto não fará do PMDB um aliado fiel ao
governo. Muito longe disso.
No
modelo de coalizão partidária que vigora no Brasil, articulação política virou
um eufemismo para a troca de cargos e verbas por votos no Congresso. Aí começa
o problema. Na expressão de um membro da Executiva do PMDB, a pasta das
Relações Institucionais é, hoje, um “balcão vazio”. Num governo de continuidade,
não tem cargos a oferecer. Submetida aos rigores orçamentários impostos pelo
ajuste fiscal, faltam-lhe também as verbas.
Sem
essas duas matérias-primas, avaliam caciques do PMDB, ainda que fosse um gênio
da articulação, Padilha não conseguiria pacificar o condomínio governista, que
impõe sucessivas derrotas a Dilma no Congresso. Um correligionário aconselhou
Padilha a refletir sobre sua própria experiência no governo antes de responder
positivamente à sondagem de Dilma.
No
comando do Ministério da Aviação Civil há três meses, Padilha não conseguiu
nomear gestores de sua confiança para a Infraero, estatal que pende do
organograma de sua pasta. Pois a mesma Dilma que o impediu de realizar as
nomeações convida-o agora para gerenciar o balcão vazio, atrás do qual o
petista Pepe Vargas, no momento um quase ex-ministro, virou a personificação do
nada.
Presidentes
do Senado e da Câmara, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, no momento os
principais algozes de Dilma no Legislativo, trataram de tomar distância da
articulação. Se a presidente quiser levar adiante a ideia de transferir Padilha
para o Planalto, diz a dupla, não deve contar com retribuições do PMDB.
A
debilidade de Dilma no Congresso interessa a Renan e a Cunha. Donos da agenda
do Legislativo, os dois servem rações semanais de constrangimento ao governo.
Com isso, as crises política e econômica monopolizam as manchetes, sobrando
menos espaço para o noticiário sobre os inquéritos abertos contra ambos no STF
por suspeita de envolvimento no escândalo das propinas na Petrobras.
Noutro
paradoxo que marca as relações do PMDB com o governo, os presidentes da Câmara
e do Senado defendem a redução do número de ministérios de 39 para 20 e,
simultaneamente, apadrinham nomes distintos para uma mesma pasta, a do Turismo.
Cunha defende a nomeação de Henrique Eduardo Alves, ex-presidente da Câmara.
Renan prefere manter o atual ministro Vinicius Lage, seu apadrinhado. E Dilma
sujeita-se ao contrassenso.
A
transferência de Eliseu Padilha para o Planalto poderia facilitar a resolução
desse impasse. Henrique Alves poderia substitui-lo na pasta da Aviação Civil.
Ou poderia ser efetivado no Turismo se Vinicius, o chegado de Renan, não se
importasse de trocar de ministério.
A
principal conversa da noite ocorreu no Jaburu, o palácio que serve de
residência para o vice-presidente Michel Temer. Amigo de Padilha, Temer
gostaria de vê-lo à frente da articulação política. Mas ouve opiniões
contrárias de outros amigos, que têm o mesmo apreço por Padilha. É o caso de
Moreira Franco, ex-titular da Aviação. Ou de Geddel Vieira Lima, ex-ministro de
Lula e ex-vice-presidente da Caixa.
Moreira
preside no momento a Fundação Ulysses Guimarães, braço acadêmico do PMDB.
Dedica-se a organizar o partido para as eleições municipais de 2016, um pleito
que é tratado pelo PMDB como antessala do lançamento de uma candidatura
partidária às eleições presidenciais de 2018, longe do PT. Para uma legenda que
rumina tais planos, a proximidade com Dilma, presidente aprovada por apenas 13%
dos entrevistados do Datafolha, pode ser letal.
Outro
amigo de Temer, Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Lula e ex-vice-presidente da
Caixa Econômica Federal na primeira gestão de Dilma, vai direto ao ponto ao
expor sua aversão à hipótese de transferência do amigo Padilha para o Planalto.
Em conversa com um amigo, Geddel disse na noite passada que “chegou a hora de
as máscaras caírem”.
Geddel
foi ao ponto: o PMDB tem de dizer quem está indicando quem. Se o partido
estiver interessado em cargos a essa altura, deve parar de fazer “marola” no
Congresso e arquivar o projeto presidencial de 2018. Sob pena de dar razão a
Cid Gomes, que criticara os governistas que armam emboscadas para o governo sem
“largar o osso”. As conversas sobre a sondagem de Dilma prosseguem nesta
terça-feira. A presidente conta com uma resposta rápida. (Por Josias de Souza)
Blog: O Povo com a Notícia