Enquanto muitos municípios pernambucanos vivem o clima de insegurança, em Solidão, no Sertão do Pajeú, os moradores comemoram uma grande conquista. Entre os 184 municípios do Estado, Solidão é o único que conseguiu atravessar uma década inteira sem sequer um registro de homicídio.
Com cerca de seis mil habitantes, o município é um dos menores do País.
De acordo com a edição 2014 do Mapa da Violência, levantamento que registra e estuda os assassinatos no País desde a década de 1980, nenhuma outra cidade pernambucana, incluindo as sete do mesmo porte de Solidão, duas delas com menos habitantes (Itacuruba e Calumbi), conseguiu passar um período de cinco anos sem a ocorrência de homicídio. Solidão saltou bem mais adiante. Foram 11 anos – de 2000 a 2010 – ou 4.026 dias sem notícia de morte matada na cidade. Sob a ótica das estatísticas criminais, Solidão é quase um milagre.
Para entender o recorde, é preciso também conhecer a história do município que surgiu e cresceu à sombra de uma santa. Abrigada numa gruta ao pé de uma serra desde 1948, a imagem de Nossa Senhora de Lourdes ainda hoje atrai romeiros de todos os Estados do Nordeste, principalmente da Paraíba, replicando testemunhos de fé ao longo do tempo. No início, a história da água milagrosa que minava das pedras da gruta correu a região feito rastilho de pólvora. Chegou até a ser engarrafada e vendida por alguns espertos da época. Com o tempo, a água parou de minar. Mas já era tarde demais. E Solidão já havia se consolidado no imaginário popular como um lugar sagrado.
A delegacia da cidade funciona no primeiro andar de um imóvel localizado próximo ao portal de entrada. Nele, Nossa Senhora de Lourdes dá as boas-vindas e a bênção a quem chega. O escrivão Everaldo dá expediente numa pequena sala, onde exerce mais os predicados de mediador do que propriamente os de policial. “A cidade é pacata. Quando sabemos que há alguma discussão entre marido e mulher ou briga por causa de bebida, chamamos logo para conversar”, conta. (JC).
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