Derrotados no STF, os defensores
do financiamento empresarial das eleições buscam argumentos para tentar um
contra-ataque. Estudo feito pela assessoria técnica do DEM colocou uma nesga de
carne no angu: “Dos dez países com menor corrupção pública percebida, apenas
dois proíbem doações de empresas e corporações a partidos políticos”, diz o
texto. “Portanto, entre os dez países com menor nível de corrupção, 80% deles
não proíbem o financiamento privado de campanha.”
O
estudo escora-se num cruzamento de dados extraídos de duas plataformas.
Recolheram-se no IDEA (Institute for Democracy and Electoral
Assistance) informações sobre o financiamento eleitoral no resto do mundo.
Verificou-se que a grande maioria das nações (71,7%) autoriza doações
empresariais.
Depois,
os técnicos do DEM visitaram a base de dados da Transparência Internacional,
que divulga anualmente o Índice de Percepção de Corrupção no mundo. A entidade
avalia o nível de corrupção estatal em 175 países.
Cruzando
as informações, os autores do estudo verificaram que o financiamento
empresarial é permitido em oito dos dez países que lideram o ranking dos que
são percebidos como menos corruptos no mundo: Dinamarca, Nova Zelândia,
Finlândia, Suécia, Noruega, Suíça, Cingapura e Holanda. Nesse rol, apenas
Luxemburgo e Canadá proíbem o repasse de dinheiro privado para os partidos.
“Há
relação empírica entre corrupção e liberdade de doação de empresas para
partidos políticos?”, questiona o estudo, antes de responder: “Tomando os dados
do Índice de Percepção de Corrupção, feito pela Transparência nternacional, e
comparando com a existência ou não de proibição relativa às doações de empresas
para partidos políticos, tem-se que essas variáveis não possuem correlação ou
associação estatisticamente significativa.”
Líder
do DEM, o deputado Mendonça Filho (PE) festeja os achados: “As pessoas estão
tratando o financiamento privado como sinônimo de corrupção. Esses dados
mostram, objetivamente, que pode não ser bem assim. É preciso travar esse
debate com racionalidade.”
Nessa
matéria, qualquer dado objetivo é bem-vindo. Mas, em tempos de mensalões e
petrolão, não é fácil apagar a evidência de que a taxa de corrupção entre os
políticos brasileiros é alta, muito alta, altíssima. Há dois tipos de
problemas: a verba repassada por baixo da mesa e o código de barras gravado na
testa dos candidatos que mordem os empresários com a promessa de compensá-los
com obras públicas depois da eleição.
Quando
o brasileiro já imaginava ter visto tudo, o PT adiciona ao manual da podridão o
capítulo da petrogatunagem: dinheiro de propina sendo lavado na Justiça
Eleitoral como “doação legal” de campanha. Um acinte!
Só
as almas ingênuas acreditam que a proibição do dinheiro privado tornará as
eleições mais limpas. Em vez de fechar o caixa dois, a providência pode
engordá-lo. O que distancia o Brasil das nações vistas como menos corruptas é a
maneira como os maus costumes são tratados.
Noutras
praças, a arrecadação tem limites e a verba ilegal de campanha pode resultar na
interrupção de consagradas carreiras políticas. Num caso clássico, o
ex-chanceler alemão Helmut Kohl foi banido da cena pública depois de ter sido
pilhado com dinheiro sujo em suas arcas de campanha.
O
que diferencia as democracias maduras das nações precárias é o nível de risco a
que estão sujeitos os criminosos. Contra esse pano de fundo, a Lava Jato é uma
boa oportunidade para que o Brasil informe de que matéria-prima é feito. (Via: Josias de Souza)
Blog: O Povo com a Notícia