Como
transformar a mais profunda recessão econômica da história do país em
crescimento, em um curto intervalo de tempo, recuperando a confiança e os
investimentos? E combinar tudo isso à redução da inflação e ao resgate
indispensável da saúde financeira do governo? Parece missão impossível, mas é
isso que está por trás das análises otimistas que muitos economistas e
investidores desenham para um governo Michel Temer, caso o vice seja alçado à
Presidência nesta semana.
No cenário superpositivo, em que Temer anunciaria iniciativas
"em semanas" ou "dias", segundo disseram economistas e
gestores de investimento, o crescimento no ano que vem poderia alcançar até 2%,
após uma queda acumulada do PIB de 8% em 2015 e 2016. Na pesquisa Focus, feita
semanalmente pelo Banco Central, há otimistas com incríveis 3,3% de previsão de
crescimento em 2017. Para chegar até lá, porém, Temer e sua equipe terão de
enfrentar problemas que podem desviar o caminho ou alterar o ritmo da marcha.
"Não é só sentar na cadeira que o crescimento vai acontecer", afirma
Armando Castelar, economista da FGV. "A recuperação será proporcional ao
que for feito".
No receituário dos economistas, as iniciativas imediatas do
eventual presidente devem ter como alvo uma saída para o déficit das contas
públicas - que tem tirado o sono dos que fazem contas e preveem uma espiral de
alta para a dívida do governo. "Mas, se não crescer, não haverá ajuste
fiscal possível", Tiago Berriel, professor da PUC-Rio e economista da
gestora Pacífico.
Se confirmado presidente, Temer terá de lidar com quatro
desafios incontornáveis, dos quais o ajuste das contas públicas será apenas o
primeiro a se enfileirar. O mais visível e politicamente sensível é o aumento
da taxa de desemprego. Para os economistas, vai piorar até o fim do ano por
inércia, seja quem for o presidente. Dos atuais 10,9%, a taxa poderia escalar a
13%. "O mercado de trabalho funciona a partir das expectativas de
empregados e empregadores e vai depender do ambiente que o governo Temer criar",
diz o especialista João Sabóia, da UFRJ.
"Já se percebe que ele está tendo dificuldades em montar
seu governo, dificilmente recuperará a economia rapidamente e sem crescimento
não há emprego".
FUNDO DO POÇO: O desemprego mina uma retomada por meio do consumo e do crédito.
Sobram, portanto, os investimentos como único meio para resgatar o PIB do fundo
do poço - ponto que, com sorte, deve ser alcançado no segundo semestre. Segundo
cálculos de Castelar, o investimento terá encolhido cerca de 30% no triênio
encerrado em 2016. "As concessões são algo que ninguém é contra e é uma
boa oportunidade de negócios, há muitos investidores que gostariam de tocar a
infraestrutura do país", diz.
Berriel observa, porém, que serão embutidos prêmios de risco
mais elevados -o que se traduz em pedágios ou tarifas mais caros- devido a
distorções criadas no governo Dilma Rousseff, como mudanças de regras e
interferências nos negócios. Esses riscos não se desfazem sem ações na direção oposta.
"Temos de fazer o melhor para convencer o setor privado a voltar a
investir".
CONCESSÕES E PRIVATIZAÇÕES: Sem a ajuda do consumo e do crédito, resta acionar o crescimento
por meio dos investimentos. A saída será entregar a tarefa ao setor privado. Para
tanto, será necessário atrair investidores para a empreitada, criando um
ambiente de menos risco e com horizonte de retorno. Solange Srour, da gestora
ARX, afirma que ajustando as contas públicas é possível atrair financiadores
estrangeiros. "As taxas de juros de longo prazo já recuaram neste ano e
podem cair mais", diz. "A animação do mercado gera condições
favoráveis ao crescimento e há muitos recursos por vir".
SUBSÍDIOS: Empréstimos do BNDES, incentivos a setores "eleitos",
como o Simples e o desconto na folha de pagamentos, são passíveis de corte ou
de redução. "O desconto em folha foi um 'trem da alegria' que retirou R$
25 bilhões do Orçamento e sem nenhum efeito positivo", diz Tiago Berriel,
da PUC-Rio e da gestora Pacífico. Com menos recursos, o BNDES deve murchar.
"O Brasil investia 20% do PIB antes de o BNDES crescer e isso não se
alterou depois disso", diz Armando Castelar, da FGV. A receita aqui é
rever distorções que retiram eficiência da economia.
DESEMPREGO: O desemprego está aumentando rapidamente e não há previsão de
reversão neste ano, mesmo com mudança na condução política do país, avalia o
economista João Sabóia, da UFRJ. "A única saída é a economia se
recuperar", afirma. O economista não prevê alteração do quadro até meados
de 2017 ou início de 2018. "Primeiro, os empregadores e empregados têm que
acreditar que a situação no futuro será mais favorável, para em seguida
passarem a contratar", diz. "Não há mágica." É preciso
reencontrar o crescimento.
PREVIDÊNCIA: Colocar as contas do governo nos trilhos é tarefa número 1 para
espantar o risco de insolvência ou calote. E a Previdência -por ser o principal
gasto público- é o primeiro item da revisão. Segundo estimativa do economista
Juan Jensen, da consultoria 4E, a dívida do governo alcançará 80% do PIB e só
mudará a tendência na virada da década. Hoje, a cifra é de 67% do PIB. A
projeção prevê avanço na reforma da Previdência, mas não basta. "É preciso
também fazer um ajuste de curto prazo", diz, referindo-se a aumentos de
tributos, como a Cide e a CPMF. (Via: Folha de S.Paulo)
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