Com os recentes casos de intoxicação pelos drinques batizados com metanol, a advogada Andreia Mara Vicente realizou um emocionante relato de como ficou cega após ingerir a bebida quando tinha apenas 21 anos. Em entrevista à repórter Júlia Cople, do jornal O Globo, a sobrevivente relatou como foi o seu processo de recuperação após ser intoxicada pelo composto químico.
Andreia revelou que estava de férias após passar para o quarto ano da faculdade de Direito, quando decidiu sair com três amigas para celebrar o fim de ano em um barzinho em Santo André, no ABC paulista. O que antiga estudante não esperava, era que seriam vítimas de intoxicação por metanol e acabaria cega.
"Todas pedimos a mesma bebida, um drinque de vodca com água de coco. Tomei um, e o outro virou na mesa. Não sei se foi um anjinho que derrubou. Talvez, se eu tomasse esse segundo, não desse tempo de me socorrer. Nunca fui de beber, era muito fraca. Parei por ali, enquanto minhas amigas passaram a tomar cerveja. Quando fui embora do bar, estava tudo bem. Estava dando risada, porque a dose me deixou abestalhada. Era um sábado à noite. Dormi. No domingo, não acordei como de costume. Lembro de ouvir o Faustão na TV. Já eram quatro horas da tarde. Chamei minha mãe e disse que não estava bem. Vomitei muito antes de levantar em definitivo. Eu estava mole, me olhava no espelho e já tinha a visão turva. Achei que era pelo estado alcoólico. Tomei remédio para enjoo e voltei a deitar", relembrou.
Na segunda-feira, após sair com as amigas no final de semana, Andreia pediu para a mãe a levar ao hospital pois não estava conseguindo andar. De primeira, o médico acreditou que se tratava de uma intoxicação alimentar. "Ele me botou para tomar soro. Inquieta, não quis ficar ali. O médico me liberou para seguir me hidratando em casa. Nessa volta, entrei em coma. Foi chegar, deitar e apagar. Minha mãe achou que eu já estava morta", comentou.
Com o estado crítico, Andreia voltou ao hospital para a UTI, sendo entubada e tendo uma parada cardíaca, sendo reanimada pelos profissionais da saúde e ficando cerca de 15 dias na unidade hospitalar. "Quando acordei do coma, não via mais nada. Os médicos diziam para a minha família, em separado, que eu não voltaria a enxergar, a falar, a andar. Mas meu ouvido estava tinindo, era a única coisa que funcionava. Eu ouvia os comentários e me negava a aceitar as informações — não no sentido de entrar em pânico, mas de pensar comigo mesma: 'Não. Eu vou ficar bem, vai dar tudo certo'", acrescentou.
"O meu objetivo era seguir, do jeito que fosse: cega, sem andar. O prognóstico, naquele momento, era terrível. No início, fiquei sem andar e sem falar, mas isso eu até recuperei de forma rápida, com fisioterapia e fonoaudiologia", destacou.
Andreia não desistiu da faculdade e conseguiu se formar no curso escolhido. "De lá para cá, mostro para as pessoas que a vida segue. Elas veem que eu não me deixei abalar, não joguei a toalha. Cada um tem as suas dificuldades, e a minha é visual. Aprendi a lidar, a reagir à forma como o outro olha para mim. O preconceito é bastante difícil, mas não entro em embates. Tento mostrar que é bobagem ter preconceito com as minhas atitudes, com a competência na carreira, com o meu modo de viver", refletiu.