Em processo de elaboração, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do
ensino médio não terá separação de habilidades por disciplinas, mas em áreas de
conhecimento. O documento vai estabelecer as competências e habilidades nas
áreas de Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Linguagens e Matemática,
segundo a secretária-executiva do Ministério da Educação (MEC), Maria Helena
Guimarães de Castro. As escolas é que definirão como vão trabalhar em cada
disciplina.
A base curricular do ensino médio vem sendo produzida por técnicos do
MEC, e deve ser encaminhada ao Conselho Nacional da Educação (CNE) em novembro.
O documento definirá o que deve ser ensinado no currículo comum a todos os
estudantes, em uma carga horária de 1,8 mil horas para os três anos da etapa.
"Vamos seguir a mesma estrutura da BNCC (do ensino fundamental), em
competências e habilidades, porque a base das duas etapas deve ser uma só, e
estar conceitualmente bem alinhada. Só que, no ensino médio, as áreas serão
entendidas como áreas, não como disciplinas. As escolas é que decidirão como
trabalhar essas competências dentro de cada disciplina", disse Maria
Helena.
Apesar de separada em quatro grandes áreas do conhecimento, a base do
ensino fundamental (do 1º ao 9º ano) é subdividida em disciplinas, e define o
que é esperado que o aluno aprenda em cada série e em cada matéria. Já no
ensino médio, segundo Maria Helena, o formato será diferente.
"[Nas áreas] estarão encadeadas as habilidades que se referem a
determinados conteúdos e podem ser trabalhadas livremente. Elas podem ser
trabalhadas, por exemplo, em História, Filosofia, Sociologia ou Geografia. Não
importa, quem vai organizar e definir vão ser as escolas. O mais importante da
flexibilização é garantir liberdade para esses arranjos curriculares",
disse a secretária executiva.
Membro do CNE e presidente da Comissão de Elaboração da BNCC, Cesar
Callegari disse esperar que o documento apresentado pelo MEC não fique restrito
apenas ao núcleo comum, mas também defina os direitos e objetivos de
aprendizagem para os cinco itinerários optativos. "É um erro gravíssimo
deixar a base confinada apenas às 1,8 mil horas do currículo comum. Sem ter uma
base para a área diversificada, não se tem parâmetros para os processos de
avaliação, escolha de materiais didáticos, como orientar a formação de
professores", disse.
Para Callegari, trabalhar a base por áreas de conhecimento pode ser
positivo para induzir que os conteúdos sejam trabalhados de forma mais
interdisciplinar. "Trabalhar por áreas representa uma possibilidade de produzir
uma educação mais significativa para os estudantes", disse.
Itinerários: Aprovada em
fevereiro, a reforma do ensino médio dá ao aluno a opção de escolher entre
diferentes itinerários formativos. Na lei, são previstas cinco áreas:
Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas, e educação
técnica e profissional Esses percursos devem preencher 40% da carga horária de
três anos. O conteúdo dos itinerários será definido por cada Estado e pelo
Distrito Federal, segundo o MEC.
Na opinião
do professor Luiz Carlos de Menezes, do Instituto de Física da USP, o principal
desafio do MEC será garantir que a base curricular dialogue com todos os
percursos opcionais. Menezes, que ajudou a elaborar a segunda versão da BNCC no
ano passado, espera que a regulamentação da reforma evite desigualdades entre
as áreas.
"É
preciso ter clareza de que a base precisa ser alicerce para tudo, inclusive
para a educação profissional." Menezes afirma que a base curricular pode
ter menos conteúdos em relação ao currículo atual, que tem 13 disciplinas
obrigatórias e é considerado engessado por especialistas. "Talvez seja
possível não eliminar conhecimentos ou competências, mas condensá-los para que
não sejam tão detalhados. Essa é uma hipótese, que eu não estou propondo mas
poderia ser estudada."
A divisão em
áreas do conhecimento é um caminho para motivar o aluno do ensino médio,
segundo a presidente do conselho do Instituto Península, que trabalha com
educação e esporte, Ana Maria Diniz. Para ela, o formato pode estimular escolas
a trabalharem com oficinas e projetos multidisciplinares, o que costuma fazer
com que o aluno veja mais relação entre a aula e a realidade.
"A nova
educação está muito mais ligada a projetos interdisciplinares e, fazendo esse
currículo por áreas, você pode explorar mais os interesses do aluno", ela
diz. Apesar de ser favorável à ideia, Ana Maria aponta que a formação do
professor para esse modelo será um desafio. "É preciso professor bem
preparado para isso e disposto a trabalhar nessa interdisciplinariedade com
outros professores, e ser preparado para isso, o que hoje não existe." (Via: Agência Brasil)
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