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terça-feira, 30 de novembro de 2021

Ministério Público faz cinco novas denúncias contra ginecologista por crimes sexuais contra pacientes

O Ministério Público de Goiás ofereceu, nesta terça-feira (30, mais cinco denúncias contra o médico ginecologista Nicodemos Junior Estanislau, de 41 anos, por crimes sexuais, em Anápolis, a 55 km de Goiânia. Os promotores o denunciaram por estupro contra 39 mulheres e por violação sexual contra outras três.

O médico sempre negou as denúncias e disse que jamais tocou as pacientes de forma indevida. O advogado dele disse ao g1 que não havia sido notificado das novas denúncias até as 19h20 desta terça-feira e que só vai se manifestar após tomar conhecimento do caso.

Outras duas denúncias já haviam sido oferecidas em outubro contra o acusado, uma em Anápolis e outra em Abadiânia. Ele já é réu por estupro de vulnerável envolvendo três mulheres de Abadiânia.

De acordo com o MP, a Justiça de Anápolis ainda não havia aceitado a primeira denúncia, também por estupro de vulnerável, contra ele até a noite desta terça-feira. Os processos contra o ginecologista correm em segredo de Justiça. O MP informou que o médico seguia preso no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia até o final desta noite.

Ele se tornou alvo de investigação depois que mulheres procuraram a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Anápolis para denunciar que foram vítimas de crimes sexuais dentro do consultório. No início foram três mulheres, mas o caso ganhou repercussão e outras vítimas apareceram para fazer denúncias.

Investigação

As primeiras denúncias contra o médico que levaram à primeira prisão dele em Goiás surgiram em Anápolis. A delegada Isabela Joy, responsável pelas investigações, deteve Nicodemos em 29 de setembro. Depois da divulgação dos casos, mais de 50 mulheres registraram ocorrência.

No processo contra ele pela Polícia Civil de Anápolis, o médico foi indiciado por:

22 casos de estupro de vulnerável

22 casos de violação sexual mediante fraude

9 casos de assédio sexual

Apesar do número de denúncias, o médico foi solto em 4 de outubro por decisão da Justiça, passou a ser monitorado por tornozeleira eletrônica. No entanto, mais vítimas de Abadiânia registraram ocorrência e ele foi preso novamente quatro dias depois.

Apuração do MP

O MP informou ainda que foram analisados os relatos de todas as mulheres que noticiaram o ocorrido à Polícia Civil de Anápolis. Das 51 vítimas que relataram à polícia o que passaram dentro do consultório médico, o órgão disse que ouviu novamente 38 delas.

Em seis dos casos registrados na delegacia, a conclusão dos membros do MP foi de que não houve nenhum crime, tendo sido requerido o arquivamento destes casos.

A estimativa dos promotores de Justiça é que, caso condenado em todos os processos, a soma das penas que podem ser aplicadas ao médico alcançaria patamar superior a 300 anos.

Relatos de pacientes

As pacientes relatam diversos tipos de comportamentos e comentários com conotações sexuais por parte do ginecologista.

Uma das vítimas disse que, durante uma consulta no ano passado, o médico elogiou seus olhos e também o órgão sexual. Em seguida, perguntou sobre sua relação sexual com o marido.

“Eu fiquei congelada e ele fazendo manipulações, isso tudo com os dois dedos introduzidos na minha vagina. Eu não consegui nem respirar no momento. É uma situação que a gente nunca espera que vai acontecer”, contou.

Outra paciente relata que foi abusada pelo ginecologista durante o atendimento. Ela decidiu falar sobre o caso após a prisão do suspeito.

“Ele teve conversas inadequadas, me mostrou sites obscenos, brinquedos eróticos e tocou em mim não da forma que um ginecologista deveria tocar. Quando ele colocou minha mão na parte íntima dele, sabe?”, disse a paciente, que não quis se identificar.

Entre as denúncias, também está a da aromaterapeuta Kethlen Carneiro, de 20 anos, que procurou a Polícia Civil para relatar que foi abusada por ele quando ainda tinha 12 anos. Durante o atendimento, segunda ela, o médico sugeriu a leitura de material pornográfico.

“Ele veio me falar que eu podia começar a me masturbar. Me mostrou histórias em quadrinho pornô e vídeos. Me mandando os links e quais eu podia assistir. Depois levantou, pegou minha mão e colocou nele, na parte íntima dele", disse.

Em conversa por uma rede social, outra paciente pede informações ao ginecologista sobre o uso do anel vaginal, um método contraceptivo. Em um momento, ela pergunta se ele não atrapalha a relação sexual e se o parceiro não o sentiria. O médico, então, responde:

“Bom, minha namorada já usou e eu não percebi diferença alguma. Posso testar kkk. Brincadeira”.

Como o caso corre em segredo de Justiça, a reportagem não conseguiu apurar se as vítimas acima estão inclusas nas denúncias oferecidas até esta terça-feira contra o médico.

'Brincadeira'

Nicodemos Júnior nega os assédios. Ele disse que comentários em aplicativos de mensagens eram “brincadeira” e admitiu que isso foi um erro.

"É muito complexo. Eu brinco com algumas coisas. Às vezes, nisso, eu pequei, realmente. (...) Mas, nunca, em nenhum momento, eu toquei em uma paciente com objetivo de ter prazer sexual ou de fazê-la ter um prazer sexual, porque o objetivo ali é o exame físico", disse.

Nos relatos das pacientes consta que o médico fazia muitas insinuações de cunho sexual, entre elas: "transar fortalece amizade" ou "faz o bronzeamento e me mostra".

"Muitas vezes, elas falam, 'olha, doutor, eu fiz alguma coisa assim, será que vai acontecer alguma coisa?'. Um erro meu, concordo, brinco no WhatsApp, comento alguma coisa de uma forma inadequada. Concordo que eu fiz isso, nisso eu estou errado", admitiu. (Via: G1)

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