A Câmara dos Deputados pretende
encerrar esta semana os trabalhos da CPI da Petrobras, em meio ao surgimento de
novas denúncias sobre o suposto envolvimento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no
esquema de corrupção na estatal.
Com
prazo final previsto para sexta-feira (23), o relatório que traz as conclusões
das atividades não vai sugerir o indiciamento de ninguém e não trará avanços
significativos às investigações feitas pela Polícia Federal e o Ministério
Público Federal. A previsão é de que o texto comece a ser lido na noite desta
segunda-feira (19) pelo relator, Luiz Sérgio (PT-RJ).
Por ora, apenas um dos quatro
sub-relatores da CPI ainda não concluiu seu relatório. Os textos serão usados
por Luiz Sérgio para formatar o parecer final. De acordo com o deputado, o
texto trará “sugestões de aprimoramento” à estatal. A CPI pode sugerir ao
Ministério Público que indicie personagens que fizeram parte das apurações
feitas pelos deputados. Essa prerrogativa, entretanto, não será usada pelo
relator. “É um processo em que as pessoas já estão condenadas, sentenciadas, é
o inverso das outras CPIs”, justificou o petista.
O
relator é um dos defensores do fim dos trabalhos. “A CPI da Petrobras trouxe o
(Aldemir) Bendine na semana passada, que é o presidente da companhia, mas o quórum
era baixo, o interesse era pequeno. O que grande parte dos parlamentares tem
interesse é numa discussão que vai ser travada no Conselho de Ética”, disse, ao
argumentar que já há um processo contra Cunha no conselho. “Não só o Eduardo
Cunha, mas todos os outros parlamentares citados que se transformarem em réus
aquele fórum vai discutir”
Questionado
se não seria inadequado finalizar a CPI em plena investigação do Ministério
Público, o petista afirmou que não cabe à comissão servir de caixa de ressonância
do que acontece diariamente nas apurações sobre a estatal. “Aí teríamos uma CPI
permanente? Correríamos sempre atrás?”, disse.
Cunha: Dominada
pela oposição e pelo PMDB, a comissão blindou Cunha e focou no PT e no governo
Dilma Rousseff. Nenhum parlamentar citado nas investigações foi alvo de
convocação. O único depoimento do tipo, feito por iniciativa própria, foi o do
presidente da Casa. Em março, Cunha esteve na comissão, recebeu elogios de
colegas da base e da oposição, fez uma série de ataques ao procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, e negou a existência de contas bancárias em seu nome
na Suíça ou outros paraísos fiscais.
Com
o surgimento de evidências de que Cunha usou contas na Suíça alimentadas por
recursos provenientes da Petrobras, aliados do peemedebista agora não fazem
mais esforços para estender a investigação parlamentar.
Procurado
pelo jornal O Estado de S. Paulo, Cunha disse que não faria comentários a
respeito. A interlocutores, no entanto, afirma ser “indiferente” à prorrogação
da CPI. Segundo ele, basta que a comissão vote um requerimento pela manutenção
dos trabalhos e o envie ao plenário ou mesmo que líderes partidários apresentem
um pedido de urgência para que a solicitação seja votada.
Em
quase oito meses de atuação, após duas prorrogações, a CPI conseguiu evoluir
pouco no que já havia sido encontrado por outros órgãos. Um exemplo está no
fato de a maioria dos representantes de empreiteiras envolvidas na Operação
Lava Jato que foram chamados à comissão ter levado autorização da Justiça para
não falar durante as sessões.
A
CPI se envolveu em várias polêmicas, entre elas a contratação da empresa de
espionagem Kroll para investigar delatores da Lava Jato, entre eles o executivo
Júlio Camargo, que fez acusações contra Cunha. Além disso, tentou convocar
advogada Beatriz Catta Preta, que defendia vários desses delatores.
Com
a aproximação do prazo final e sem grandes movimentações para que haja
prorrogação, o presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-RJ), aliado de
Cunha, já encerrou o cronograma de oitivas. A previsão, após a leitura do
relatório, aponta para que o texto seja votado pelo colegiado na quinta-feira.
Motta
afirma que comissão cumpriu seu papel até o momento. “Escutamos cerca de 150
pessoas, fizemos compartilhamento de documentos e quebra de sigilos”, disse.
O
deputado, porém, diz concordar com os argumentos de que seria positiva a
prorrogação das atividades. Apesar de não ter autonomia para prorrogar a CPI
por conta própria, o deputado tenta se distanciar de especulações sobre uma
possível proteção a Cunha com o fim da CPI. “Sou amigo do presidente (Cunha),
mas tem duas semanas que não falo com ele para evitar ilações.” (Via: Estadão/Folha de S.Paulo)
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