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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Explosão de internações e fila de vaga por UTI viram rotina pelo país no auge da pandemia

Superlotação, filas por vaga em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e o risco iminente de colapso na rede de saúde se tornaram cena comum em estados brasileiros nos últimos dias, no pior momento da pandemia de Covid-19 no país.

O Brasil registrou o maior número de mortes pela doença em 24 horas em toda a pandemia nesta quinta-feira (25) –foram 1.582 óbitos, exatamente um ano após o primeiro caso de Covid-19 ser diagnosticado. Um antes, na quarta-feira (24), o Brasil chegou à marca de 250 mil vidas perdidas para a doença.

Sete dos dez dias com mais mortes no país ocorreram em 2021. Nesta quinta o país também registrou um recorde de média móvel de óbitos –ela é calculada somando o resultado dos últimos sete dias, dividido por sete.

Estados do Sul, cidades do interior de São Paulo e a Bahia são exemplos de como a Covid-19 avançou, o que fez governos anunciarem a suspensão de cirurgias e de aulas presenciais, entre outras medidas.

Os três estados do Sul têm enfrentado uma explosão de internações nos últimos dias, provocando medo e insegurança.
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul falam em iminente colapso devido à velocidade das contaminações e do agravamento da doença.

A mudança de perfil dos pacientes, cada vez mais jovens, e a rapidez de piora dos quadros impressionam quem trabalha nos hospitais. No Moinhos de Vento, em Porto Alegre, foram abertas nos últimos dias duas alas de UTI dentro do setor de emergência. Em uma, com dez vagas, só um paciente tem mais de 60 anos, e a unidade funciona com superlotação.

"É a pandemia em situação catastrófica. Não sabemos exatamente o que está acontecendo, se está circulando alguma variante do vírus, se é efeito do pós-Carnaval, e não podemos excluir a hipótese de agravamento do vírus porque muita gente tem usado corticoides na fase pré-hospitalar, o que gera efeitos", disse o superintendente médico do hospital, Luiz Antônio Nasi.

A situação é ainda mais crítica no setor público. O número de internações mais que dobrou no último mês no estado e, se o ritmo for mantido, faltarão leitos, de acordo com a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann.

"Já estou enxergando o pico do Everest. Estamos aqui apavorados", disse nesta quinta o governador Eduardo Leite (PSDB) em reunião com prefeitos. Leite determinou a suspensão por nove dias do sistema de cogestão, que autoriza municípios a adotarem medidas mais brandas, para endurecer o combate à propagação do vírus.

Com 91% dos leitos ocupados na rede pública e ultrapassando 100% nas unidades particulares, taxas recordes, o governo acionou o último nível do plano de contingência hospitalar, suspendendo cirurgias e determinando que as instituições usem todos os espaços para atender casos de Covid-19.

"O perfil mudou, há muitos pacientes jovens, com deterioração do estado muito rápida. Às vezes chega na emergência num dia e no outro já está na UTI intubado. O que assusta é também o grau de contaminação porque há 15 dias a situação estava praticamente sob controle", disse Antonio Kalil, diretor médico da Santa Casa de Porto Alegre.

Diante do cenário calamitoso, o Tribunal de Justiça determinou a suspensão das aulas presenciais da rede pública de ensino da capital.

Em Santa Catarina, onde a taxa de ocupação de leitos gira em torno de 90%, com registros de filas por UTI em várias cidades, o secretário da Saúde também já usa a palavra colapso para resumir o cenário.

"A situação da pandemia deteriorou no estado todo e, a exemplo do que acontece nas regiões mais a oeste, estamos entrando em colapso. Todos os esforços de estado e municípios, até então, são insuficientes em face à brutalidade da doença", escreveu André Motta em mensagem a prefeitos.

A partir desta quinta-feira, novas regras entrarão em vigor por 15 dias: o horário de funcionamento e a lotação de parques, museus e igrejas foram limitados, casas noturnas foram fechadas e ônibus devem circular com 50% da capacidade. Aulas presenciais na rede pública foram mantidas.

As medidas são ainda mais rigorosas na região oeste, pior cenário no estado. "O sistema de saúde já está colapsado em todo o estado e está colapsando em todo o Brasil", disse o prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD).

Na segunda (22), o secretário da Saúde do Paraná, Beto Preto, afirmou que o estado está em "colapso iminente" do sistema diante da rápida alta de internações.

Na quarta, 600 pacientes com suspeita ou confirmados com a doença aguardavam vagas em hospitais, 185 para UTIs. Apenas uma das quatro macrorregiões do Paraná está com menos de 90% das UTIs ocupadas.

A Bahia também enfrenta filas de pacientes por uma vaga em UTI, o que fez o governo estadual e a Prefeitura de Salvador anunciarem a restrição total de atividades não essenciais e a suspensão de cirurgias eletivas nas redes privadas e públicas.
As cirurgias não emergenciais serão suspensas por dez dias. Já a restrição das atividades não essenciais valerá das 17h desta sexta (26) até as 5h de segunda (1º).

"Faço meu apelo que baianos e baianas compreendam a importância das medidas e respeitem o decreto estadual", escreveu o governador Rui Costa (PT) em redes sociais.

À reportagem Rui Costa disse que prevê que "a saúde vai colapsar e o Brasil mergulhará no caos em duas semanas".

"Já estamos vendo o problema se agravar no país todo. No Rio Grande do Sul, na Bahia, no Ceará. Nunca tivemos uma situação igual", afirma.

Ele afirma que já tinha mil leitos de UTI exclusivos para Covid-19. Há dez dias, abriu mais 200. "E eles lotaram de uma hora para a outra, da noite para o dia", afirma. A situação é tão dramática que há hoje 195 pacientes na fila da UTI, necessitando de tratamento intensivo sem ter como recebê-lo.

Dos 14 hospitais em Salvador que atendem o SUS, 6 apresentam taxa de ocupação de UTI de 90% ou mais. "Nunca vivi uma cena dessas. É muito triste. Estamos perto do colapso", disse o secretário da Saúde de Salvador, Leonardo Prates. O ginásio de Itapuã, na capital, será transformado em hospital de campanha.

O cenário também é muito crítico em cidades do interior paulista, como Araraquara, que teve ocupação de 100% dos leitos de UTI e de enfermaria a semana inteira. Sete pessoas morreram nesta quarta, recorde. Já são 192 mortes, 100 em 2021.
A alta ocupação de leitos, a suspeita de circulação da nova cepa e o fato de mais jovens estarem sendo contaminados fez com que Campinas anunciasse o adiamento da volta às aulas presenciais na rede municipal.

Antes prevista para a próxima segunda, no mínimo elas serão retomadas em 5 de abril. A ocupação de leitos de UTI sob gestão municipal está em 97%.

Com 72% dos leitos municipais de UTIs para tratamento de Covid-19 ocupados, a Prefeitura de São Paulo tem tentado antecipar a vacinação de idosos. No sábado (27), os paulistanos com 80 a 84 anos já começam a ser imunizados, dois dias antes do previsto pelo governo do estado.

Levantamento da Secretaria Municipal da Saúde aponta que 45,9% dos idosos com mais de 75 anos internados para tratar a doença acabam morrendo. Os dados ainda apontam uma tendência de alta nos casos de internações por síndrome gripal.
No Centro-Oeste, o aumento da procura por atendimento para Covid-19 e a busca por leitos de UTI em Brasília fizeram com que os governadores do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), trocassem farpas nesta semana.

O atrito começou começou após cidades do Entorno Sul entrarem na área vermelha de contágio, desde o dia 17 de fevereiro. Isso significa que estão em situação de calamidade. A recomendação do governo de Goiás seria o lockdown.

Diante desse cenário, os prefeitos de Águas Lindas de Goiás, Cidade Ocidental, Luziânia, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso de Goiás chegaram a propor uma solução conjunta, na qual o Entorno e o Distrito Federal adotariam lockdown.

A população das cidades vizinhas transitam pelo DF, e a movimentação se intensificou por causa do estado de calamidade.
As duas regiões vivem situações difíceis por causa da pandemia. No DF, a taxa de ocupação dos leitos era de 77,2% e em Goiás, de 82,28% nesta quinta-feira (25). O DF chegou a atingir 90,3% de ocupação na segunda-feira (22).

Ibaneis disse que "os atendimentos estavam ficando nas suas costas". O governador descartou lockdown, ameaçou fechar as divisas no início da semana e cobrou providências de Caiado. Segundo Ibaneis, 25% dos pacientes internados no DF eram do estado vizinho.

"Diante de um momento tão delicado vivido por todos nós, onde a maioria dos governadores se une para ajudar os que mais necessitam, causa repúdio e nojo ler uma declaração estapafúrdia do governador do DF, Ibaneis Rocha, de que vai fechar as fronteiras [divisas] do DF com Goiás", escreveu Caiado, em redes sociais, na terça-feira (23).

Um dia depois, Ibaneis retrucou. Segundo ele, Caiado deveria, em vez de responder, assumir a responsabilidade e encontrar uma solução. No entanto, afirmou que não pretendia deixar de atender ninguém.

"Eu queria que a resposta dele viesse em trabalho, tem um ano que estamos na pandemia e ele não conseguiu terminar o hospital de Águas Lindas. Ele se mostra um governo incompetente na área da saúde", afirmou Ibaneis, em um evento.

A reportagem procurou o governo de Goiás para se manifestar, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.
Nesta quinta, com um discurso mais ameno, Ibaneis disse que será feita uma pactuação para que pacientes do Entorno continuem sendo atendidos, mas a verba que seria destinada para os municípios será encaminhada ao DF.

A proposta será criada em conjunto pelas autoridades e, para entrar em vigor, precisa ser aprovada na Câmara Legislativa do Distrito Federal e na Assembleia Legislativa de Goiás. A previsão é que em março o repasse já comece a ser feito.

O governador não descartou fazer lockdown em todo o DF caso ocorra a transmissão comunitária da nova variante do coronavírus.

Os governadores prometeram aumentar o número de leitos de UTI. Ibaneis disse que semanalmente tem ocorrido a ampliação de leitos. "Vamos aumentar o número de leitos até que se consiga aumentar a vacinação e se reduza o número de infectados."

Já Caiado postou em redes sociais que abriria ao menos mais 70 leitos de UTI. "Na primeira semana de março abriremos o Hospital de Uruaçu com projeção de mais 60 leitos de UTI para desafogar ainda mais o sistema de saúde. Estamos abrindo mais 10 leitos em Iporá, mais leitos em Quirinópolis e o trabalho não para", escreveu, em rede social. (Via: Folhapress)

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