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sábado, 29 de outubro de 2022

Bolsonaro e Lula escolhem briga e deixam propostas de lado em último debate

Os candidatos que chegaram ao segundo turno da disputa pela Presidência da República nas eleições de 2022 desperdiçaram a última oportunidade para falar aos eleitores que vão às urnas no domingo (30/10). O debate promovido pela Rede Globo na noite dessa sexta-feira (28/10) foi marcado por muito bate-boca e poucas propostas.

Quem assistiu ao evento televisivo ficou sem ter informação suficiente sobre os programas de governo do candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), e do desafiante, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas passou mais de duas horas vendo os dois se chamando de “mentiroso”, “bandido”, “descompensado”, “abortista”, entre outros xingamentos.

Atrás nas pesquisas e precisando desestabilizar o adversário para ganhar o embate, Bolsonaro tomou a iniciativa na agressividade e partiu para cima de Lula com tom forte, principalmente nos dois primeiros blocos, enquanto Lula tentava responder com ironia.

Sorteado para iniciar, Bolsonaro até começou com uma novidade, uma promessa nova num assunto que vem machucando sua campanha nesta reta final: o salário mínimo. Acusado por Lula de ter passado o mandato sem dar reajuste acima da inflação, o atual mandatário prometeu um mínimo de R$ 1.400 em 2023, se for reeleito. O valor é quase R$ 100 maior do que o proposto pelo governo ao Congresso.

O atual chefe do Executivo federal começou o debate pelo ponto considerado mais sensível na campanha de Lula, a corrupção. Com gritos, o candidato à reeleição chamou o petista de “bandido” e relembrou os casos descobertos durante a gestão do ex-presidente, como os desvios na Petrobras. Lula respondeu com ironias: “Parece que meu adversário está descompensado”, disse.

Já nos primeiros minutos, os dois candidatos começaram a se chamar de mentirosos e trocar acusações. Quando Bolsonaro disse que Lula escondia aliados enrolados com corrupção, Lula trouxe à tona o caso Roberto Jefferson, aliado do presidente que resistiu à prisão atirando contra policiais no último domingo (23/10).

“Ele sabe quem esconde. Acabou de tentar esconder o Roberto Jefferson, o pistoleiro dele“, disparou Lula, que citou acusações de corrupção no governo Bolsonaro, como o dos pastores lobistas do Ministério da Educação. O atual presidente não respondeu sobre o tema até o terceiro bloco, quando voltou a ser cobrado por Lula sobre ter escondido o aliado e condenou sua atitude, como já havia feito nas redes sociais: “Quem atira em policial é bandido”.

Na parte final do primeiro bloco, Lula levou o assunto para a política externa e acusou Bolsonaro de isolar o Brasil. O atual chefe do Executivo federal respondeu citando a ligação do petista com ditaduras de esquerda, como Cuba e Venezuela. “Pare de mentir, estamos bem. […] Negociei fertilizantes com a Rússia”, afirmou Bolsonaro.

No primeiro bloco, todo em tom agressivo, quem perdeu foi o eleitor, que esperava debate de ideias e propostas. A troca de ironias e agressões foi tão grande que até o apresentador do debate, William Bonner, se deu um direito de resposta após ser citado por Bolsonaro por ter dito, em sabatina no Jornal Nacional, que Lula não devia nada para a Justiça. O jornalista disse que falou com base em decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo bloco

Sobretudo por iniciativa de Bolsonaro, o tom bélico permaneceu na volta do intervalo, que tinha seis temas pré-definidos pela produção.

Primeiro a falar no segundo bloco, Lula escolheu o tema combate à pobreza. “Por que o povo ficou tão miserável depois que você assumiu a Presidência?”, perguntou ele a Bolsonaro, que questionou o número de pessoas com fome mencionado por Lula (33 milhões) e citou os programas de distribuição de renda de seu governo, ressaltando que o Auxílio Brasil é melhor do que o Bolsa Família.

Bolsonaro também culpou a pandemia de coronavírus pelo aumento da miséria e criticou a política do “fica em casa”. “Quem está com necessidade, é só se cadastrar no Auxílio Brasil, Lula”, disse o presidente, que também chamou o adversário de “grande farsante”.

O candidato à reeleição escolheu o tema “respeito à Constituição” e disse que o petista desprezou as leis ao permitir que o MST invadisse propriedade privada em seu governo. Lula respondeu afirmando que, na realidade, disponibilizou terra para a produção de comida no país durante seu governo.

Lula escolheu levar o tema do aborto para o debate, ao citar discurso de Bolsonaro como deputado nos anos 1990, dizendo que ele defendeu a distribuição de pílulas abortivas. Bolsonaro reagiu dizendo que pode ter falado no assunto, “mas há 30 anos”, enquanto Lula teria falado do aborto “há alguns dias”. “Você é abortista”, repetiu Bolsonaro várias vezes, com o petista negando.

Terceiro bloco com Viagra

Após dois blocos de muita briga, Lula prometeu levar propostas para o terceiro bloco e escolheu a pandemia como assunto. “Por que negar a doença, esconder seu cartão de vacina, acabar com 33% de recursos da Farmácia Popular?”, perguntou o petista, que também falou sobre a demora para comprar vacina contra a Covid-19.

Após Bolsonaro defender a gestão da pandemia feita por seu governo, Lula resolveu trazer uma nova polêmica ao debate e perguntou sobre a compra de Viagra pelas Forças Armadas. Veja:

No fim do terceiro bloco, os candidatos começaram a mostrar sinais de cansaço, brigaram menos e falaram um pouco mais com os eleitores, fazendo propostas e defendendo suas respectivas gestões.

“A violência comigo diminuiu bastante. No seu governo só subiu e aumentaram, em média, 30% os homicídios no Brasil”, afirmou Bolsonaro.

O candidato à reeleição também se beneficiou de um erro que Lula já havia cometido no debate anterior entre os dois, na Band.

Com mais de dois minutos para falar no fim, Bolsonaro fez acenos ao Norte e Nordeste e prometeu investimentos que gerem empregos. Também voltou a exaltar medidas de governo, como a renegociação do Fies e a conclusão das obras da transposição do Rio São Francisco.

Mais do mesmo no quarto bloco

O cansaço dos candidatos ficou mais evidente no quarto bloco. Bolsonaro, nervoso no início, também pareceu mais relaxado e conseguiu alguns bons momentos contra Lula em frases de feito, como quando disse que ele “não fez nada lá trás”, em referência ao tempo em que o petista foi presidente. “Não vai fazer nada para a frente também”, emendou.

Os dois também debateram sobre desmatamento da Amazônia – cada um com seus números favoritos. “Até quando o senhor vai continuar a política de desmate dos biomas brasileiros?”, perguntou Lula a Bolsonaro.

Em resposta, o presidente disse que desmatamento foi maior durante governos petistas. “O clima não é só sobre a região amazônica, mas outras questões. Mas o que tu acha do teu desmatamento e do meu?”, indagou o presidente.

Deputado federal?

O cansaço que tomou os presidenciáveis após tanta briga ficou evidente no semblante deles nas considerações finais. Bolsonaro ainda conseguiu um momento final de destaque, mas como piada, ao confundir o cargo ao qual está concorrendo.

Ele pedia votos dos espectadores e agradecia a Deus por concorrer mais uma vez. “Estou pronto para cumprir mais um mandato como deputado federal”, disse, se corrigindo em seguida: “Presidente da República”.