A reconstituição da morte do policial civil em Cabrobó, Sertão pernambucano, apontou de maneira preliminar que pode não ter acontecido troca de tiros entre a vítima e os dez policiais militares envolvidos na ação. Os PM's se recusaram a participar da reconstituição realizada na noite de segunda-feira (30).
Segundo a Polícia Civil, os policiais foram até a Ilha de Assunção para atender a um chamado da ex-companheira do policial aposentado que disse a polícia que ele estava tentando invadir a casa armado.
De acordo com o delegado de Cabrobó, Alex de Sá Matias, antes da reconstituição, eles prestaram depoimento durante as mais de seis horas. “As contradições são latentes. Nos depoimentos eles procuraram generalizar, não falavam em primeira pessoa. E quando eram questionados sobre as ações de cada indivíduo ficavam ainda mais evidente as contradições”, relatou.
Sobre a versão dos policiais que firmaram que houve troca de tiros, o delegado disse que, de acordo com análises preliminares da perícia, foram encontradas algumas cápsulas dentro do carro do comissário, o que anularia a possibilidade de troca de tiros. “As cápsulas foram dentro do carro dele. É impossível que ele tenha atirado de dentro do carro e elas tenham caído dentro do veículo”, afirmou Alex salientando a possibilidade das cápsulas terem sido colocadas no veículo.
Além disso, os policiais disseram em depoimento que o vidro de um das viaturas foi quebrado durante uma das trocas de tiros, mas como ele foi destruído, não há como comprovar essa tese. “Primeiro que durante uma perseguição a um suspeito armado, os vidros da viatura não poderiam estar levantados. Não é prático ficar abrindo e fechando o vidro para atirar no suspeito. Esse não é o procedimento normal”, explicou.
Ainda segundo o delegado que participou da reconstituição, a arma do policial foi encontrada no local onde os PM disseram que a vítima foi socorrida ainda com vida, mas os três carregadores estavam dentro do carro, o que impediria que ele recarregasse a arma durante o percurso informado pelos PM's.
Sobre o momento da morte do policial aposentado, o delegado Alex também destacou que de acordo com local do tiro, na região do pescoço na veia carótida, é difícil que o disparo tenha sido acidental. “Inclusive em nenhum momento os policiais alegaram que o tiro foi acidental”.
Caso fique comprovado que a vítima não teve chance de defesa, o delegado disse que os policiais podem ser enquadrados por homicídio duplamente qualificado, quando a vítima estava impossibilitada de defesa. Sobre a possibilidade de alteração da cena do crime, eles também podem ser indiciados por fraude processual e dano ao patrimônio público, pela possível quebra o vidro da viatura.
O G1 entrou em contato com o 2º Comando Independente de Polícia Militar em Cabrobó. No entanto, a corporação informou que só vai se pronunciar ao final do inquérito.
O laudo oficial do perito ficará pronto dia 7 de julho e depois disso, o caso ficará a cargo de um novo delegado que ainda será designado. (G1)
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