O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, fez uma análise sobre as revoluções industriais que marcaram a história da humanidade, com ênfase na transformação digital e nos desafios trazidos pela inteligência artificial (IA).
Durante sua participação no XVII Congresso Brasileiro de Direito do Estado, nesta sexta-feira (23), em Salvador, Barroso destacou a importância das mudanças tecnológicas e o impacto dessas transformações na vida social, nas relações humanas e no campo jurídico.
Barroso iniciou sua fala destacando a segunda revolução industrial, ocorrida no final do século XIX e início do XX, e focada na eletricidade e no motor de combustão interna. Em seguida, ele passou para a terceira revolução, ainda em curso, que ele chama de revolução tecnológica ou digital — marcada pela transição da tecnologia analógica para a digital, com o advento dos computadores pessoais, smartphones e a internet, que conecta bilhões de pessoas pelo mundo.
“A tecnologia mudou profundamente nossa vida cotidiana, a forma como viajamos, pesquisamos, nos comunicamos. Palavras como Google, Facebook, Instagram, TikTok, WhatsApp, Netflix, e tantas outras, tornaram-se parte do nosso vocabulário e da nossa rotina”, afirmou o ministro, listando também ferramentas modernas como Spotify, Waze, Dropbox, Skype e Telegram, que revolucionaram os hábitos das pessoas.
Na sequência, Barroso falou sobre o que ele considera a quarta revolução industrial, centrada na inteligência artificial. “Estamos diante de uma revolução que vai muito além da digital, com a biotecnologia, a engenharia genética, a nanotecnologia, a internet das coisas e a chamada internet dos sentidos — que permitirá sentir cheiro e tato via computador”, explicou.
O ministro destacou a dificuldade que o direito enfrenta para acompanhar a velocidade dessas transformações tecnológicas.
“O direito geralmente chega depois para organizar e regular aquilo que já está avançando, e estamos em um momento em que precisamos definir como lidar com a inteligência artificial e seu impacto na vida social”, disse.
Sobre a IA, Barroso explicou que, apesar de suas capacidades cognitivas e de tomada de decisão, ela ainda não tem consciência, emoções ou discernimento moral. “Ela faz o que os programas humanos determinam. É uma ferramenta potente, mas sem consciência própria”, afirmou.
Em tom descontraído, o ministro trouxe exemplos para ilustrar a nova realidade tecnológica. “Semana passada, num evento nos Estados Unidos, vi um carro autônomo, sem motorista, estacionar sozinho. É uma sensação estranha para quem está acostumado com o volante”, comentou.
Ele também lembrou sua visita a um centro de IA no Japão, onde robôs interagem e auxiliam pessoas com deficiência e crianças. E fez uma previsão surpreendente sobre o futuro das relações humanas:
“As pessoas já desenvolvem relações afetivas com máquinas e, em breve, haverá casamentos entre pessoas e robôs — que conseguirão ser exatamente como a pessoa gostaria que fossem, algo que nenhum casamento tradicional consegue realizar.”
Barroso finalizou ressaltando que, diante dessas mudanças, a sociedade passa por um processo de transformação das relações humanas, trazendo novos desafios jurídicos, sociais e éticos que precisam ser discutidos e regulamentados.
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