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terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Cachoeira cheia, a volta da esperança – do turismo e do desenvolvimento

Há muito tempo não tínhamos a nossa cachoeira. A culpa é de Sobradinho que a retém em forma de água virgem. Ela fica por lá estagnada como uma donzela preservada, recatada e preciosa, liberada em pequenos goles suficientes para gerar energia elétrica no complexo de Paulo Afonso. Água jogada cachoeira abaixo são recursos e riqueza desperdiçados em um Brasil carente de desenvolvimento. A água retida em Sobradinho significa dinheiro vivo, coisa inevitável do capitalismo.

Ainda assim, resta a esperança. Gostaríamos de ter de volta o fluxo turístico que já tivemos. Turismo é indústria sem chaminé, sem insumos finitos consumidos e sem poluição. O rio e o complexo hidrelétrico da Chesf continuam a ser potencialmente a nossa maior riqueza. Temos os nossos royalties e o Estado da Bahia o seu ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

Com o Raso da Catarina, a saga do cangaço e o canyon do rio até Xingó, estaríamos bem situados em termos de turismo. Atrativos suplementares são a igreja inundada de Petrolândia, ali pertinho, a Serra do Umbuzeiro e o artesanato local (redes e toalhas das rendeiras do Nordeste). Com a adição da cultura do bode, das vaquejadas sem maus tratos aos animais, das quadrilhas de São João, do xaxado, forró, arrasta-pé e a potencial saga dos jumentos. O Nordeste é realmente um encanto – para quem sabe ver.

Entretanto, como fazer o turista enxergar tudo isso e se convencer que vale a pena nos visitar? Poderíamos pongar no bonde do Ministério da Infraestrutura e conseguir a concessão de uma linha férrea de pouco mais de 30 quilômetros Piranhas/Paulo Afonso. Os turistas vêm até Piranhas. Poderíamos coagi-los a subir até Paulo Afonso – de trem. Pelo que temos visto em outros países e pelo que temos pesquisado, apostamos no sucesso.

O que fazer para voltar a despertar nos turistas brasileiros (alguns estrangeiros) o encanto do Alto Vale do São Francisco considerando que temos o que apresentar como nos esforçamos até agora para demonstrar?

O dilúvio em Minas Gerais e no sul da Bahia nos devolveu momentaneamente a nossa cachoeira. Em breve restará novamente somente o leito seco. Poderia ser o caso de, com toda a tecnologia avançada de que dispomos, podermos reproduzir a cachoeira em um telão [gigante] às margens do precipício onde ela, agora novamente cheia, queda-se majestosa. Imagens e estrondos adequados rememorariam a antiga majestade.

A ideia é de uma pantomima programada para grupos de turistas devidamente assessorados por guias de turismo para isto preparados. Testemunhei algo um pouco semelhante em Dallas, no Texas. No prédio de onde John Kennedy supostamente foi alvejado (um antigo depósito de livros), filmes ou tapes da tragédia. Centenas de turistas, alguns deles às lágrimas, comovidos revivem o acontecimento.

Os americanos, que não são bobos, faturam – em dólares! Certamente só teríamos a ganhar com medidas originais que nos proporcionassem faturar com o turismo.

Indo além, e apostando na colaboração da Chesf, que consideramos parceira e que deve, cremos, primar pela boa relação com o berço da produção de energia elétrica no Nordeste que somos nós; avançando no nosso raciocínio, por que não, em visitas coletivas de turistas programadas, abrir por alguns minutos umas das comportas e realimentar a cachoeira – para turista ver? Quase com certeza, o lucro [para a região] compensaria o custo. Assim falamos com a convicção que a companhia crê prudente um bom tipo de relacionamento com a Paulo Afonso descendente de pioneiros que a construíram com compromisso, suor e fé – alguns com sangue! Uns poucos, trôpegos e realizados, dever cumprido estampado na fronte e a alma leve; uns poucos ainda vivos! (Por Francisco Nery Júnior)

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