O ex-deputado Pedro Corrêa
(PP-PE) mostrou, em depoimento, nesta segunda-feira (05), por meio de
videoconferência, ao juiz federal Sérgio Moro, fotos de diversos encontros com
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à época em que o petista era presidente
da República. O ex-parlamentar, cassado no Mensalão e condenado na Lava Jato a
20 anos e 7 meses, afirmou ao magistrado que não é “um desconhecido” de Lula,
assim “como ele afirmou”, em depoimento no processo sobre o triplex no
Condomínio Solaris, no Guarujá.
O ex-parlamentar tem pendente junto ao Supremo Tribunal Federal a
homologação de sua delação premiada. Ele depôs na Justiça Federal como
testemunha de acusação do petista no âmbito de ação penal sobre propinas pagas
pela Odebrecht, no esquema que seria liderado pelo ex-presidente. Os valores
teriam chegado a R$ 75 milhões em oito contratos com a Petrobras e incluíram
terreno de R$ 12,5 milhões supostamente destinado a abrigar a sede do Instituto
Lula e cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo do Campos de R$
504 mil.
Parte da denúncia do Ministério Público Federal se refere ao suposto
comando e conhecimento do petista sobre os esquemas de corrupção na Petrobras,
por meio de indicações à diretoria da estatal.
Em uma outra ação, sobre supostas propinas de R$ 3,7 milhões da OAS para
reforma e ampliação do imóvel do Guarujá, Lula foi interrogado por Moro e disse
que “não sabia” se a indicação de Paulo Roberto Costa à Diretoria de
Abastecimento da Petrobras teria participação de Pedro Corrêa. “Esse cidadão
era pernambucano, eu tive o prazer de conhecê-lo uma vez, em uma reunião no
Palácio do Planalto, para discutir Medidas Provisórias”.
Em depoimento nesta segunda-feira, 5, o ex-parlamentar apresentou
fotografias de diversos encontros com Lula e com a cúpula do então governo do
petista.
“Gostaria inclusive de anexar depois essas fotografias para mostrar no
processo que eu não era um desconhecido do presidente Lula, como ele afirmou
que não tinha nenhuma relação comigo. Eu vivia no Palácio do governo. Porque eu
era presidente do partido e, consequentemente, participava, pelo menos duas
vezes por mês, das reuniões do conselho político”, afirmou.
Pedro Corrêa inclusive apontou os integrantes das reuniões em fotos, por
meio de videoconferência.
“Mas eu quero dizer que eu tenho aqui fotografias da reunião do conselho
político do presidente, de despacho na sala do conselho com o ex-ministro Zé
Dirceu (ex-ministro-chefe da Casa Civil de Lula). Estão aqui Zé Dirceu, Pedro
Corrêa e Roberto Jefferson. Estão aqui Aldo Rebelo, Palocci, Lula, Zé Dirceu,
Roberto Jefferson, Pedro Corrêa, Roberto Freire. Aqui, junto: uma outra
reunião: estão aqui Waldemar Costa Neto, todos que eram presidentes de
partido”, indicou.
“E, aqui, no Palácio do Planalto, também uma reunião com o presidente Lula
e a bancada do meu partido, deputados e senadores, onde estão presentes eu, o
ministro Zé Dirceu, o presidente Lula e o deputado Pedro Henry”, completou.
Durante o depoimento, Pedro Corrêa ainda disse “confirmar” que o Partido Progressista
negociou junto ao governo Lula a nomeação de Paulo Roberto Costa à Diretoria de
Abastecimento da Petrobras
Lula é acusado por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em
contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht. São acusados nesta ação o
empresário Marcelo Odebrecht, por corrupção ativa e lavagem de dinheiro; o
ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Antonio Palocci, e Branislav Kontic, seu
ex-assessor, ambos denunciados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro; e,
ainda, Paulo Melo, Demerval Gusmão, Glaucos da Costamarques e Roberto Teixeira,
por suposta lavagem de dinheiro
Outro
lado: “O ex-deputado Pedro Corrêa, cassado por quebra de decoro parlamentar em
2006, deixou hoje claro ao Juízo da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba ter
refeito anexos de seu depoimento à Força Tarefa do Ministério Público Federal,
visando fechar sua delação premiada, com o objetivo de apenas completar
informações a respeito do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, salientou a
defesa de Lula em nota à imprensa.
“Corrêa depôs ao MPF em 1/9/2016 e foi nesse
momento informado de que estavam faltando elementos para embasar denuncia
contra Lula, ocasião em que disse querer colaborar. A denuncia foi ofertada em
14/9/2016. Até hoje a delação de Corrêa não foi homologada, depois de ter sido
barrada pelo ministro Teori Zavascki em 2016 por falta de provas das alegações
apresentadas.”
Segundo a defesa de Lula, diante da manifesta fragilidade de sua versão
sobre encontros com Lula, Corrêa mostrou fotos – com a presença de Lula – de
reuniões do Conselho Político, que participou como presidente do PP.
“Perguntado pela defesa, ele não teve como deixar de admitir que essas reuniões
eram públicas, com agenda certa e acompanhadas pela imprensa. O ex-presidente
sequer participava desses encontros, fazendo apenas aparições ao final para o
cumprimento aos presentes. Como Corrêa abriu a audiência mostrando essas fotos,
ele se colocou não com a isenção de uma testemunha, mas como pessoa com
interesse na causa, buscando a qualquer custo destravar sua delação”, destacou,
em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins
De acordo com Zanin Martins, a defesa de Lula pediu, no início da sessão,
em atenção ao contraditório, à ampla defesa e à paridade de armas – como
determina a Súmula 14 do STF – que o depoimento de Corrêa fosse remarcado e viu
negado seu pedido. “Foi relembrado que MPF havia assumido, na audiência de
08.05, o compromisso de informar previamente o ‘status’ dos processos de
delação envolvendo pessoas chamadas a depor. E no caso de Corrêa não foi
apresentada qualquer informação, embora o MPF tenha reconhecido a existência de
negociações e de diligências documentadas.”
E continuou: “Ao final da audiência, o Juízo deu ciência às partes de que
o MPF havia juntado ao processo documentos relativos a processos de delação de
executivos do grupo Odebrecht. Com a adesão de outras partes, pedimos então a
redesignação da audiência prevista para a parte da tarde – a partir das 14
horas -, considerando não haver tempo hábil para conhecer os novos elementos,
situação que ofende o contraditório, a ampla defesa e a paridade de armas. O
juízo decidiu manter os depoimentos “por economia processual”, embora tenha
constatado o prejuízo à defesa, tanto é que facultou futuro pedido de nova
oitiva.” (Via: conteúdo Estadão)
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