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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Em Serrita, tradição e fé se encontram durante a 44ª Missa do Vaqueiro

Este ano, vaqueiros de todas as partes do Brasil se reunirão em Serrita, município do Sertão pernambucano, a 535 km do Recife, entre os dias 24 e 27 de julho para celebrar a tradicional Missa do Vaqueiro, o maior evento cultural dos Sertões. A 44ª edição da festa, conhecida por mesclar o tradicional e o profano, deve receber um público de aproximadamente 70 mil pessoas. Como de costume, os visitantes poderão conferir inúmeras atrações nos dias que antecedem a missa em homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó. Entre elas, vaquejadas, pegas de boi, exposição de artesanatos e shows de artistas regionais e locais, como Gabriel Diniz, Josildo Sá, Quinteto Violado, Dorgival Dantas, Sela Rasgada e Coral Aboios.

A Missa do Vaqueiro, realizada anualmente sempre no quarto domingo do mês de julho, tem em suas origens uma história que foi consagrada na voz de Luiz Gonzaga: a de Raimundo Jacó, um vaqueiro habilidoso na arte de aboiar. Reza a lenda que seu canto atraía o gado. Mas atraía também a inveja de seus colegas de profissão, fato atribuído a sua morte. O fiel companheiro do vaqueiro na aboiada, um cachorro, velou o corpo do dono dia e noite, até morrer de fome e sede.

A história de coragem se transformou num mito do Sertão e três anos após o trágico fim, sua vida foi imortalizada pelo canto de Luiz Gonzaga. O Rei do Baião, que era primo de Jacó, transformou "A Morte do Vaqueiro" numa das mais conhecidas e emocionantes canções brasileiras, num hino de louvor para os vaqueiros nordestinos. Mas Gonzaga queria mais. Dessa forma, ele se juntou a João Câncio dos Santos - padre que ao ver a pobreza e as injustiças cometidas contra os sertanejos passou a pregar a palavra de Deus vestido de gibão - para fazer do caso de Jacó o mote para o ofício do vaqueiro e para a celebração da coragem.

Assim, em 1970, o Sítio Lajes, em Serrita, onde o corpo de Jacó foi encontrado, recebe a primeira Missa do Vaqueiro. De acordo com a tradição, o início da celebração é dado com uma procissão de mil vaqueiros a cavalo, que levam, em honras a Raimundo Jacó, oferendas - como chapéu de couro, chicotes e berrantes - ao altar de pedra rústica em formato de ferradura. A missa, uma verdadeira romaria de renovação da fé, acontece sempre ao ar livre e se assemelha bastante aos rituais católicos, porém contando com toques especiais que caracterizam o evento: no lugar da hóstia, os vaqueiros comungam com farinha de mandioca, rapadura e queijo, todos montados a cavalo. Este ano, a Missa será celebrada por Dom Magnus Henrique Lopes, bispo de Salgueiro.

Outra tradição iniciada em 1974 e mantida até hoje são a das músicas que embalam a Missa. As nove canções, conhecidas como "Rezas de Sol", foram compostas por Janduhy Finizola, um doutor amigo de Luiz Gonzaga, a pedido do próprio Rei do Baião e seguem a estrutura dos ritos da igreja, tendo sempre como protagonistas o vaqueiro e a religião. Três das nove músicas ainda chegaram a ser gravadas por Gonzaga.

De acordo com Helena Câncio, atual coordenadora do evento e viúva de João Câncio - o padre deixou a batina para poder se casar com ela -, a ideia do evento é justamente essa: manter viva a tradição, a história e a fé dos vaqueiros. "Não fazemos o evento apenas pela festa. O sentido da Missa é mais profundo, mais poético. É a celebração da vida e do trabalho do vaqueiro", afirma. Nesse sentido, Helena vem buscando formas de documentar o evento. Ano passado, por exemplo, houve o lançamento do CD "Rezas de Sol para a Missa do Vaqueiro", que reúne as músicas temas da celebração, e do livro "Missa do Vaqueiro - 40 anos", que retrata a história e a tradição da festa. "Se tudo der certo, o nosso próximo passo será a gravação de um DVD sobre a Missa. A ideia já está começando a ganhar forma. Pretendemos iniciar os preparativos ainda este ano", explica.

Mas, mesmo com toda a força da tradição, esta edição da Missa do Vaqueiro tem um sentido novo e especial. Esta é a primeira vez que a Missa será realizada após a regulamentação da profissão do vaqueiro. A lei, aprovada em 25 de setembro de 2013, é sem dúvida um motivo a mais para celebrar e um divisor de águas na história dos que dedicam a vida ao ofício. Além de já ser um marco no calendário cultural do Sertão, é importante ressaltar também os benefícios do evento para a economia e o turismo da região, pois, o número de visitantes que chegam para acompanhar a festa é o suficiente para lotar todas as hospedagem da cidade e dos municípios vizinhos, como Salgueiro, Exu, Parnamirim e Morelândia, e movimentar o fluxo do comércio local. "A Missa, sem dúvidas, atinge de forma positiva toda a região", diz Helena. 

Consciente desse significado, a coordenadora já levou ao Governo do Estado, que patrocina a Missa através da Secretaria de Turismo e da Empetur, a ideia de desenvolver a infraestrutura da cidade - começando pela reforma da Praça Estadual João Câncio, onde a Missa é celebrada - e da criação de uma rota turística. "A ideia seria traçar um itinerário que passasse por cidades importantes do centro do Sertão para a história dos vaqueiros. Essa seria uma boa forma de apresentar mais sobre essa cultura, muitas vezes não valorizada, ao Nordeste e ao Brasil", afirma.

A Missa do Vaqueiro é promovida pela Fundação Padre João Câncio, em parceria com a prefeitura de Serrita e a Associação dos Vaqueiros de Pega de Boi na Caatinga do Alto Sertão de Pernambuco (Apega).

Muita música boa na 44ª edição da Missa do Vaqueiro - À frente da coordenação musical da celebração da missa (dia 27), o músico Josildo Sá prepara surpresas especiais para o ato religioso. "Nunca falta motivação e emoção. Para mim, é uma grande honra presenciar este momento de espiritualidade e luta", diz. Para fazer bonito, Josildo escolheu um repertório caprichado para o seu show. Entre as músicas, canções que homenageiam Luiz Gonzaga e que retratam com fidelidade a vida e a luta dos sertanejos. Além disso, nesta edição o forrozeiro contará com participações bem especiais no palco da Missa. Uma delas é a do Quinteto Violado, que após anos de afastamento retorna a Serrita para novas apresentações (eles também fazem show no sábado, 26) e ainda sobem ao altar o cantor Flávio Leandro e o Coral Aboios.

De acordo com Helena Câncio, na hora de formar a grade de atrações do evento, sempre são levadas em consideração as preferências dos vaqueiros, os grandes protagonistas da festa. Então, nesta edição já estão com presença confirmada o cantor Gabriel Diniz, que está estourado em todo o Nordeste, o forrozeiro e poeta Dorgival Dantas e a banda Sela Rasgada, sucesso entre os frequentadores de vaquejadas da região.

Programação - 44ª Missa do Vaqueiro

24 de julho, quinta-feira (Vila Ipueira)

Trios de forró pé de serra


25 de julho, sexta-feira

Dorgival Dantas
Flávio Leandro
Caninana
Joquinha Gonzaga
Kinho Callou
Bueno Novais
Manoel do Exu


26 de julho, sábado

Coral Aboios
Quinteto Violado
Gabriel Diniz
Sela Rasgada
Fábio e Nando
Danilo Pernambucano
Banda Thempus do Forró

27 de julho, domingo

Josildo Sá com part. do Quinteto Violado, Flávio Leandro, Pedro Bandeira e Coral Aboios
Ronaldo Aboiador
Fernando Aboiador
Pedro Bandeira (repentista)
Chico Justino e Cícero Mendes
Celebração da Missa do Vaqueiro presidida pelo Bispo Dom Magnus

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