Se o rastreamento para
identificar a origem de ofensas e notícias falsas durante as eleições deste ano
já promete ser difícil em plataformas como Twitter e Facebook, ele deverá ser
especialmente complicado no WhatsApp, onde as mensagens são protegidas por
criptografia.
Com a garantia de privacidade, o aplicativo se torna uma caixa-preta,
avaliam analistas.
“Uma conduta maliciosa no Facebook a gente sabe de onde veio, a gente
consegue identificar a fonte. No WhatsApp, não — a informação trafega muito mais
impune”, diz o professor da USP Pablo Ortellado, que pesquisa o tema.
Pela lei eleitoral, quem contratar pessoas para emitir mensagens na
internet ofendendo um candidato ou partido pode ser condenado a até quatro anos
de prisão e pagar multa de até R$ 50 mil.
Apesar de não ter acesso ao conteúdo, o WhatsApp consegue visualizar
metadados e padrões no envio. Com isso, é possível detectar se um mesmo número
mandou centenas ou milhares de mensagens com o mesmo tamanho em um curto
período. Também monitora se há muitos telefones bloqueando uma determinada
conta.
Segundo o Datafolha, 63% dos eleitores brasileiros têm conta no WhatsApp,
e 21% compartilham notícias sobre política brasileira e eleições no
aplicativo.
O TSE — que montou uma força-tarefa com órgãos públicos e entidades para
tentar manter um ambiente saudável nas redes durante as eleições — propôs ao
WhatsApp uma espécie de colaboração para o caso de problemas, segundo um
ex-funcionário da corte ouvido pela Folha.
A ideia seria que o aplicativo desse prioridade ao atendimento de demandas
da Justiça Eleitoral, por exemplo quando for preciso descobrir a origem de
notícias falsas.
Representantes de outras redes sociais e grupos de tecnologia também
participam das reuniões na corte.
Oficialmente, o TSE diz que não houve essa negociação com as empresas, mas
que elas “falaram tanto de possibilidades para aumentar a colaboração com a
Justiça Eleitoral, quanto de eventuais soluções técnicas para problemas como o
uso de robôs na disseminação das informações e a necessidade de diminuir o spam
em conversas”.
Empresas que fazem disparo de mensagens, porém, têm ferramentas que ajudam
a burlar os mecanismos de defesa do aplicativo. Elas hoje atendem
principalmente empresas, mas começam a oferecer serviços para campanhas.
Com as chamadas “fazendas de celular”, essas agências colocam vários
aparelhos conectados a computadores para disparar torpedos — tomando o cuidado
de dosar a quantidade de mensagens enviada a partir de cada usuário. (Via: Folhapress)
Blog: O Povo com a Notícia
