Com a onda de investidas criminosas
contra instituições financeiras em Pernambuco, aumentou a incidência de
bancários afetados por problemas psicológicos em decorrência da violência nas
agências. De acordo com o Sindicato dos Bancários de Pernambuco, apenas neste
ano, mais de 100 funcionários de bancos foram vítimas de assaltos e sequestros
em todo o estado. Desses, 15 pediram afastamento dos cargos, após adoecerem por
causa desse tipo de crime.
No ano passado, o número de pessoas afastadas pelo mesmo
motivo foi de 13, dois a menos que neste ano. Ainda de acordo com o Sindicato
dos Bancários, ao longo dos últimos cinco anos, outras cinco pessoas chegaram
até a ser aposentadas, após desenvolverem doenças psicológicas decorrentes de
assaltos e sequestros. Entre as queixas, estão paranoia, síndrome do pânico,
estresse pós-traumático e depressão.
De acordo com o secretário de Assuntos Jurídicos do
Sindicatos dos Bancários de Pernambuco, João Rufino Filho, nos casos mais
graves, as pessoas chegam até a desenvolver intolerância ao local de trabalho.
“Já tivemos contato com pessoas que, após esse tipo de experiência, pensam
estar sendo seguidas a todo o tempo e têm medo de tudo. Não é incomum, por
exemplo, alguém ter síncopes e vômitos nos bancos onde trabalham, tudo isso
devido ao trauma”, explicou.
Este era o caso da ex-bancária
Juvina Aragão, de 56 anos. Agora aposentada, ela sofreu um assalto em 2001 e,
em 2002, chegou a ser mantida refém por assaltantes e ter uma arma apontada
para a barriga. “Na agência, 12 homens quebraram o vidro. Deitei no chão e não
consegui mais levantar. Eles diziam que iam ‘estourar meus miolos’ e eu não
tinha reação”, disse. À época, Juvina tentou trabalhar por cerca de dois anos,
com sintomas como pressão alta, taquicardia e completa aversão ao ambiente de
trabalho.
Em 2004 ela foi afastada e, em 2007, foi aposentada por
invalidez. “Não tenho uma vida normal. Até hoje, só saio de casa para ir à
igreja ou ao médico e tomo três remédios controlados. Antes de ser afastada,
cheguei a ter três psicólogos na rede pública de saúde, porque o banco não me
ajudou. Eu tinha crises de choro todos os dias e, mesmo com o atestado, diziam
que seria demitida se não fosse trabalhar”, afirmou.
De acordo com a professora da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) e psicóloga especializada em psicologia jurídica Elaine Costa
Fernandes, o tratamento psicológico nesses casos é fundamental. "Para quem
sofre um trauma, a psicologia não é um luxo, é necessidade. Não se pode ignorar
o impacto da violência no psiquismo de cada um, que se apropria dessas
situações de formas diferentes. O nível de vulnerabilidade é muito alto",
explicou.
Ainda segundo Elaine, atos cotidianos passam a ser grandes
desafios na vida de quem sofre um trauma grande. "A pessoa se sente
desprotegida e perde a confiança em muita coisa. Há casos em que doenças
psicossomáticas podem surgir, como dores de barriga ou de cabeça, insônia e até
mesmo o desenvolvimento de cânceres. O problema vira uma bola de neve”, disse.
Prisões: Entre os meses de janeiro e novembro deste ano, a
Polícia Civil de Pernambuco indiciou 272 pessoas suspeitas de envolvimento em
roubos e furtos contra instituições financeiras no estado. No
mesmo período, foram registrados 130 casos na modalidade especial de crimes
contra o Patrimônio, que inclui roubo ou furto a agências bancárias, caixas eletrônicos
e carros fortes. (Via: G1 PE)
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