O empresário Thiago Brennand, acusado de estupro, teve uma conversa gravada por uma das vítimas em setembro de 2021. "Eu fiz à força e com raiva, não fiz?", Brennand perguntou à mulher. "Fez", respondeu a vítima.
"E você dizendo 'não, não', eu fiz com raiva. Beleza. Tá certo. Eu assumo", acrescentou.
Brennand é réu em diversos processos por estupro e agressão. Ele está preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, em São Paulo e aguarda a sentença sobre este caso.
A confissão
K., uma produtora pernambucana radicada nos EUA, conheceu Brennand através das redes sociais em julho de 2021. No mês seguinte, ela viajou a São Paulo, com passagens compradas pelo empresário, para encontrá-lo pessoalmente pela primeira vez.
Eles ficaram na mansão dele em Porto Feliz (SP). Depois, ela viajou ao Recife, onde passou a gravar as conversas telefônicas com Brennand. Durante o papo ele admite que a agrediu e afirma que usou a força para fazer sexo anal com ela, enquanto ela dizia "não". Ele dá a entender que, como não a ameaçou com uma arma, ela teria consentido.
Brennand - Na hora que você disse "não", eu te ameacei e disse que ia te quebrar?
K. - Não.
Brennand - Outra coisa, por exemplo, eu botei uma arma na sua cabeça?
K. - Não.
Brennand - Pois é, mas eu fiz à força e com raiva, não fiz?
K. - Fez.
Brennand - E você dizendo "não, não", eu fiz com raiva. Beleza. Tá certo. Eu assumo.
De acordo com o artigo 213 do Código Penal, estupro é "constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso".
No início do diálogo, o empresário levou a conversa em tom tranquilo, respondendo às perguntas dela.
K. - Posso falar uma coisa de verdade para você, do fundo do meu coração, e que você não fique bravo?
Brennand - Pode.
K. - Você promete nunca mais bater em mim?
Brennand - Prometo. Dou minha palavra. Dou minha palavra. Na frente de quem quiser aí.
K. - Não, não quero que ninguém fique sabendo que você bateu em mim.
Brennand - Mas eu quero. Eu faço questão. Não quero sair daí [Recife] com a coisa suja, não. Quero conversar com quem fez o BO quero dizer o que houve. Quero "come clean" [esclarecer].
Depois, ele insistiu dizendo que ela estava "confundindo as bolas" entre o que seria só "dor no sexo anal" e "sexo não consensual".
Brennand - Você há de convir, por exemplo, eu faria em algum momento da minha vida sexo não consensual, com uma mulher?
K. - Acho que não, mas... o que nós fizemos lá, aquele dia, eu pedi várias vezes para parar porque eu não estava aguentando de dor, lembra disso, depois que você me bateu?
Brennand - Você está confundindo as bolas. Uma coisa é você estar com dor no sexo anal, outra coisa é uma pessoa estar fazendo sexo não consensual. Presta atenção no que você diz, porque é perigoso o que você diz.
Dias depois, ele passou a ser agressivo, xingando-a de "vagabunda", "puta" e "psicopata".
Brennand - Você teve um episódio na minha casa. Tudo bem que eu fod* com você pesado, tá? Tudo bem que quando você me afrontou, me chamou de mentiroso, eu te dei um tapa. Tudo bem, cara. Eu poderia me desculpar a vida inteira por aquilo ali, tá certo. Mas, não, você se mantém lá e me agride pelas costas [referindo-se ao fato de denunciá-lo].
Ele também ameaçou expô-la:
Brennand - Eu tenho o sexo todo gravado. Você quer ser desmoralizada em público?
Brennand a convenceu de ir à delegacia para desmentir um boletim de ocorrência aberto pelo irmão dela. Ela desmentiu, depois voltou atrás, mas o caso acabou arquivado à época.
Depois de agredir uma mulher na academia Bodytech do Shopping Iguatemi, em São Paulo, em agosto de 2022, várias acusações surgiram contra Brennand. O Ministério Público decidiu então reabrir o caso de K., com novas provas.
O processo
K. contou ao Ministério Público que o empresário a estuprou diversas vezes e a prendeu por dias na casa dele em Porto Feliz. Ele também teria lhe obrigado a tatuar sua marca "TFV" (Thiago Fernandes Vieira) na altura da costela.
Segundo relatou nos processos, certa noite, K. conseguiu telefonar escondida para pedir ajuda a um de seus irmãos, que mora no Recife. No dia seguinte ele fez um boletim de ocorrência, narrando à polícia a situação de cárcere privado de K.
A polícia de São Paulo foi avisada e foi até a mansão, mas Brennand e K. já tinham saído de lá. Um PM amigo de Brennand levou K. ao aeroporto e comprou uma passagem para ela ao Recife.
Enquanto esteve lá, K. teria sido pressionada para desmentir as denúncias - orientada por Brennand, ela procurou a polícia e assinou um termo dizendo que seu irmão interpretou errado a história de Porto Feliz.
Brennand fretou um jato e foi para o Recife. Herdeiro de uma das famílias mais ricas de Pernambuco, ele não gostou de ter sido citado num boletim de ocorrência.
Brennand - Eu, se fosse você, procurava ver logo de agora onde você abriu sua matraca, sua puta, sobre mim. E procuraria logo "shut down" [desligar] agora. Porque eu tô de um jeito, cara...
Brennand - Eu, se fosse você... Em respeito a seu irmão que eu conheci, eu vou ligar para ele e [dizer] olha, presta atenção na sua irmã, porque eu já recebi essa do segurança logo dela. Se eu receber a segunda, a terceira, ela só vai estar segura dentro dos Estados Unidos e olhe lá.
K. - Você está me ameaçando?
Brennand - Eu estou lhe garantindo. Eu estou lhe dizendo, você tenha certeza que você não sabe onde está entrando.
No mês seguinte, ela voltou para a Flórida, onde morava e onde está até hoje.
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