Veio
à luz uma nova carta atribuída a Lula. Nela, o presidiário petista
revela-se desnorteado: “Fico pensando, todos os dias: por que tanto ódio contra
o PT?'' Prestes a entrar para a história como principal cabo eleitoral de
Bolsonaro, Lula escreve como se não tivesse nada a ver com o que chama de
“aventura fascista”. Ainda não se deu conta de que nada, no seu caso, tornou-se
uma palavra que ultrapassa tudo.
Lula acha que fez muito bem ao país e à sua
gente. “Tenho consciência de que fizemos o melhor para o Brasil e para o nosso
povo.” Ainda não enxergou no espelho um culpado pelo antipetismo que impulsiona
Bolsonaro. Lula avalia que o fato de ter sido tão extraordinário “contrariou
interesses poderosos dentro e fora do país.” Os contrariados “tentam destruir
nossa imagem, reescrever a história, apagar a memória do povo”, queixou-se.
Para o missivista de Curitiba, o impeachment
de Dilma foi culpa do alheio. “Juntaram todas as forças da imprensa, com a Rede
Globo à frente, e de setores parciais do Judiciário, para associar o PT à
corrupção. Foram horas e horas no Jornal Nacional e em todos os noticiários da
Globo tentando dizer que a corrupção na Petrobras e no país teria sido
inventada por nós.” Não ocorreu a Lula a hipótese de o PT ter sido associado à
corrupção pelo excesso de roubo.
Condenado em primeiro e segunda instância,
Lula já teve pedidos de liberdade negados pelo STJ e também pelo STF. Pesquisa
do Datafolha constatou que 59% dos brasileiros acham que o pajé
do PT deve permanecer preso —51% na tranca da Polícia Federal, 8% em prisão
domiciliar. Mas o DataLula, movido por autocritérios, chegou conclusões
diferentes: “Todos sabem que fui condenado injustamente, num processo
arbitrário e sem provas, porque seria eleito presidente do Brasil no primeiro
turno.”
Lula precisa encontrar o sósia que transformou
o antipetismo numa força política imbatível na temporada eleitoral de 2018.
Está entendido que alguém muito parecido com o líder máximo do PT plantou nos
seus dois mandatos as raízes do mensalão e do petrolão. É evidente que um sósia
de Lula privatizou a Petrobras, entregando-a ao conluio que reuniu burocratas
políticos e empreiteiros numa pilhagem jamais vista.
Não há dúvida: um impostor vendeu Dilma ao
eleitorado como supergerente impecável. É óbvio que o embusteiro, fazendo-se passar
por Lula, aceitou que empreiteiras financiassem com verbas sujas seus pequenos
confortos — o tríplex na praia, a reforma no sítio.
A tese da existência de um sósia de Lula é,
por ora, a mais confortável para o petismo. A alternativa seria admitir que
tudo o que está na cara não passa de uma conspiração da lei das probabilidades
contra um inocente. Um inocente que, tendo se convertido injustamente em cabo
eleitoral de Bolsonaro, lava as mãos. E tenta sumir com o sabonete.
“Por que tanto ódio contra o PT?”, pergunta
Lula aos seus botões, que não respondem, pois desenvolveram uma ojeriza por
petistas. “Se há divergências entre nós, vamos enfrentá-las por meio do debate,
do argumento, do voto”, sugere o presidiário, recusando-se a ver os detalhes:
as divergências que elevaram a rejeição ao PT já não comportam a partícula
“se”. Elas existem e são profundas. Hospedeiro da revolta, Bolsonaro dá de
ombros para o debate. Ainda assim, um pedaço do eleitorado se dispõe a votar
nele.
Ora, a exemplo de Haddad, o capitão chegou ao
segundo round pelo voto. E as pesquisas indicam que é pelas urnas
que a “aventura fascista” pode ser alçada ao Planalto no domingo. Se quiser,
Lula pode continuar tentado ajustar os fatos à sua filosofia de para-choque de
caminhão. Mas o melhor seria localizar rapidamente o sósia que deixou o PT sem
para-choque e sem nexo. Cartas escritas com o propósito de fazer a plateia de
boba já não encontram material. (Por Josias de Souza)
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