Logo que explodiu a Lava Jato, o
PT criou para si um Brasil alternativo. Um país fictício em que nada
acontecera. Escaldados com o fracasso do discurso de que o mensalão não passara
de caixa dois, dirigentes do partido e Lula propuseram e aceitaram a tese de
que as propinas do petrolão eram doações legais, que o partido não tinha nada a
explicar e que o assunto estava encerrado. Renato Duque, ex-diretor de Serviços
da Petrobras, ameaça implodir essa ficção.
Caciques
do PT e auxiliares petistas de Dilma Rousseff vivem a síndrome do que está por
vir se o juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, homologar o acordo de delação premiada
que Duque alinhavou, ponto por ponto, com procuradores. O que mais inquieta o
petismo é a sensação de que Duque, um delator tardio, terá de se aprofundar nas
podridões para se credenciar às recompensas judiciais. A essa altura, com mais
de duas dezenas de delatores, os investigadores já podem se dar ao privilégio
de dispensar confissões rasas —dessas que uma formiga atravessa com água pelas
canelas.
Desde
que foi levado ao microondas pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto
Costa, como o homem dos “3% para o PT”, Renato Duque fazia o tipo durão. Foi
amolecido pelo sítio das delações alheias e pela prisão longeva —foi em cana no
dia 14 de novembro de 2014. Encanta-se com a possibilidade de ganhar uma
tornozeleira eletrônica e migrar de um xilindró de oito meses e meio para uma
prisão domiciliar. Para que isso ocorra, Duque terá de arrancar o PT da
fantasia do dinheiro sujo lavado na Justiça Eleitoral.
Renato
Duque empregou-se na Petrobras como engenheiro, em 1978. Virou diretor em 2003,
no alvorecer da Era Lula. Os 25 nos de casa não lhe bastaram. Para subir do
escalão gerencial para a diretoria, precisou do velho e bom apadrinhamento
político. Bancou-o José Dirceu, nessa época o todo-poderoso chefe da Casa Civil
de Lula.
Quem
cuidou dos detalhes foi Silvio Pereira, então secretário-geral do PT. O mesmo
Silvinho que, em 2004, ganharia de um fornecedor da Petrobras uma Land Rover.
Pilhado em 2005 na direção do carro-propina, o companheiro virou réu no
processo do mensalão. Num acordo com o Ministério Público, trocou o risco de
condenação por mais de 700 horas de serviços comunitários. Se Lula e o PT
tivessem acordado nessa época, tomando outro rumo, Renato Duque não lhes
tiraria o sono agora. (Via: Josias de Souza)
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