Um campo minado ou areias
movediças, escolha sua metáfora para o cenário escolhido por Michel Temer para
aterrissar os brasileiros depois que sua equipe sobrevoou por sete dias as
ruínas herdadas de Dilma Rousseff. Um pouso forçado num Brasil com aparência de
sumidouro talvez seja a descrição mais adequada para o que está acontecendo.
Na
segunda semana do seu governo provisório, Temer apresentará o resultado do
inventário preparado por sua equipe. Juntará casos de barbeiragem
administrativa, irregularidades e insinuações de sabotagem para pintar um
quadro caótico. Depois de diagnosticar todas as culpas ao governo de Dilma,
Temer dirá que, para que o país saia do caos, será necessário aumentar a dose
do purgante.
Nesta
sexta-feira, os ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Romero Jucá
(Planejamento) prepararam o pouso. Saímos de uma meta de superávit de R$ 24
bilhões para 2016, que Dilma já havia pedido ao Congresso que convertesse num
buraco de R$ 96,7 bilhões. E chegamos numa cratera que, depois de estimar em
até R$ 200 bilhões, a turma de Temer fechou em R$ 170,5 bilhões — um buracaço.
Jucá
criticou o vaivém que marcou a gestão Dilma, conhecida por divulgar metas que
não se cumpriam. “A postura deste governo será diferente”, disse o novo titular
do Planejamento. “A meta fiscal não é novela para ser feita em capítulos. Vamos
trabalhar para fazer com que os números ganhem confiança. A visão deste governo
é diferente do outro exatamente porque não estamos escamoteando a verdade.”
Meirelles
ecoou Jucá. A meta “é transparente e realista”, disse. “A mensagem fundamental é
essa. É uma meta realista e estimada dentro de critérios rigorosos —o mais
próximo possível do estimado hoje pelo mercado. Ela é feita com parâmetros realistas
e próximos a parâmetros de mercado”, acrescentou Meirelles, antes de enumerar
os imprevistos que podem conspurcar o realismo da nova meta.
Nas
palavras de Meirelles, os novos cálculos incluem itens com “margem grande de
incerteza”. Ele citou, “por exemplo, a questão da regularização de capitais do
exterior. Existem determinadas provisões sobre o que será arrecadado com isso.
Existe a renegociação da dívida dos Estados, o pagamento de passivos e
despesas. Existe uma série de previsões que estão consolidadas nessa meta.”
Quer
dizer: os economistas do novo governo tomam as decisões que precisam tomar,
apertam os botões que têm que ser apertados e depois são obrigados a esperar
para ver como reagirão esses seres terríveis e imprevisíveis que são as pessoas.
Quantos
brasileiros se animarão a repatriar o dinheiro de sonegação escondido em contas
abertas no estrangeiro? Os governadores de Estados endividados vão cooperar?
São tantas as variáveis que condicionam o resultado da equação que a economia
fica parecendo uma forma de bruxaria.
De
certo mesmo, por ora, só os 11 milhões de desempregados, o PIB de 2016
apontando para nova queda nos arredores dos 4%, a inflação renitente e a
perspectiva de mais sacrifícios. Alguém precisa pensar nas mães e nos pais que sobreviverem
ao pouso forçado no sumidouro. Eles têm cada vez menos exemplos para dar aos
filhos. “Não minta, meu filho, não minta. Olha que você acaba trabalhando no
Palácio do Planalto.” (Via: Josias de Souza)
Blog: O Povo com a Notícia