Apesar de não haver dados consolidados recentes com perfil etário dos infectados, médicos dizem que tendência é observada em muitos hospitais e regiões do país
Especialistas ouvidos pela CNN indicam que a percepção de grande parte dos médicos que atua diretamente contra a Covid-19 é de que o número de pessoas de faixas etárias mais jovens que precisam de auxílio hospitalar está crescendo. A reportagem é de Murillo Ferrari/CNN.
Essa tendência também seria uma das explicações para a
elevação no número de pacientes nessas faixas etárias que acabam em leitos de
Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
“Fazemos a consolidação dos dados a cada três meses, então só
devemos ter números definitivos em abril”, afirmou à CNN Suzana Lobo,
presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).
Ainda de acordo com a especialista, os intensivistas em
várias regiões do Brasil têm a mesma percepção de que muitos pacientes
internados são mais jovens e que há, também, uma maior gravidade nos casos.
Diminuição na faixa dos 65 anos e maior tempo de UTI
Lobo destacou que uma análise preliminar dos dados mais
recentes do Hospital de Base de São José do Rio Preto, centro de referência
regional no interior de São Paulo onde ela chefia o tratamento intensivo,
indica que, nos primeiros meses de 2021, houve um aumento de casos do novo
coronavírus na faixa etária entre 45 e 64 anos e uma diminuição entre as
pessoas com mais de 65 anos.
“Hoje estamos vendo muito mais pacientes jovens, na faixa de
20 a 30 anos, coisa que não se observava tanto em 2020. Também notamos que,
entre os pacientes internados, aumentou a incidência de casos entre os homens”,
completou.
Essa percepção sobre o rejuvenescimento dos pacientes de
Covid-19 foi destacada recentemente também pelo secretário da Saúde do Estado
de São Paulo, Jean Gorinchteyn, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
“Antes eram idosos e portadores de doenças crônicas, o que
chamamos de comorbidade. Hoje é de 60% mais jovens, na faixa de 30 a 50 anos,
sem doença prévia”, disse Gorinchteyn ao jornal.
“E o tempo que estão ficando na UTI é maior. Tínhamos antes
média de 7 a 10 dias de internação, agora está em 14 a 17 dias de internação no
mínimo em UTI”, completou.
Casos mais graves e novas variantes
Roberto Kalil Filho, professor de cardiologia da Universidade
de São Paulo (USP) e presidente do Conselho Diretor do InCor, em São Paulo,
afirmou que também tem observado, empiricamente, cada vez mais pessoas jovens
contaminadas pela Covid-19 – muitas evoluindo para quadros graves.
“Em agosto de 2020, por exemplo, a média de idade dos
internados no InCor com Covid-19 era de 78 anos. Em fevereiro deste ano, essa
idade caiu para 74 anos. Porém, agora vemos muito mais casos entre jovens”,
afirmou.
Kalil afirmou que essa tendência também já foi observada em
outros países, como o Reino Unido, onde estudos comparando a primeira e a
segunda onda de casos de Covid-19 também observaram maior infecção em pacientes
mais jovens no recrudescimento da doença.
Além dessa tendência de mudança etária das contaminações,
Thaís Guimarães, médica infectologista e presidente da Comissão de Infectologia
do Hospital das Clínicas, destaca ainda o fato de que cada vez mais pessoas
precisam de atendimento médico ao mesmo tempo.
“O que temos visto são pacientes mais graves e que necessitam
de mais ventilação mecânica. E, no caso das novas variantes, como elas são mais
contagiosas fazem mais pessoas adoecerem ao mesmo tempo”, disse.
Ela destacou que isso contribui para o aumento da pressão
sobre o sistema de saúde. “O que precisa ser contabilizado neste momento é o
número de vagas que temos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), porque isso
significa a quantidade de respiradores que temos para atender as pessoas com
insuficiência respiratória”, explicou.
Achatar a curva de casos
Kalil foi direto ao ponto quando questionado sobre o que
precisa ser feito para evitar o colapso dos sistemas de saúde nesse momento
crítico da pandemia no país.
“Ou se toma uma atitude mais radical, ou não sabemos onde se
vai parar. O mês de março deve ser uma tragédia pelas projeções. Estamos em uma
guerra contra o vírus e parece que ele está vencendo várias batalhas”, afirmou.
O médico destacou que a única ferramenta eficaz contra o
vírus são as vacinas, mas que o país ainda não pode contar com o efeito delas
para amenizar a situação porque o número de brasileiros imunizados é muito
baixo. E apelou para que a população faça sua parte e se una para evitar
aglomerações e, assim, frear o avanço da pandemia no país.
Já Suzana Lobo opinou que, com base na experiência de outros
países, é preciso achatar a curva de contágio para evitar o colapso do sistema.
“Para problemas complexos, não há solução simples. Precisamos
diminuir o número de casos para os hospitais darem conta de atender todo
mundo”, indicou.
“Não adianta só restringir a circulação. Precisamos de um
lockdown até acomodar todos os pacientes que já aguardam em filas de
atendimento para, então, ir reabrindo aos poucos. Não vou dizer que o Brasil
todo precisa, mas muitos estados já estão em situação crítica.”
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