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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Seca: Comunidade do Sertão pernambucano espera até cinco meses para receber um carro-pipa

Durante a seca de 1983, o agricultor Geraldo Guimarães, de 70 anos, fazia parte dos grupo de mais de três mil flagelados que invadiram o centro comercial de Ouricuri, em busca de alimentos para alimentar sua família, fato histórico que chocou o mundo civilizado do País e obrigou o governo a criar as famosas “frentes de emergência”, que nada produziam, mas atenuavam a crise econômica e social que assolava o Nordeste e o Sertão pernambucano, de modo particular.

Hoje, aposentado pelo antigo Funrural, Geraldo Guimarães e outras milhares de pessoas assistidas pelo programa que beneficia trabalhadores rurais que nasceram e se criaram o Polígono da Seca, lembra com tristeza que participou dos saques aos armazéns da extinta Companhia de Armazéns Gerais de Pernambuco (Cagepe), em Ouricuri, no Sertão do Araripe.

“Nosso grande problema hoje é bem diferente e mais grave, pois estamos abandonados pelo poder público e o nossa maior dificuldade aqui na comunidade do Saco do Minador é conseguir água para beber e saciar a sede dos poucos animais que criamos”, lamenta o aposentado, que gasta parte do dinheiro do seu benefício para comprar água salobra de um poço para aliviar o sofrimento das oito cabeças de gado que ainda resistem à seca.

O aposentado que mora na comunidade há 45 anos conta que os caminhões-pipas do Exército Brasileiro demoram muito e um carro-pipa particular custa R$ 300, enquanto a água salobra para o gasto e para matar a sede dos animais fica em média por R$ 70. “O carro-pipa do Exército foi pedido no mês de agosto e chegou aqui na semana passada”, conta Gerlane da Silva Costa que reforça as informações sobre as dificuldades que a família vem enfrentando na região do Saco do Minador.

“Aqui não recebemos a visita de um vereador, e muito menos do prefeito Ricardo Ramos, desde as últimas eleições. Durante quase quatro anos as estradas não foram consertadas e faz tempo que não chega um dentista no postinho de Saúde da comunidade”, lamenta o aposentado que não consegue esconder sua decepção com os políticos do município, que a exemplo do atual prefeito, não demonstram ter a mínima preocupação com o bem estar das comunidades rurais assoladas pela seca.

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Choveu em março

Durante a caminhada da equipe do Blog Folha do Sertão no interior de Ouricuri, encontramos um grupo de pessoas que moram a menos de dois quilômetros da comunidade de seu Geraldo Guimarães, onde o drama parece ser bem maior.

Pelo menos 45 famílias da região do Saco do Minador não conseguem esquecer que as últimas chuvas do inverno deste anos de 2023 – que teve uma colheita reduzida de milho e feijão, caíram no mês de março e que o verão chegou muito cedo, contribuindo para  aumentar o sofrimento da maioria das famílias que não contam mais com as reservas do Açude Tamboril, construído pelo Dnocs no final da década de 1950.

Durante os seis meses sem chuva, além de perderem as reservas do açude Tamboril, a comunidade não conta mais com a água quase mineral que era transportada dos poços de Serra Branca, no vizinho município de Ipubi, que não têm a mesma qualidade e a quantidade não é suficiente para atender como no passado.

Ali bem próximo, também localizado na região do Saco do Minador, mora a família do agricultor Gonçalo Gomes da Silva, que ainda não conseguiu aposentadoria. Sua filha Eva Maria da Silva está enfrentando dificuldades para criar sua filha Maria Vitória, de apenas seis meses. “Ela precisa de tomar muitos banhos por dia, por causa do calor que está muito forte”, conta.

A criança está sendo bem criada, goza de boa saúde, mas os adultos enfrentam muitas dificuldades para conseguir água potável. Por incrível que pareça, a comunidade conta com um grande número de cisternas, tem delas que ainda não recebeu água nos últimos seis meses.

Eva conta que as famílias se entendem muito bem e não existe dificuldade para atender a todos na hora de distribuir a água quando o carro-pipa chega, depois de meses de espera. “A gente compra a água por R$ 70 a carrada com menos de cinco mil litros, para o gasto e os animais, fazendo alternância nas cisternas”, conta a dona de casa.

Na comunidade de Lagoa Comprida, que conta com 14 famílias, um poço artesanal construído pela Codevasf há 21 anos, consegue atender as necessidades de todos, com água de sobra para saciar a sede dos animais, que são poucos.

O aposentado Francisco Wilson, 64 anos, engrossa o coro dos que reclamam a demora do carro-pipa para atender o consumo humano, que demora até mais de cinco meses. “Se não fosse o poço, a situação aqui seria muito mais difícil”, conta o aposentado, que também é deficiente físico. (Via: Folha do Sertão)