Uma das prioridades do governo de
Michel Temer deveria ser a restauração de uma noção mínima de coisa pública no
Brasil. Mas a presença de um apadrinhado de Renan Calheiros no comando do
ministério incumbido de combater a corrupção tonifica a impressão de que o
governo não é capaz de saciar a fome de limpeza que está no ar.
As
gravações em que o ministro Fabiano Silveira aparece orientando Renan sobre
como driblar a Lava Jato ofereceram a Temer a oportunidade de corrigir um erro.
Mas o presidente interino preferiu manter no cargo o auxiliar que ele jamais deveria
ter nomeado. É como se Temer planejasse sua própria imolação.
Apresentaram-se
várias alegações para justificar a sobrevivência de Fabiano na Esplanada. Mas o
único motivo que realmente pesou só foi balbuciado longe dos refletores, em voz
baixa: a exemplo do que sucedia com Dilma Rousseff, Temer não tem condições políticas
de desagradar Renan.
Temer
não percebera. Mas Fabiano, o afilhado do presidente do Senado, já havia se
tornado um ex-ministro na véspera. Faltava apenas um ato que formalizasse o
afastamento. A desmoralização de Temer cresceria na proporção direta da demora
do presidente interino em mandar publicar no Diário Oficial a exoneração. Para
sorte de Temer, os fatos demitiriam o ministro.
Ao
indicar para líder do governo na Câmara o triplo-réu André Moura, um miliciano
de Eduardo Cunha, Temer revelou-se um presidente pequeno, bem menor do que a
crise que o assedia. Ao dobrar os joelhos diante de Renan Calheiros, Temer
escancarou sua ‘renandependência’.
Diz-se
no Planalto que a aliança com Renan, hoje o principal parceiro do governo no
Congresso, ajudará a condenar Dilma no processo de impeachment. Resta saber o
que dirá o asfalto quando decidir se pronunciar.
– Atualização feita às 20h15 desta segunda-feira (30):
no início da noite, sentindo o chão fugir-lhe dos pés, o ministro Fabiano
Silveira enviou carta de demissão ao Palácio do Planalto. Envolto numa
rebelião dos servidores da pasta que deveria comandar, o preposto de Renan
Calheiros foi demitido pelos fatos, não pelo presidente. (Via: Josias de Souza)
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