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sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Aumento do consumo de Ivermectina pode ser responsável por surto “de sarna” no Recife

Com sintomas muito parecidos aos da sarna, o surto que se alastra na Região Metropolitana do Recife (RMR) pode ter sido motivado pelo uso indiscriminado de Ivermectina durante a pandemia. Pelo menos 264 moradores de seis cidades já apresentam lesões cutâneas, que ainda estão sendo investigadas pelas secretarias de saúde municipais.

Espalhados em Olinda, Jaboatão, São Lourenço, Camaragibe, Paulista e Recife, os pacientes se queixam de uma forte coceira que se intensifica à noite e evolui para feridas, mesmo com o uso de antialérgicos.

Antiparasitário, foi incluso no polêmico “kit covid” defendido pelo Governo Federal, junto com outras substâncias sem nenhuma evidência científica que indicasse seu uso contra a Covid.

Alguns profissionais continuaram prescrevendo a substância, mesmo após o próprio fabricante reprovar essa indicação. Pessoas também tomaram o remédio por conta própria, confiando na suposta eficácia propagada por alguns planos de saúde e também por integrantes do “gabinete paralelo”, que teria sido formado para aconselhar o presidente Jair Bolsonaro.

Pesquisa alertou para possível surto em agosto

Um estudo publicado no dia 15 de agosto deste ano, por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), deu sinais de que o uso indiscriminado do remédio pode ter desenvolvido a super-resistência do Sarcoptes scabiei, ácaro responsável escabiose, também conhecida como sarna humana.

Além de questões de climáticas e socioeconômicas, os fatores que podem ter contribuído para a evolução do parasita se relacionam ao aumento da dosagem e uso repetitivo da Ivermectina em um curto intervalo. Por isso, também não está descartado o aumento da resistência de outros parasitas, como piolhos.

“Fatores como evidências de resistência do Sarcoptes scabiei à ivermectina e intensificação de fatores relacionados à incidência de escabiose como pobreza, baixa escolarização, confinamento familiar e aumento de compartilhamento de artigos domésticos podem levar à manifestação de surtos de escabiose. Este aumento pode ser especialmente danoso para pacientes pediátricos de baixa renda, além dos riscos à saúde da população em geral”, apontou o estudo liderado pelo professor Alfredo Dias, que já alertava sobre a possibilidade do surto antes do primeiro registro em Pernambuco.

O estudo também citou que a partir de junho de 2020, as vendas de ivermectina no Brasil aumentaram consideravelmente, passando de R$ 44 milhões em 2019 para R$ 409 milhões, uma alta de 829%. Há quem diga que foi mais.

Pode ser ainda mais grave

Comprovada ou não a relação entre o surto e o uso indiscriminado de Ivermectina, o fato é que a doença causa preocupações ainda maiores do que uma coceira ou danos à pele.

“A persistência e difusão da escabiose pode causar aumento de mortalidade em crianças devido a infecções secundárias, e prejudicar seu desenvolvimento pois leva a distúrbios do sono, reduzindo a sua capacidade de concentração e produtividade, além dos riscos à saúde da população em geral”, conclui o estudo conduzido na UFAL.

Sem prazo para a confirmação

Ainda classificada como “lesão cutânea a esclarecer”, outra linha de investigação aponta a possibilidade da doença ser causada por mosquitos.

A Secretaria de Saúde do Recife, primeira a registrar o surto, acompanha os casos desde o início de outubro e emitiu alerta epidemiológico para controlar as ocorrências junto ao Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs). A pasta não deu prazo para confirmar a causa da doença.

A Secretaria Estadual de Pernambuco destacou que as secretarias municipais ficam responsáveis pelas investigações.

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