A expectativa dos eleitores em
relação à classe política é tão baixa que o fato de a Câmara dos Deputados ter
barrado o prosseguimento da denúncia contra o presidente Michel Temer não deve
ter impacto eleitoral significativo. É a opinião do cientista político Claudio
Gonçalves Couto, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.
Professora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Silvana
Krause também não acha que essa votação deve mudar o quadro para 2018, e vê
razões anteriores a este governo para isso. "O descolamento da população
brasileira da representação política não é novidade. A grande maioria do
eleitor brasileiro esquece em quem votou", diz ela.
Ambos falaram brevemente com a reportagem -o primeiro, enquanto a votação
ainda acontecia, e a segunda, logo após o resultado. Eles participam de
congresso da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Ciências Sociais), em Caxambu (MG).
"É mais um episódio que as pessoas vão repudiar, num governo que não
tem mais para onde cair. [Os deputados] não estão tomando uma decisão
inesperada. Ela é ultrajante, mas a gente já está acostumado ao ultraje",
diz Gonçalves Couto.
Ambos acham que a vitória de Temer reflete o espírito corporativo do
Congresso. "Essa votação teve mais a ver com um pacto de autoproteção da
classe", diz Krause. "Temer é uma criação orgânica da classe
política. Ele expressa essa classe como ninguém, o que gera solidariedade. 'Ele
é um dos nossos', dizem. Sendo assim, faz sentido que tenha proteção", opina
Gonçalves Couto.
Os dois também concordam que o fato de Temer ter conseguido barrar a
denúncia contra si não significa que seu governo conseguirá passar as reformas
que prometeu. Gonçalves Couto acha que a reforma da Previdência, por
exemplo, que é uma medida impopular, "já subiu no telhado". "É
muito pouco provável que ele aprove qualquer coisa, inclusive pelo timing.
Ninguém vai querer votar reforma da Previdência a um ano da eleição",
opina.
O cientista político também identifica alguns fatores que, na visão dele,
explicam por que não houve protestos contra o presidente, tanto de movimentos
associados à direita quanto da esquerda.
Para a esquerda, é uma questão estratégica. "Não interessa levar
multidões à rua agora e aí ter outro [presidente] ao qual você não consegue fazer
oposição tão facilmente. É mais fácil fazer oposição ao Temer." Além
disso, a esquerda também tem teto de vidro. "Como é que você vai chamar
pessoas contra o Temer estando você mesmo maculado por uma série de
problemas?", pergunta ele.
Já para a direita, há, segundo Gonçalves Couto, uma lógica de "'antes
os nossos corruptos que os deles'". "Mesmo se ele não estivesse
tentando passar as reformas, é um governo que valoriza a família, que não vai
implementar 'kit gay', enfim."
*A repórter LUIZA FRANCO viajou a convite da Anpocs (Associação Nacional
de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais) - (Via: Agência Brasil)
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