Na
primeira disputa eleitoral após a proibição de doações de empresas a partidos e
candidatos, o dinheiro anda escasso. A um mês da votação, 51% dos 16.349
políticos que disputam as 5.568 prefeituras do País não arrecadaram nem um
centavo sequer. Entraram nas contas dos demais, somados, R$ 248 milhões, o que
representa uma queda de 46% em relação ao que ocorreu em 2012, quando se
comparam períodos equivalentes das campanhas.
Além dos 8.269 candidatos que
declararam ter receita zero até a sexta-feira, outros 3.901 (24% do total)
registraram arrecadação inferior a R$ 10 mil. A redução das verbas, além do fim
do financiamento empresarial, está relacionada ao fato de as campanhas terem
ficado mais curtas. Há menos tempo para arrecadar – e, em tese, os custos também
diminuirão.
A escassez de recursos se
traduz em menor impacto visual. Com raras exceções, nas ruas há menos
bandeiras, cartazes e santinhos. O PT, maior beneficiário de doações de
empresas até recentemente, agora orienta seus candidatos a driblar a falta de
recursos com a produção de propaganda para internet e programas de TV usando
telefone celular, cartolina, pincel atômico e placas de isopor.
Mudança: Na falta das empresas, os
próprios políticos passaram a ser a principal fonte de financiamento das campanhas.
Segundo levantamento do Estadão Dados, um em cada três candidatos a prefeito ou
vice teve de abrir o bolso para pagar suas despesas. Os recursos próprios somam
R$ 106 milhões, o equivalente a 43% do total arrecadado.
A preponderância das autodoações
é uma novidade: há quatro anos, essa modalidade respondeu por apenas 19% das
verbas que circularam pelas campanhas. Na categoria dos autofinanciadores há
uma enorme disparidade de riquezas: 51% do total de recursos próprios foi
desembolsado por apenas 8% dos candidatos.
No topo do ranking está o
empresário Vittorio Medioli (PHS), o segundo candidato mais rico do Brasil, que
já gastou do próprio bolso R$ 1,5 milhão com o objetivo de administrar Betim, a
segunda cidade mais rica de Minas, depois de Belo Horizonte. Medioli, que não
respondeu às tentativas de contato feitas pela reportagem, declarou à Justiça
Eleitoral ter patrimônio de R$ 352,5 milhões.
Dono do quinto maior patrimônio
do País, o tucano João Doria, que concorre à Prefeitura de São Paulo, já gastou
R$ 834 mil em recursos próprios. Isso o coloca na quinta posição entre os mais
generosos com as próprias campanhas. Assim como os recursos próprios, o
dinheiro público também ganhou mais peso neste ano. Verbas do Fundo Partidário,
que têm origem no Orçamento da União, respondem por 28% de tudo o que entrou
nas contas dos candidatos desde o dia 16 de agosto, data em que eles foram
autorizados a começar a coleta de recursos.
Na campanha de 2012, os
partidos também faziam contribuições significativas, mas a origem do dinheiro
era majoritariamente privada. Empresas doavam para as legendas e estas
repassavam os recursos aos candidatos – assim, com o uso de intermediários, as
prestações de contas não mostravam as conexões entre financiadores e
financiados. Eram as chamadas doações ocultas.
Por fim, as contribuições das
pessoas físicas empataram com as dos partidos nas últimas duas semanas,
chegando também a 28% do total. Mas a esperada democratização do financiamento
eleitoral, com a pulverização das doações, ainda é um objetivo distante: apenas
19.428 eleitores fizeram contribuições até a semana passada – na média, pouco
mais de um doador por candidato a prefeito.
Para comparar a atual campanha
municipal com a anterior, o Estadão Dados capturou na internet e tabulou os
dados das prestações de contas de todos os candidatos a prefeito em 2012 e
2016. Como as campanhas tiveram duração diferente, foram levadas em conta as
doações feitas no primeiro terço de cada uma (30 e 15 dias, respectivamente). (Via: Estadão)
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