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quinta-feira, 31 de maio de 2018

Prisão de Lula deu origem à greve de petroleiros


O acervo de textos e documentos disponíveis no site da Federação Única dos Petroleiros (FUP) revela que a prisão de Lula, em 7 de abril, está na origem da greve de 72 horas deflagrada pela corporação da Petrobras na quarta-feira. Durante a primeira semana de encarceramento de Lula, dirigentes da FUP e de “sindicatos aliados” estiveram em Curitiba. Em 14 de abril, a federação divulgou o documento intitulado “Petroleiros e petroleiras rumo à greve.” Nele, Lula é tratado como “primeiro preso político pós-64.” Os pontos mais relevantes do texto foram destacados em vermelho, na margem esquerda. Num dos tópicos, lê-se: “Reunidos em Curitiba, petroleiros apontaram o caminho da resistência: A GREVE”. (leia a íntegra)

A passagem do sindicalismo petroleiro pela capital paranaense coincidiu com a transferência simbólica da sede do PT para a cidade da Lava Jato, em 9 de abril. Foi nessa época também que o partido e suas ramificações no sindicalismo e nos movimentos sociais instalou o acampamento “Lula Livre” nas imediações da superintendência curitibana da Polícia Federal. Contra esse pano de fundo, os petroleiros decidiram “traçar novas estratégias de luta e garantir a democracia no país.”

O documento de 14 de abril explica o que foi acertado em Curitiba: “Seguindo o indicativo do Conselho Deliberativo, serão realizadas assembleias entre os dias 30/04 e 12/05 para aprovar a greve nacional contra as privatizações do Sistema Petrobrás e retiradas de direitos dos trabalhadores próprios e terceirizados, além da defesa da democracia e contra a prisão política de Lula.” O texto traz declarações do coordenador geral da FUP, José Maria Rangel: “Os golpistas estão acabando com nossa soberania, e fizeram tudo isto com Lula solto. Imagine agora com ele preso, o que serão capazes de fazer com nosso país e com a classe trabalhadora.”


A paralisação de 72 horas foi convocada como uma “advertência”. De acordo com o comunicado divulgado pela FUP na quinta-feira da semana passada, trata-se de “mais uma etapa das mobilizações que os petroleiros vêm fazendo na construção de uma greve por tempo indeterminado.” Nesse texto (íntegra aqui), ao enumerar as razões que motivaram a greve, a entidade sindical omitiu a principal: o encarceramento de Lula. Preferiu pegar carona na paralisação dos caminhoneiros, apoiada por 87% dos brasileiros, segundo o Datafolha.
Eis o que escreveu a FUP no comunicado sobre sua greve de advertência: “Os eixos principais do movimento são a redução dos preços dos combustíveis, a manutenção dos empregos, a retomada da produção das refinarias, o fim das importações de derivados de petróleo, não às privatizações e ao desmonte da Petrobrás e pela demissão de Pedro Parente da presidência da empresa.”
Em 15 de maio, num manifesto sobre a greve nacional que virá depois da paralisação de advertência, a FUP foi mais explícita. Chegou mesmo a ilustrar o texto com uma foto de Lula (veja a imagem abaixo e leia a íntegra aqui). O documento informa que, nas mesmas assembleias em que aprovaram a ''greve nacional'', os petroleiros endossaram ''um manifesto público em defesa da soberania, pela democracia e contra a prisão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.''
Deve-se a prisão de Lula à condenação que amargou no caso do tríplex no Guarujá. Nesse pedaço do escândalo, a primeira e a segunda instância do Judiciário consideraram que a empreiteira OAS utilizou dinheiro roubado em contratos com a Petrobras para presentear Lula com um apartamento na praia. Ironicamente, o sindicalismo dos petroleiros jamais se insurgiu contra o saque praticado na Petrobras pelo conluio que reuniu funcionários desonestos, partidos dinheiristas e empreiteiras corruptoras. Ao contrário, a federação dos petroleiros tornou-se uma crítica ácida da Lava Jato.
Num texto recente, de 17 de maio, a entidade tratou da ruína do Comperj, o complexo petroquímico do Estado do Rio de Janeiro. Anotou coisas assim: “Tudo começou a ruir há 4 anos, quando a Operação Lava Jato, comandada pelo juiz Sergio Moro, passou a interferir nos negócios da Petrobras e afetou toda a cadeia produtiva do petróleo e gás, incluindo construtoras. A construção da Comperj foi uma das obras mais afetadas e parou totalmente, em especial na gestão do atual presidente da Petrobras, Pedro Parente, colocado no cargo pelo golpista e ilegítimo Michel Temer (MDB-SP).” (íntegra aqui)
Quer dizer: para a FUP, quem arruinou a Petrobras foi Sergio Moro, não a promiscuidade que uniu as oligarquias política e empresarial numa aliança iniciada sob Lula e mantida na gestão de Dilma Rousseff. Para o sindicalismo petroleiro, a Lava Jato pecou porque não soube preservar as empresas enquanto punia “as pessoas que praticam ilegalidades”. No Brasil, escreveu a FUP, ''pune-se o CNPJ, sem preocupações com o impacto econômico que isso representa.” Paradoxalmente, a mesma entidade enxerga Lula, a pessoa física mais graúda que a investação alcançou, como uma vítima de perseguição, o “primeiro preso político pós 64.”
A pedido da Advocacia-Geral da União e da Petrobras, o Tribunal Superior do Trabalho declarou a ilegalidade da greve dos petroleiros. O movimento foi considerado ''político-ideológico''. Fixou-se multa diária de R$ 500 mil para o caso de descumprimento da ordem judicial. A FUP e a sua malha sindical deram de ombros (assista vídeo abaixo). Nesta quarta-feira, em nova petição à Jutiça do Trabalho, a advocacia da União pediu e obteve a elevação da multa, que passou para R$ 2 milhões por dia. Há 18 entidades sindicais envolvidas na paralisação. Se todas forem multadas, como deseja o governo, a conta será salgada: R$ 36 milhões por dia de paralisação. Muito custo para pouco resultado, pois Lula continua preso. E Pedro Parente ainda está sentado na cadeira de presidente da Petrobras. (Via: Blog do Josias de Souza)
Blog: O Povo com a Notícia