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quinta-feira, 30 de março de 2023

Como advogada do CE se aliou a traficante de cocaína da fronteira com a Bolívia e entrou para facção

Antes de ser presa na Operação 'Sarmat', a advogada Wanessa Kelly Pinheiro Lopes, de Boa Viagem, Interior do Ceará, passou meses sob investigação da Polícia Civil. Um extenso relatório no Núcleo de Inteligência Policial da Delegacia de Narcóticos aponta o caminho tomado por Wanessa, que teria se valido da advocacia para integrar uma facção criminosa e se aliar a um traficante da fronteira entre Brasil e Bolívia.

A Polícia chegou ao nome da advogada a partir de uma investigação iniciada ainda em 2021. Quando uma série de homicídios aconteceu na região dos bairros Bonsucesso e João XIII, a mando de uma facção carioca, investigadores prenderam os suspeitos pelos crimes e analisaram dados dos celulares apreendidos, após autorização judicial.

A partir da análise do celular de Caio da Rocha Freire, o 'Bazuca', a Polícia verificou indícios de movimentação financeira referente ao tráfico de drogas envolvendo o suspeito e Helder Paes de Oliveira Júnior, residente da cidade de Guajará-Mirim, em Rondônia, fronteira com a Bolívia.

Não demorou até que as autoridades localizaram outras transações financeiras atípicas para Helder.

O Laboratório de Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro da PCCE encontrou 31 transações, sendo de três pessoas jurídicas, com domicílio no Ceará. A advogada Wanessa Pinheiro era uma delas.

Conforme documentos que a reportagem do Diário do Nordeste teve acesso, a advogada transferiu R$ 38,5 mil para Helder Paes de Oliveira Júnior, também alvo da Operação 'Sarmat', deflagrada neste mês de março.

Os advogados dos investigados não foram localizados pela reportagem

DENTRO DOS PRESÍDIOS

Os passos de Wanessa Kelly Pinheiro passaram a ser seguidos pelos investigadores. Na apuração, a Polícia verificou que a investigada está cadastrada junto ao Sistema Penitenciário como “companheira” de José Glauberto Teixeira do Nascimento, o 'Gleissim'.

Glauberto é apontado como líder de uma facção carioca e nome conhecido na Segurança Pública do Ceará.

O homem tem extensa ficha criminal, incluindo organização criminosa, tráfico de drogas (já sendo preso pela Polícia Federal em posse de mais de 30 quilos de pasta base de cocaína), ataque a carro-forte e é suspeito de comandar rebeliões em presídios.

As visitas de Wanessa a Glauberto se tornaram frequentes. Só em outubro de 2022, ela teria ido a uma unidade prisional nove vezes, ao encontro do suposto companheiro.

Além de 'Gleissim', a advogada já teria visitado um outro membro da facção carioca, conhecido no Ceará: Max Miliano Machado da Silva, conhecido como `Lampião`.

FACILITAÇÃO DE MENSAGENS

De acordo com a investigação da Polícia Civil do Ceará, a relação entre Max Miliano e Wanessa ia além de um trato entre cliente-advogado. "A análise do relatório permite concluir pela existência de indícios de utilização de serviços ilícitos prestados por advogado(s) a integrantes da facção criminosa CV, mais especificamente em relação à facilitação de comunicação (envio de recados/mensagens de interesse da organização criminosa) entre os indivíduos reclusos e os que estão em liberdade", afirmam os policiais sobre os bastidores dos encontros.

"O conteúdo do relatório de análise, aliado aos demais elementos informativos coletados permitem concluir pela existência de fortes indícios de que a investigada Wanessa Kelly esteja não apenas transmitindo mensagens de indivíduos integrantes da facção criminosa, mas também realizando movimentações financeiras relativas ao tráfico de drogas, no interesse da facção criminosa Comando Vermelho"

PCCE

Consta ainda nos documentos que os depósitos e transferências bancárias para Helder Paes são recentes, ainda do último ano de 2022, indicando que "o investigado permanece praticando a atividade criminosa, remetendo imensurável quantidade de cocaína para o Estado do Ceará, tendo como um de seus “depositantes” a investigada Wanessa Kelly".

O QUE DIZ A OAB

A Ordem dos Advogados do Brasil, Secção Ceará e a sua Subsecção Iguatu disse que foi informada da prisão e acompanha o caso.

A reportagem apurou que no último dia 16 de março, o presidente do Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da OAB Ceará instaurou processo administrativo disciplinar para a apuração da infração ética e/ou disciplinar, inclusive com a aplicação da suspensão preventiva quando constatada a “repercussão prejudicial à dignidade da advocacia”.

Mas, até a noite dessa sexta-feira (24), a situação da advogada permanecia como 'regular' no Cadastro Nacional dos Advogados (CNA). O processo disciplinar tramita em sigilo.

BLOQUEIO DE BENS

A Operação Sarmat foi deflagrada na manhã de 16 de março de 2023, com objetivo de descapitalização bancária de grupos criminosos e combate ao tráfico interestadual de drogas.

Foram bloqueadas contas bancárias e bens de alvos integrantes de grupos criminosos e cumpridos 39 mandados de busca e apreensão, 39 bloqueios de contas bancárias, sequestro de bens, como automóveis e imóveis, além de dois mandados de prisão preventiva.

Segundo a Polícia, os mandados foram cumpridos nas cidades de Canindé, São Benedito, Juazeiro do Norte, Eusébio e Iguatu. Também são alvos das buscas empresas que supostamente foram usadas para a dissimulação das movimentações financeiras ilícitas. (Via: Diário do Nordeste)

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