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segunda-feira, 30 de abril de 2018

José Dirceu: Como vou deixar o país se o Lula está preso?

“Como vou deixar o país se o Lula está preso? Não se abandona um companheiro assim. Há erros que você pode cometer. Outros, não.”

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, 72 anos, condenado a mais de 40 na Operação Lava Jato, fez a afirmação acima durante encontro, em Brasília, com a reportagem do Congresso em Foco. Respondia a uma questão que lhe tem sido apresentada com frequência: quais as chances de fugir do país para descumprir uma pena que ele e seus correligionários atribuem a um processo de “perseguição política” ao PT e à esquerda?

Dirceu diz não ver sentido em tal ideia porque Lula, o Partido dos Trabalhadores e a “luta” se tornaram sua vida. Ele admite que deixar o Brasil é um conselho que tem recebido, pessoalmente ou por meio de mensagens, de várias pessoas, mas insiste: “A vida não é assim. Com Lula preso, não há chances de deixar o Brasil”.

No PT, somente o ex-presidente Lula teve mais poder do que ele. Réu na Ação Penal 470, que tratou das responsabilidades criminais pelo mensalão, ele foi condenado em outubro de 2012 por formação de quadrilha. Até recebeu perdão de pena em outubro de 2016, mas continuou preso em razão da Lava Jato. Provocado a comentar a possibilidade de se refugiar em Cuba, onde o remanescente regime socialista da América Latina certamente lhe daria guarida, Dirceu solta um riso largo e ironiza:

“Tem muita gente querendo que eu vá para Cuba mesmo”, comenta, referindo-se à frase que se tornou recorrente entre os adversários do PT: “Vai pra Cuba!”. Enquanto recebe o repórter, aliás, Dirceu ouve a lendária banda cubana Buena Vista Social Club, a mesma que contribuiu para a aceitação de ritmos como salsa e rumba pela alta intelectualidade do Ocidente. Lembra que já morou em Cuba, que, para ele, é uma mistura de Minas com Bahia.

Antes de serem recebidos pelo ex-ministro, os repórteres veem Dirceu reunido, em uma sala à meia luz, com seu advogado. Era mais uma das incontáveis reuniões que têm marcado o cotidiano pós-condenação, no qual ele e seu defensor jurídico conversam sobre o curso do processo conduzido pelo juiz paranaense Sérgio Moro e sobre os seus possíveis desdobramentos. No chão, no quadro encostado em uma das paredes do cômodo, Marlon Brando em O poderoso chefão, exalando o charme dos anos dourados de um cinema que não existe mais.

Em um primeiro momento, instantes depois da chegada da reportagem, a porta da sala se entreabriu para o entra e sai do advogado. Na antessala, sorvete de chocolate e água regam a expectativa sobre o que ele diria, ou mesmo se diria algo, depois da entrevista a Mônica Bergamo, colunista da Folha de S.Paulo. Desde então o petista foi aconselhado por sua defesa a não mais falar com a imprensa. O ex-ministro sai rapidamente, dirige algumas palavras de cumprimento, mas volta para a sala para mais meia hora de conversa privada com seu interlocutor.

Blog: O Povo com a Notícia