Afastado do mandato e da
presidência da Câmara há 12 dias, Eduardo Cunha revela-se capaz de tudo, menos
de matar o tempo. Ele acorda cedo, veste o terno, espeta broche de deputado na
lapela, e utiliza a estrutura da residência oficial da Câmara para articular o
seu retorno. A mais recente obsessão de Cunha é
submeter a decisão do STF, que o afastou por tempo indeterminado, ao crivo do
plenário da Câmara.
Em
privado, Cunha afirma que os ministros do STF exorbitaram. Não poderiam ter
afastado o presidente de outro Poder. Ele faz uma analogia com o caso de
Delcídio Amaral, que teve o mandato de senador cassado na semana passada.
Pilhado numa gravação tentando comprar o silêncio do delator da Lava Jato
Nestor Cerveró, Delcídio foi preso por ordem do Supremo. Mas a decisão do
tribunal teve de ser referendada pelo plenário do Senado.
Por
orientação de Cunha, três partidos alistados nos pelotões de sua milícia
congressual —PSC, PP e SD — protocolaram no STF, nesta segunda-feira (16), uma
ação escorada na tese segundo a qual medidas judiciais que afetem o exercício
do mandato de um parlamentar devem ser submetidas à deliberação da respectiva
Casa legislativa. Deseja-se obter do Supremo a anuência para levar o caso de
Cunha ao plenário da Câmara.
Dias
atrás, um deputado sugeriu a Cunha que renunciasse à presidência da Câmara em
troca de um acordo para salvar o seu mandato. Com isso, liberaria os deputado
para escolher um novo presidente, livrando-se da interinidade precária de
Waldir Maranhão (PP-MA).
Cunha
respondeu que tinha uma solução mais simples para interromper a presidência
temporária de Maranhão. Bastaria que o plenário da Câmara revogasse o
afastamento determinado pelo STF, devolvendo-lhe a cadeira de presidente.
Quer
dizer: mesmo depois de abalroado pela decisão do Supremo, Eduardo Cunha
continua sendo o mesmo Eduardo Cunha de sempre. Com mais tempo livre, o
personagem promete comparecer nesta quinta-feira ao Conselho de Ética da Câmara,
onde corre o processo que pede a cassação do seu mandato. (Via: Josias de Souza)
Blog: O Povo com a Notícia