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terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Tecnologia “Reuso de Águas Cinza” muda a vida de famílias no meio rural do Pajeú e transforma o acesso hídrico

Já imaginou poder reutilizar a água do banho, das pias e tanques domésticos para irrigar plantas forrageiras e árvores frutíferas? Organizações sociais e instituições de pesquisa que atuam com a população do campo, têm pensado e experimentado o reuso de água há anos e, como resultado, o projeto “Terra de Vidas” vem transformando essa possibilidade em realidade. 

Através do trabalho do Centro Sabiá, diversos municípios do Pajeú estão recebendo os sistemas RAC/SAF (Reuso de Águas Cinza/ Sistema Agroflorestal), que aliam a filtragem adequada da água usada à irrigação da área destinada às plantações de árvores frutíferas e outras plantas para alimentação dos animais. Também faz parte do trabalho da ONG a assistência técnica para manejo ideal das agroflorestas. O coordenador do Sabiá, Alexandre Pires, fez uma série de visitas por municípios do Pajeú para verificar o andamento do projeto, percepções dos beneficiados e possíveis melhorias: “Me chama a atenção como as tecnologias sociais, que têm baixo custo e alto impacto socioambiental, transformam a vida das pessoas. Um exemplo muito conhecido são as cisternas. Mas a tecnologia de reuso de água contribui muito para a ampliação da produção de forragem para os animais, o que gera maior resiliência na criação de animais pelas famílias no semiárido”.

Um dos primeiros municípios visitados foi Triunfo, onde foram ouvidas as comunidades de Oiticica, que conta com 13 sistemas, e Águas Claras, que conta com 16 sistemas. Depois foi a vez dos municípios de Itapetim, que conta com 10 sistemas, Calumbi e por fim Flores, que contam respectivamente com 13 e 10 sistemas de reuso de águas cinza e sistema agroflorestal. Com os sistemas as famílias filtram a água “cinza” do banho ou lavagens de pia e tanque e conseguem reutilizar essa água, que fica armazenada em um tanque, nos períodos de estiagem. “O RAC/SAF contribui para ampliar a segurança hídrica das propriedades rurais no Semiárido. Isso é fundamental, quando a maioria das comunidades relata que o desafio do trabalho é a disponibilidade de água”.

Alexandre ouviu de agricultoras como Francisca Ferraz, da comunidade de Cajazeiras, Calumbi, o quanto o projeto foi modificador da realidade em que estão inseridos: na agrofloresta da família a palma cresce junto com árvores frutíferas como manga e seriguela. “De tão abandonado que o terreno estava às pessoas diziam que não era possível plantar nada. Mas ao misturar as plantas fui aproveitando as folhas pra forrar a terra e fui plantando. Hoje todo mundo passa e diz que eu fiz um milagre, mas foi à orientação do pessoal do Sabiá que fez eu ter essa realidade”, afirma a agricultora.

Já em Oiticica, Triunfo, o sistema do agricultor Antônio Lucena tem agrofloresta em bom desenvolvimento e variedades avançadas de palma, aroeira, goiabeira, mandacaru, feijão guandu, limoeiro e sabiá, entre outras; enquanto no sistema do agricultor Josias Pereira enfrenta o desafio de desenvolver-se em um terreno íngreme. “Esses desafios mostram oportunidades de melhorias nos sistemas e a apropriação por parte das famílias de tecnologias que cumprem o papel de saneamento rural e ao mesmo tempo garantem a recuperação dos solos, da biodiversidade e da produção de alimentos saudáveis”, destaca Alexandre.

Por fim, na comunidade de Gameleira, em Itapetim, o sistema da Família Pereira possui uma grande variedade de plantas: Ipê, pau brasil, eucalipto, ciriguela, barriguda, mangueira, coqueiro, graviola, castanha da índia, açafroa, craibeira, gandu, azeitona, pitanga, pinheira, leucena, cajá, manga, pitaia, algodão e até macieira, entre outras. “E a gente ainda quer plantar mais”, afirma Dona Ivone com um sorriso de orgulho no rosto. Na visita o grupo visitou a área onde será desenvolvido o projeto de recuperação de nascentes, beneficiando a nascente do Rio Pajeú, outro projeto que o Centro Sabiá é parceiro da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, responsável direta pela implementação.

Mais Projetos

Além da assessoria técnica, sistemas RAC/SAF, bancos de sementes crioulas, cisternas e até recuperação de nascentes, entre outros projetos pela região do Pajeú, o Centro Sabiá também promoveu diversas doações durante a pandemia em todas as regiões de Pernambuco: cerca de 280 toneladas de alimentos advindos da agricultura familiar, além de itens de higiene como sabão e álcool e mais de 17.000 máscaras de proteção. Um total de 7.415 lares beneficiados, 32.844 pessoas protegidas, 11 municípios atendidos.

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